Mudanças climáticas aumentam temperaturas e desafiam Goiânia

As temperaturas máximas da Capital subiram em uma média de 1,5 a 2 graus por ano, diz ambientalista

Postado em: 10-06-2024 às 06h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Mudanças climáticas aumentam temperaturas e desafiam Goiânia
Capital registrou a maior temperatura, com 39,3ºC, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia | Foto: Divulgação/Cimehgo

Agora, mais do que nunca, é preciso falar sobre meio ambiente e mudanças climáticas, é o que afirmam os especialistas ao falarem sobre as condições climáticas de Goiânia e os problemas ambientais da capital.

O professor e ambientalista, Antônio Pasqualetto, trouxe à tona preocupações sobre as mudanças climáticas e o crescente aumento de temperaturas na capital goiana, apesar de reconhecer a relativa benignidade do clima local em comparação com outras regiões atingidas por tragédias climáticas, mas também alerta para os desafios significativos que Goiânia enfrenta.

“Diante dessas tragédias que estamos percebendo no mundo, devemos agradecer pela nossa condição um pouco mais favorável em Goiânia”, afirma o ambientalista. Ele destacou a topografia menos acentuada da cidade, as precipitações moderadas e uma distribuição equilibrada de chuvas ao longo do ano como fatores que historicamente favoreceram a região.

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No entanto, o professor ressalta que a cidade ainda enfrenta sérios problemas de saneamento básico, incluindo questões relacionadas à água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem urbana, além de desafios de mobilidade que afetam diretamente a qualidade de vida da população.

Outro ponto destacado pelo ambientalista é sobre o aumento das temperaturas em Goiânia ao longo dos anos. “Desde sua fundação em 1933, Goiânia testemunhou um aumento alarmante nas temperaturas”, comenta. Ele apontou para dados históricos que mostram uma diminuição significativa na cobertura arbórea da cidade e um consequente aumento nas chamadas “ilhas de calor”.

“Nós estamos elevando as temperaturas máximas da capital em uma média de 1,5 a 2 graus por ano”, alerta. Ele destacou que a cidade não experimentará os frios intensos do passado, com temperaturas mínimas registradas em 1938 quando a temperatura mínima foi de 1,2,  graus, mas sim uma tendência contínua de calor extremo, com temperaturas acima de 40 graus tornando-se cada vez mais comuns.

Um exemplo disso ocorreu em 2023, quando tivemos temperaturas acima de 41 graus em Goiás, enquanto em novembro do mesmo ano, a Capital registrou a maior temperatura, com 39,3ºC, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Além disso, Pasqualeto enfatizou os impactos diretos dessas mudanças climáticas na saúde pública. “A Organização Mundial da Saúde recomenda uma umidade relativa entre 40% e 70% para condições favoráveis à saúde da população”, disse ele. “No entanto, em 2014, Goiânia registrou uma umidade relativa mínima de 8%, condições semelhantes às de um deserto”, acrescenta.

Dados de um estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás mostraram uma redução significativa na precipitação média anual na cidade, com uma diminuição do número de dias chuvosos e chuvas mais intensas, exacerbando problemas de drenagem urbana e aumentando o risco de inundações.

Para enfrentar esses desafios, Pasqualeto enfatizou a necessidade urgente de repensar o planejamento urbano, incluindo estratégias de adaptação às mudanças climáticas, aumento da arborização urbana e investimentos em infraestrutura de saneamento básico. “Se não investirmos em qualidade no saneamento e no bem-estar social, enfrentaremos custos crescentes na saúde pública e sobrecarga nos hospitais”, alerta.

Com as eleições municipais se aproximando, Pasqualeto instou os gestores a considerarem seriamente essas questões e a implementarem medidas concretas para garantir a sustentabilidade e o bem-estar dos cidadãos de Goiânia frente aos desafios das mudanças climáticas.

Este é um alerta crucial em um momento em que Goiânia, apesar de seu título recente de “Cidade Arborizada do Mundo” pela Organização das Nações Unidas (ONU), enfrenta crescentes ameaças climáticas que exigem ação imediata e colaborativa.

Planejamento Ambiental nas Cidades

Ao falar sobre o planejamento urbano, a arquiteta e urbanista Regina Faria ressaltou a necessidade premente de integrar os problemas ambientais no planejamento urbano desde a fundação das cidades. Além disso, Faria destacou a relevância de considerar questões ambientais no contexto do atual debate sobre o plano climático.

“Os recentes eventos, como a experiência dramática vivenciada no Rio Grande do Sul, servem como um alerta para os brasileiros. Embora já tenhamos testemunhado tragédias em diversas regiões, como na Bahia e no Rio de Janeiro, Porto Alegre trouxe à tona a urgência desse tema”, comenta a especialista.

Assim, os planos urbanos tornam-se importantes meios para a mitigação de problemas ambientais, incluindo medidas para evitar a impermeabilização do solo. “As leis estão aí para evitar a transformação de áreas destinadas à habitação em espaços exclusivamente pavimentados. No entanto, muitas vezes, por comodidade, as pessoas acabam sacrificando as áreas verdes e de absorção de água da chuva”, explica.

Segundo  a arquiteta, tal prática contribui para o aumento da velocidade da água das chuvas, resultando em problemas como o entupimento de sistemas de drenagem e pontos de alagamento, como observado em Goiânia, apesar da abundância de áreas arborizadas e parques na cidade.

“A conscientização sobre a importância do planejamento ambiental nas cidades é essencial para garantir um futuro sustentável e resiliente. Precisamos agir agora para evitar crises ambientais cada vez mais frequentes e graves”, conclui Regina Faria.

Plano Diretor de Arborização de Goiânia

Em uma iniciativa voltada para mitigar os impactos das mudanças climáticas, a gestão municipal lançou o Plano Diretor de Arborização de Goiânia. O objetivo principal deste plano é implantar políticas eficazes de preservação ambiental na cidade.

Armando José Pires, Superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), destaca que o plano oferece uma ferramenta ampla para estabelecer diretrizes e criar políticas relacionadas à arborização urbana, embasadas em ações concretas.

Anteriormente, a exigência de plantio de árvores não era formalmente requerida, e as punições eram pouco claras. O Plano Diretor de Arborização preenche essa lacuna, estabelecendo um padrão para toda a cidade e proporcionando uma base para implementação consistente, segundo o superintendente.

“Demoramos muito para implementá-lo”, admite Pires, destacando os esforços técnicos e operacionais para promover o plantio de árvores na cidade. “Esse Plano Diretor realmente gera uma ferramenta muito importante para que possamos cada vez mais discutir e ter condições de implementar essas políticas”, enfatiza.

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