Média de mulheres pesquisadoras no mundo é de 33%, aponta Unesco

Apesar do número ter aumentado se comparado com 2016, quando a média era de 28%, o número representa falta de equidade

Postado em: 17-06-2024 às 03h00
Por: Thais Cristina Teixeira
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Apesar do número ter aumentado se comparado com 2016, quando a média era de 28%, o número representa falta de equidade. | Foto: FreePik

O dia 11 de fevereiro é marcado pelo Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Essa data foi implementada pela ONU e Unesco em dezembro de 2015 com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da ciência e a igualdade de gênero andarem lado a lado e, assim, consequentemente aumentar o número de mulheres no campo científico. 

Em fevereiro de 2024, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), divulgou um estudo que aponta que em média 33,3% dos pesquisadores em âmbito global são mulheres. Esse número, embora pequeno, representa um aumento se comparado com o relatório publicado em 2016, em que mulheres representavam  28% de pesquisadores em todo o mundo.

A análise divulgada ainda informou que entre todos os estudantes de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), apenas 35% são mulheres e que na maioria dos países, sem levar em conta o nível de desenvolvimento econômico, o número não é suficiente para  alcançar a igualdade de gênero no STEM.

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Outro dado revelado é que as mulheres caracterizam ainda apenas 28% dos estudantes formados em engenharia e 40% dos diplomados em ciência da computação e informática.

Danielle Tega, socióloga e pesquisadora nas áreas de ciências humanas e sociais voltadas, especialmente, para teorias e movimentos feministas e aos estudos de gênero e sexualidades explicou que existem diversos desafios para a produção de ciência no país. “A questão orçamentária para educação ganha destaque, especialmente neste momento de luta das diferentes categorias das universidades federais – técnica, docente e discente”.

A sociologia também enfrenta desafios no cenário neoliberal e conservador. O enfrentamento de ofensivas de setores que tentam descredibilizar a disciplina é um deles. A reforma do Ensino Médio também pode ser citada. “Para um recorte dos últimos anos, temos a Reforma do Ensino Médio como uma das consequências, que retira a obrigatoriedade da disciplina nos três anos dessa etapa de ensino”.

Quanto à porcentagem divulgada pela Unesco, Danielle acredita que as mulheres estão distantes de uma paridade na pesquisa e que esse número precisa ser olhado além da superfície. Ela destacou que valeria a pena saber onde estão essas mulheres, se é no Norte ou Sul, por exemplo. A porcentagem de mulheres negras na ciência, a de indígenas e como interpretar a invisibilidade de pessoas trans e pessoas não binárias deveriam ser levadas em conta nessas pesquisas.

“Existem casos nos quais o aumento do número de mulheres não indica, necessariamente, uma aproximação à paridade de gênero. Além disso, a mesma pesquisa indicou que, quando analisamos as posições profissionais mais altas, a proporção de mulheres diminui.”

Cláudia Valente Cavalcante, pesquisadora em Ciências Humanas, especificamente da Educação, afirmou que apesar do cenário ter melhorado, as mulheres ainda representam 33,3% de todos os pesquisadores do mundo  e apenas 12% delas são membros de academias científicas nacionais, segundo dados da Unesco.“As desigualdades de gênero ainda se reproduzem nas áreas de conhecimento com maior predominância masculina e por isso ainda é um grande desafio”.

Sobre os desafios, Cláudia acrescentou que além da conciliação de diversas funções, e tarefas, o trabalho de pesquisadora possui complexidades assim como todas as outras. “Também esbarramos nos  recursos limitados para a realização das pesquisas que, em grande parte, precisamos concorrer em editais das agências financiadoras. E por fim, citaria as altas demandas da avaliação do sistema da pós-graduação stricto sensu para com os docentes, estudantes e o programa”.

Cláudia explicou que para o ingresso de mulheres no campo da pesquisa é necessário políticas públicas de acesso e permanência de conclusão nos programas de graduação para as mulheres dentro da pesquisa nas universidades.

“O aumento do número de bolsas para as mulheres para terem condições de se dedicarem à pesquisa é primordial, enfim, devemos ter políticas que nos amparem enquanto mães, cuidadoras da família, estudantes em formação na pesquisa e  docentes pesquisadoras”.  

A pesquisadora Marina Aleixo Diniz Rezende atua na área de pesquisa de Enfermagem com foco na Saúde do Idoso, Doenças Crônicas, Saúde Pública e Letramento em Saúde. O maior desafio encontrado por Marina é a falta de financiamento para as pesquisas e para organizar a equipe para a coleta de dados, já que é necessário fazer capacitação da equipe, e planejamento estratégico das atividades.

Para implementar mais mulheres na área da pesquisa, Marina acredita que diversas ações podem ser adotadas, algumas delas já têm sido realizadas, como por exemplo editais exclusivos para financiamento de pesquisas coordenadas por mulheres abordando desde a educação básica até políticas institucionais e culturais.  

Educação e Incentivo desde a Infância

Programas Educacionais Específicos: Desenvolver programas e atividades que incentivem meninas a se interessarem por ciências desde cedo, como clubes de ciências, feiras de tecnologia e workshops. 

Modelos de Referência: Apresentar modelos femininos bem-sucedidos na ciência e na pesquisa pode inspirar as meninas a seguir essas carreiras.

Mentoria e Rede de Apoio

Programas de Mentoria: Implementar programas de mentoria onde pesquisadoras experientes orientem e apoiem jovens pesquisadoras em início de carreira. 

Redes de Apoio: Criar redes e comunidades de apoio para mulheres na pesquisa, facilitando a troca de experiências e a colaboração. 

Políticas de Igualdade nas Instituições

Políticas de Inclusão: Instituições de ensino e pesquisa devem adotar políticas de igualdade de gênero, como metas de contratação de mulheres, igualdade salarial e oportunidades iguais de promoção. 

Ambiente de Trabalho Inclusivo: Garantir um ambiente de trabalho livre de discriminação e assédio, promovendo a inclusão e o respeito

A pesquisadora também acredita que implementar ações de financiamentos e recursos, conscientização e cultura organizacional e Monitoramento e Avaliação são importantes para que mais mulheres sejam que mais mulheres se tornem pesquisadoras

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