Uso de anabolizantes pode aumentar risco de câncer de próstata, diz estudo

Sete a cada dez homens que frequentam academias já usaram anabolizantes pelo menos uma vez em 12 meses, segundo pesquisa da USP

Postado em: 17-06-2024 às 04h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Sete a cada dez homens que frequentam academias já usaram anabolizantes pelo menos uma vez em 12 meses, segundo pesquisa da USP. | Foto: iStock

Estudo desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) mostra que sete a cada dez homens que frequentam academias já usaram anabolizantes pelo menos uma vez em 12 meses. Os dados mostram ainda que a prevalência pelo uso de esteroides – formas sintéticas ou artificiais da testosterona, que são usadas para aumentar o tamanho dos músculos -, é mais prevalente entre homens com maior nível de escolaridade e renda. 

Essas substâncias são usadas por esse público para o ganho rápido de massa muscular no menor tempo possível, uma vez que para alcançar uma determinada definição corporal, é preciso anos de exercícios físicos feitos de forma frequente.

O grande problema é que o uso de anabolizantes, quando feito a longo prazo, pode acarretar em efeitos irreversíveis para a saúde, como alertam os especialistas em urologista. De acordo com os médicos,  um dos danos que o uso prolongado do anabolizante pode causar é o aumento de tumores como câncer na próstata. 

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Isso porque, os anabolizantes, também conhecidos como esteroides anabolizantes androgênicos, são substâncias sintéticas que imitam os efeitos da testosterona, o principal hormônio masculino, segundo o médico urologista, doutor pela USP, Pedro Junqueira. Apesar desse fator positivo, o médico destaca que o uso dessas substâncias representa um risco significativo à saúde, especialmente para o corpo masculino como aumento de tumores pré-existentes, inclusive na próstata.

Outro efeito colateral dos anabolizantes é a redução da produção de testosterona natural, o que leva à disfunção erétil, infertilidade, diminuição do tamanho dos testículos e ginecomastia – condição que afeta os homens provocando o aumento descontrolado das mamas. “Isso sem falar ainda nos danos ao fígado, problemas vasculares, cardíacos ou ainda sintomas mais simples como queda de cabelo e acne em excesso”, acrescenta.

Outro estudo, desta vez feito pela Universidade de Copenhague, mostra que homens que utilizam ou utilizaram esteróides anabolizantes podem ter disfunção testicular por anos, mesmo após terem interrompido o uso da substância há mais de 2 anos. Em alguns casos, a substância levou à infertilidade.

Junqueira acrescenta que os anabolizantes podem ocasionar irritabilidade, explosões de raiva, depressão, ansiedade e até mesmo psicose – transtorno mental caracterizado por uma desconexão da realidade. “Devido a esses efeitos colaterais físicos e psicológicos, o uso de anabolizantes pode ainda prejudicar as relações interpessoais e levar ao isolamento social”, afirma Junqueira, ao alertar que o uso prolongado dessas substâncias pode levar à dependência física e psicológica, dificultando a interrupção do uso da substância.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também fez um levantamento de dados sobre o uso de anabolizantes no Brasil. O resultado é preocupante ao mostrar que 6,5% dos adolescentes frequentadores de academias relataram ter usado anabolizantes pelo menos uma vez na vida.

Segundo a pesquisa, a principal motivação para o uso foi a busca por aumento da massa muscular. O quadro ficou ainda mais preocupante quando o estudo identificou uma associação entre o uso de anabolizantes e outros comportamentos de risco, como o consumo de drogas e álcool, o que é comum para grande parte desse público.

Devido ao cenário de preocupação, o Conselho Federal de Medicina (CFM), em abril do ano passado, proibiu a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, seja para ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo. Na decisão, a entidade informou que a proibição se deu em razão da inexistência de comprovação científica suficiente que sustente o benefício e a segurança do paciente.

Para Junqueira, a decisão é uma forma de proteger a saúde individual e coletiva da população, evitando exposições desnecessárias a riscos que possam comprometer o bem-estar e a vida das pessoas. Porém, a restrição divide opiniões entre os especialistas em relação à finalidade estética deste tipo de drogas. No entanto, há um ponto em consenso: “o uso de anabolizantes deve ser feito apenas sob estrita orientação médica, em casos específicos e com acompanhamento rigoroso”, compartilha o urologista. 

A orientação do especialista é que o indivíduo consulte um profissional de saúde qualificado antes de considerar o uso de qualquer substância para melhorar o desempenho físico. Além disso, adote uma dieta balanceada e pratique exercícios físicos regularmente para alcançar seus objetivos de forma saudável e segura.

Diagnóstico precoce ajuda no tratamento da próstata 

O câncer de próstata é uma doença silenciosa, que em sua grande maioria, não apresenta sintomas nos casos iniciais. Dessa forma, a melhor maneira de prevenir a doença é fazendo o exame de prevenção com frequência. A explicação é do médico oncologista Adriano Augusto. “O homem não tem que esperar ter sintoma algum para fazer o exame de prevenção, para fazer o exame de rotina anualmente”, orienta o especialista.

Por se tratar de uma doença assintomática, os sinais só começam a surgir quando a enfermidade já está numa fase mais avançada e, nesses casos, dificilmente há uma solução clínica para o problema, segundo o especialista. “A doença vai crescendo, vai se agravando, aí ele vai começar a ter dificuldade para urinar, afilamento de jato urinário, perde a pressão, começa a levantar várias vezes à noite, pode ter sangramento urinário, dores ósseas terríveis, emagrecimento e até evoluir para a morte, às vezes sem fazer o diagnóstico”, alerta.

Quando detectado em estágio inicial, o câncer pode ser curado com cirurgia ou com radioterapia. O diagnóstico é feito a partir de exames de prevenção, que consistem na dosagem de PSA, que é um exame de sangue capaz de identificar se há alterações nesta dosagem ou não. “Quando esse PSA está alterado, precisamos saber o porquê disso”. O médico destaca que nem sempre que o PSA está alterado significa que a pessoa esteja com câncer. Por isso, há outro exame que pode identificar a doença, é o exame de toque retal.

Os tratamentos são feitos de forma individualizada, de acordo com o agravamento do câncer e da idade do paciente. Assim, existem casos onde o paciente pode precisar somente de acompanhamento médico, outros precisam passar por cirurgias, serem submetidos a radioterapia ou a tratamento medicamentoso.

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