Faltam vagas em período integral na rede municipal de Aparecida de Goiânia

Das 10 mil vagas oferecidas para crianças no Ensino Fundamental de Aparecida de Goiânia, apenas 250 são para período integral

Postado em: 09-01-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Das 10 mil vagas oferecidas para crianças no Ensino Fundamental de Aparecida de Goiânia, apenas 250 são para período integral

Thiago Costa

O período de matrículas para crianças do Ensino Fundamental do município de Aparecida de Goiânia começou às 8 da manhã da última segunda-feira (7) e a modalidade de período integral foi preenchida já nos primeiros minutos após o início dos cadastros. Pela manhã, a Secretaria de Educação e Cultura do município já registrava uma movimentação de pais e responsáveis que reclamavam não terem conseguido vaga para seus filhos. 

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Alguns, inclusive, alegavam que determinadas unidades sequer apareciam no site ou aplicativo criado pela Secretaria para a formalização do cadastro, que neste ano é 100% digital. Ao todo, são ofertadas 10 mil vagas para a modalidade de ensino fundamental, do 1° ao 9° ano.

A enfermeira Maria Divina, de 32 anos, procura vaga em período integral para um dos filhos, que tem 8 anos, e buscou, inclusive, o auxílio do Conselho Tutelar para garantir a matrícula. Na Secretaria de Educação, a mulher ouviu dos servidores que nada por ela poderia ser feito, já que para a idade do garoto o município tem obrigação de fornecer apenas o ensino em período parcial, não integral como ela pretende.

A profissional da saúde informa que o filho que cursará neste ano a terceira série e não pode ficar em casa sozinho e que, caso ela não consiga a matrícula integral para o garoto, ela não sabe o que fará, pois a criança não pode ficar meio período em casa sozinha e que ela não tem condições financeiras para pagar algum cuidador de crianças, já que o profissional mais barato que encontrou foi pelo valor de R$ 150 e essa quantia, embora seja considerada pequena para muitos, pode complicar a vida de uma mãe solteira com dois filhos para criar.

Maria é divorciada e mora sozinha com os filhos e alega que o ex-marido não a ajuda cuidar dos filhos e que a única opção que ela enxerga no momento é tentar, incansavelmente, pela ajuda do Conselho Tutelar de Aparecida de Goiânia para pleitear a vaga em período integral para o filho. 

Uma mãe que não quis se identificar contou à reportagem que sua filha foi remanejada precocemente para séries avançadas, por conta da sua facilidade de aprendizagem. A mãe da menina busca concretizar a matrícula em período integral da criança na Escola Municipal de Educação Infantil Professora Vinovita Guimarães da Silva e encontra dificuldades quando tenta verificar a informação junto à secretaria. 

A mãe reclama que mesmo com a declaração da diretora da unidade que a filha estudava até então afirmando que a menina é capaz de cursar a série que a mãe deseja, por conta do nível elevado da criança, a prefeitura contrapõe e afirma não ser possível a menina acompanhar o nível dos outros alunos e dificulta, segundo a mãe, o ingresso da criança na escola que é de período integral. 

A mulher que afirmou ter entrado no site informado pela Secretaria de Educação a partir das 05 horas e às 08 horas, quando iniciaram os procedimentos na plataforma on-line, as vagas já estavam totalmente esgotadas. “O que eu estou achando estranho é essa contradição do município em informar que minha filha não está apta a cursar o primeiro ano. Ou eu vou precisar diminuir minha carga horária no trabalho ou eu vou precisar me sujeitar e deixar minha filha com alguém que eu contrate, mas que eu não conheça tão bem como os funcionários da escola, que confio totalmente”, finalizou a mãe que é um dos exemplos encontrados na unidade e que, assim como as várias outras, precisa da vaga para a filha. 

Vagas

De acordo com a secretária de Educação e Cultura, Valéria Pettersen, o resultados das matrículas neste primeiro momento é considerado positivo, pois, de acordo com ela, as duas plataformas disponíveis para as matrículas, que é o site e o aplicativo, não apresentaram falhas. Segundo Valéria, o que aconteceu foi que somente no primeiro minuto, das 08h00 ás 08h01, o site recebeu 1.387 acessos e, como eram ofertadas 250 vagas para o período integral, não precisou mais que 60 segundos para que já não existissem mais vagas para matrículas nessa modalidade. 

Embora exista a falta de vagas para a modalidade integral, que foi o maior fluxo de reclamações na unidade, a secretária ressaltou que neste ano a facilidade para os pais concretizarem o cadastro já começou maior quando comparado com os anos anteriores, e que o aplicativo e o site facilitaram bastante todo o processo, além do 0800 convencional.

Valéria ponderou o empenho do órgão em não deixar nenhum responsável desamparado por questões de tecnologia e que, por isso, montou no auditório da própria unidade uma central com 10 computadores e funcionários em cada das máquinas para auxiliar quem precisasse recorrer à secretaria para a concretização da matrícula pelo site, por entender que existem os responsáveis que encontram dificuldades com o uso das tecnologias existentes. 

Quatro escolas podem receber alunos em período integral no município, mas, de acordo com a secretária de Educação, é impossível que somente nessas unidades seja possível atender toda a demanda que carece a população de Aparecida de Goiânia. 

Problemas de falta de vagas existem há anos  

A dona de casa Cecília Pereira mora em frente a uma das escolas que pais e responsáveis procuravam vagas para seus filhos na manhã da última segunda-feira (7), já no primeiro dia de matriculas para as crianças do ensino fundamental assistidas pelo município. A mulher informou que durante a manhã do mesmo dia que nossa equipe a entrevistou, a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) recebeu uma intensa movimentação de pais em busca de uma vaga para seus filhos, logo após não conseguirem mediante site e aplicativo disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Aparecida de Goiânia. 

Cecília é mãe de um menino que atualmente tem 9 anos. A mãe do garoto narrou que desde os quatro anos do filho, ela tenta a vaga na unidade que é do outro lado do portão da sua residência. A dona de casa foi orientada a retornar quando a criança completasse 6 anos, mas que no ano passado, após anos de tentativas, desistiu e aceitou que o melhor, para evitar desgastes, é manter o garoto na escola de período parcial que conseguiu matricular o filho e que somente é necessário a rematricular o filho.

“Quando ele completou 6 anos, enquanto eu ainda trabalhava, busquei de todas as maneiras colocá-lo aqui na escola que fica de frente a minha casa, mas quando a gente vai lá procurar a Secretaria de Educação no meio do ano, eles mandam voltar em janeiro, mas sempre você tem que ir para a lan-house e sempre da problema que eu nunca consegui a vaga para ele e ele já está com 9 anos”, comenta a mulher. 

Cecília narrou que durante todo esse tempo que o filho poderia ter sido matriculado na unidade que atende em período integral, ela enfrentou dificuldades que poderiam ter sido evitadas. Cecília precisou pedir demissão de uma confecção de roupas que ganhava apenas um salário mínimo, mas que era o suficiente para agregar ao mesmo valor que ganha seu esposo, e que agora já não é mais possível por a mãe ter que cuidar do filho durante a tarde, quando o garoto está em casa e não na unidade de ensino. 

O filho da mulher que agora dedica sua vida a cuidar da casa e dos filhos tem idade para ser inserido no ensino integral pelos próximos dois anos, mas a mãe, cansada de correr atrás e nunca conseguir êxito, desistiu de recorrer à vaga em frente a sua residência. “Esse ano eu nem tentei. Último ano que eu tentei e não consegui foi ano passado. Quando os pais vêem aqui procurar vaga, eles sempre comentam dessa dificuldade, embora a escola seja muito boa e as crianças daqui são muito bem cuidadas e os funcionários trabalham muito bem”, finaliza a dona de casa. 

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