Festas juninas acendem alerta para riscos de queimaduras nas fogueiras

Hugol atendeu quase 600 vítimas de queimaduras nos cinco primeiros meses de 2024 e crianças representam 25% desses atendimentos em decorrência de acidentes com fogo

Postado em: 19-06-2024 às 06h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Houve um aumento de 30% nos casos de queimaduras atendidos pelo Hugol em 2024 | Foto: Reprodução

As fogueiras e os fogos de artifício são um símbolo das festas juninas que ocorrem em todas as regiões do país, neste mês de junho. Mas apesar da folia e diversão que os festejos desta época do ano promovem, os acidentes envolvendo queimaduras aumentam nesse período.

Dados do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), mostram que somente nos cinco primeiros meses deste ano, a unidade já atendeu 588 pacientes vítimas de queimaduras, desses, 440 são adultos e 148 são crianças, o que representa 25% das ocorrências. No mesmo período de 2023 foram atendidos 451 pacientes vítimas de queimaduras. Quando comparados os dados, observa-se um aumento de 30% nos casos de queimaduras atendidos pelo hospital.

Durante todo o ano passado, foram registrados 1.179 casos de queimaduras, entre adultos e crianças, que chegaram ao Pronto Socorro do Hugol. A média mensal de atendimentos pediátricos por queimaduras fica em torno de 28 pacientes, número que preocupa os profissionais de saúde.

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Dados do Sistema Único de Saúde (SUS), mostram que de janeiro a março de 2024, foram registradas 4.809 internações por queimaduras, com uma média de 52 registros por dia. Em 2023, durante todo o ano, o número chegou a 19.522 internações. No primeiro trimestre deste ano, em âmbito ambulatorial, foram realizados 34.567 atendimentos em decorrência de queimaduras.

O SUS estima que cerca de um milhão de pessoas sofram com queimadura todos os anos  no Brasil, sendo que cerca de 70% desses acidentes ocorrem em ambientes domésticos, ocupando o 4º lugar no ranking de causas de óbito entre crianças do país.

Um dos membros do corpo mais impactado são as mãos, devido ao contato direto com objetos que são usados para acender ou soltar o fogo. Diante disso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), faz um alerta para a população, uma vez que os acidentes com queimaduras são considerados um problema de saúde pública no país.

O presidente da SBCM, Antonio Carlos da Costa, classifica os fogos de artifício com um “perigo extremo para as mãos”, pois em geral, esses acidentes são seguidos de explosões, que ocasionam queimaduras graves, podendo ocorrer casos de amputações.

“Com relação às fogueiras, durante o processo de acendimento, especialmente se estiverem sendo utilizados materiais inflamáveis, como papel, madeira seca ou álcool, podem ocorrer estalos e estilhaços que podem atingir as mãos, causando queimaduras”, alerta o presidente.

As consequências geradas pelas queimaduras são diversas e afetam diretamente a vida dos pacientes em funções rotineiras, podendo, ainda, haver sequelas permanentes, uma vez que é comum ocorrer comprometimento dos movimentos, além de perda da sensibilidade, afirma Costa.

Fabiano Calixto, cirurgião plástico do Hugol, especialista em queimaduras, ao falar sobre os procedimentos a serem tomados  de imediato ao sofrer uma queimadura, envolve primeiramente cessar o fogo lavando a região com água corrente e posteriormente, tomar uma medicação para aliviar a dor.

Nos casos menos graves, deve-se procurar um serviço de saúde para receber o atendimento adequado e para que os primeiros cuidados sejam realizados, como um Centro de Atenção Integrada à Saúde (CAIS) ou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Em casos mais graves, esse paciente pode ser encaminhado para uma unidade de saúde mais especializada, como é o caso do Hugol.

Assim como existem procedimentos que podem amenizar os danos até que a vítima seja atendida, também existem algumas ações que podem ser prejudiciais à saúde. Segundo o cirurgião, não se deve aplicar produtos como manteiga, pasta de dente, babosa, borra de café, pois podem causar infecções graves na região queimada.

Calixto explica que ao dar entrada em uma unidade de saúde, o paciente será avaliado e receberá os primeiros cuidados como hidratação e analgesia. “Em seguida, receberá curativos no local da queimadura, podendo ser realizados procedimentos cirúrgicos, como desbridamento, colocação de enxertos e até rotação de retalhos, dependendo da gravidade e da necessidade do paciente”, explica.

Como curtir as festas juninas em segurança 

O Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBMGO) e assessor de Comunicação da corporação, Luiz Eduardo Lobo, lista alguns cuidados necessários que julga essenciais para evitar acidentes. Assim, segundo o tenente, em primeiro lugar, é preciso manter áreas de risco livres de materiais inflamáveis, usar equipamentos de proteção adequados e seguir rigorosamente as normas de segurança contra incêndios.

Em casos de queimaduras, é crucial resfriar a área afetada com água corrente, cobrir levemente com um tecido limpo e não aplicar nenhum tipo de pomada ou produto caseiro antes da avaliação médica. Além disso, ao sofrer um acidente é importante acionar imediatamente o CBMGO por meio do telefone 193.

Lobo orienta ainda que no local da queimadura, é fundamental não estourar bolhas, não remover roupas grudadas na pele e nunca aplicar gelo diretamente, uma vez que esse tipo de ato pode provocar complicações à lesão.

Como os principais acidentes que ocorrem nesse período são causados por fogueiras e fogos de artifício, como dito no início da reportagem, o tenente coronel orienta que é preciso redobrar a atenção e seguir o cumprimento das normas de segurança específicas para cada situação.

De modo geral, Lobo orienta que os fogos de artifício caseiros precisam ser evitados durante as festas juninas. Além disso, é importante manter uma distância segura das fogueiras e sempre supervisionar crianças próximas a áreas de fogo. O tenente reforça que a prevenção e o respeito às regras de segurança são fundamentais para evitar incidentes graves.

Tipos de queimaduras

As queimaduras são classificadas quanto à profundidade que atingem a pele. Assim, as queimaduras de primeiro grau são caracterizadas pelas lesões que atingem somente a camada epidérmica – parte mais superficial da pele, que fica em contato com o ambiente.

A queimadura de segundo grau ocorre quando há comprometimento da epiderme ou profunda da derme –  camada intermediária da pele, formada por fibras de colágeno, elastina e gel coloidal, que dão tonicidade, elasticidade e equilíbrio à pele, e por grande quantidade de vasos sanguíneos e terminações nervosas. Já a de terceiro grau acomete, além da pele, outros tecidos como o subcutâneo, músculos, tendões e até mesmo os ossos.

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