Segunda-feira, 24 de junho de 2024

Cardiopatias congênitas atingem 1 a cada 100 mil crianças

As cardiopatias congênitas abrangem um amplo espectro de doenças, variando em gravidade, desde condições assintomáticas até aquelas que demandam intervenções cirúrgicas ou cateterismo

Postado em: 15-06-2024 às 03h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Cardiopatias congênitas atingem 1 a cada 100 mil crianças
Durante a gravidez, o coração do bebê pode sofrer alterações que, se não detectadas e tratadas precocemente, podem impactar a qualidade e expectativa de vida do bebê | Foto: Reprodução

As cardiopatias congênitas abrangem um amplo espectro de doenças, variando em gravidade. A explicação é da coordenadora do departamento de Cardiologia Pediátrica da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa. Desde condições assintomáticas até aquelas que demandam intervenções cirúrgicas ou cateterismo, essas anomalias cardíacas têm em comum sua origem durante o desenvolvimento fetal.

Durante a gravidez, o coração do bebê pode sofrer alterações que, se não detectadas e tratadas precocemente, podem impactar significativamente sua qualidade e expectativa de vida, sendo uma das principais causas de morte na infância.

A detecção precoce é possível por meio do ecocardiograma fetal, um exame incorporado ao sistema de saúde desde a sanção de uma lei em junho de 2023, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva. No entanto, sua implementação ainda enfrenta desafios, com limitações de recursos e disponibilidade de profissionais capacitados.

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O diagnóstico pré-natal possibilita o planejamento de tratamentos adequados, oferecendo maior tranquilidade aos pais. Para bebês com cardiopatias graves, algumas são identificadas apenas após o nascimento, podendo ser assintomáticas durante o período neonatal devido à persistência da circulação fetal.

O Teste do Coraçãozinho, introduzido em 2014, tornou-se uma ferramenta vital na triagem neonatal, identificando bebês com possíveis condições críticas, mesmo na ausência de sintomas evidentes. Sintomas como cansaço, dificuldade para mamar e palidez podem indicar a presença de cardiopatias, porém, é importante ressaltar que bebês podem nascer sem sintomas aparentes e ainda assim serem portadores de condições cardíacas graves.

Sousa enfatiza que o ecocardiograma é o padrão ouro para o diagnóstico da grande maioria das cardiopatias congênitas. Este exame de ultrassom, inócuo e sem radiação, é crucial para identificar essas condições desde cedo, permitindo intervenções precoces e tratamento adequado.

“No estado de Goiás, a grande maioria das cardiopatias congênitas é diagnosticada por meio do ecocardiograma, um exame que se tornou o principal aliado dos médicos na detecção precoce dessas condições. É seguro, acessível e desempenha um papel fundamental no planejamento do tratamento”, destaca.

Apoio às famílias

No entanto, a coordenadora ressalta que, muitas vezes, as famílias se sentem desamparadas ao receberem o diagnóstico de cardiopatia congênita. A falta de uma rede de suporte eficiente agrava essa situação. É aqui que a Associação Amigos do Coração, atuante há 15 anos em Goiás, desempenha um papel vital. Composta por familiares de crianças com cardiopatia congênita, a associação oferece uma ampla gama de apoio, desde assistência jurídica até suporte durante internações e amparo para famílias que viajam para tratamento. O compartilhamento de experiências entre os membros da associação tem sido fundamental para o bem-estar dessas famílias.

“É essencial reconhecer o impacto emocional que o diagnóstico de uma cardiopatia congênita tem sobre as famílias. Muitas vezes, elas se sentem perdidas e isoladas. A Associação Amigos do Coração proporciona um ambiente de apoio e compreensão, onde as famílias podem se conectar, compartilhar suas experiências e encontrar conforto mútuo”, explica Sousa.

Além do suporte emocional, a associação também desempenha um papel crucial na advocacia pelos direitos das crianças com cardiopatia congênita e suas famílias. “A equipe da associação trabalha incansavelmente para garantir que essas famílias tenham acesso aos recursos e serviços de que necessitam. Isso inclui assistência jurídica para questões relacionadas à saúde, educação e benefícios sociais”, acrescenta.

Tratamento

Sobre o tratamento,  a cardiologista destaca que é altamente individualizado, variando de acordo com a condição e o diagnóstico de cada paciente. Inicialmente, pode incluir medicamentos administrados oralmente ou por via endovenosa. Em casos mais graves, a cirurgia para correção do defeito cardíaco pode ser necessária, assim como procedimentos paliativos.

Em algumas situações, o cateterismo cardíaco é utilizado como método terapêutico menos invasivo, e em casos complexos, uma abordagem híbrida, combinando cirurgia e cateterismo, pode ser adotada. “O tratamento das cardiopatias congênitas requer uma abordagem multidisciplinar e personalizada. Cada paciente é único, e é crucial adaptar o tratamento às suas necessidades específicas”, destaca Sousa.

O compromisso com o tratamento eficaz e o apoio integral às famílias são pilares essenciais no manejo das cardiopatias congênitas, e iniciativas como a Associação Amigos do Coração desempenham um papel crucial nessa jornada, afirma Sousa.

Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita

A conscientização sobre as cardiopatias congênitas, juntamente com a implementação eficaz de estratégias de detecção precoce, desempenha um papel crucial na garantia da saúde e do bem-estar das crianças desde o início de suas vidas.

O Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita foi celebrado na última quarta-feira (12). Porém, em alusão à data, a SGP celebra neste domingo, 16, uma ação no Vaca Brava voltada para troca de experiência sobre esse problema que afeta um a cada 100 bebês nascidos vivos. De acordo com o Ministério da Saúde,  nascem cerca de 29.800 crianças com essa condição por ano.

Apesar de não haver registros com o número de casos de cardiopatia congênita em Goiás, um estudo publicado na Revista Brasileira de Cardiologia Pediátrica identificou uma prevalência de cardiopatia congênita de 0,57% entre os nascidos vivos, a partir de uma análise de dados de nascimentos em Goiânia entre 2006 e 2015 e. Os dados mostram que a cada 10 mil nascimentos na capital, cerca de 57 crianças nasceram com a condição, naquele período.

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