Disfunção erétil pode ser o primeiro sinal da diabetes em homens

A impotência sexual é frequentemente um indicador precoce da doença não diagnosticado, diz especialista

Postado em: 26-06-2024 às 05h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Disfunção erétil pode ser o primeiro sinal da diabetes em homens
Teste de glicemia é feito através de uma gota de sangue, e resultado é imediato | Foto: Arquivo Pessoal

O Diabetes é uma síndrome metabólica decorrente da falta de insulina ou da incapacidade dessa substância exercer adequadamente seus efeitos, caracterizando altas taxas de açúcar no sangue. As causas da doença podem ser múltiplas, assim como os primeiros sintomas.

No entanto, no caso dos homens, um sintoma específico tem chamado a atenção dos especialistas. A disfunção erétil, que pode ser um dos primeiros sinais do diabetes tipo 2, condição que afeta cerca de 20 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Alvário de Matos e Silva, funcionário público de 64 anos, descobriu que tinha diabetes há cerca de 15 anos. A descoberta ocorreu após Alvário começar a sentir problemas na visão. “Começou a falhar, a ter algum probleminha na visão”, relata. Suspeitando que algo estava errado, ele decidiu ir à cidade para fazer um teste de glicemia, que confirmou suas suspeitas. “Eu estava com os índices lá em cima, mais de duzentos, trezentos”, relembra.

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Mas além dos problemas de visão, Alvário também enfrentou disfunção erétil, um sintoma comum em homens com diabetes não controlada. Ele então, consultou um endocrinologista que ajustou sua medicação, incluindo a introdução de insulina, na tentativa de estabilizar sua glicemia e melhorar sua saúde de modo geral.

O médico urologista e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), Pedro Junqueira, afirma que a disfunção erétil, ou impotência sexual, é frequentemente um indicador precoce do diabetes não diagnosticado. 

O especialista explica que o excesso de glicose no sangue pode danificar pequenos vasos sanguíneos e nervos, o que prejudica a circulação sanguínea. Consequentemente, a capacidade de o pênis ficar ou permanecer ereto é afetada. “Estima-se que metade dos homens com diabetes enfrentam dificuldades de ereção, o que torna a doença a principal causa de disfunção sexual nessa população”, afirma.

Junqueira acrescenta que o impacto do diabetes na saúde sexual do homem  se dá pela parte neurológica e também cardiovascular. Assim, o diabetes pode danificar os nervos que regulam o funcionamento de órgãos como o pênis e comprometer a circulação sanguínea, dificultando o bombeamento de sangue necessário para uma ereção adequada.

Segundo o urologista, os tratamentos para a disfunção erétil em diabéticos incluem abordagens medicamentosas e não medicamentosas. “É essencial que esses pacientes tenham suporte terapêutico para lidar com o estresse e a ansiedade, que podem agravar a disfunção erétil. Além disso, existem medicamentos que ajudam a melhorar a duração e rigidez da ereção”, destaca o especialista.

Quanto maior o avanço da idade, maior a prevalência da disfunção erétil, de acordo com o médico, que salienta que os homens com idades a partir dos 45 anos são mais suscetíveis a terem disfunção erétil caso tenham diabetes.

No entanto, para os pacientes diabéticos, a condição pode surgir mais cedo e de forma mais severa, especialmente se o diabetes não estiver sob controle. Por isso, é importante  manter a doença controlada, já que é crucial para prevenir complicações maiores e preservar a saúde sexual, segundo Junqueira.

Nelson Rassi, chefe de endocrinologia do Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG), onde recentemente foi instalado o Centro Estadual de Atenção ao Diabetes (CEAD), destaca que a impotência sexual pode ser certamente um dos sintomas do diabetes tipo 2, que acomete a população mais idosa.

Rassi destaca que esse fator, somente pode ser associado ao tipo 2 da doença, mas nunca ao diabetes tipo 1, uma vez que esse, acomete pessoas mais jovens, apesar de em alguns casos, ocorrer a fase adulta. De todo modo, o tipo 1 se manifesta inicialmente de formas peculiares como  excesso de urina, excesso de sede e emagrecimento.

Assim, disfunção erétil nesse tipo de enfermidade só ocorre anos depois do início da doença. “Nunca é a primeira manifestação do diabetes tipo 1”, reitera. O médico explica que, caso um jovem seja acometido pela diabetes tipo 1, e logo nos primeiros anos da doença se queixa de dificuldade em manter a ereção, tal problema precisa  ser investigado por outra causa.

Segundo ele, essas causas, frequentemente, podem ser de origem psicogênica. “No diabetes tipo 2 a disfunção erétil pode ser sim uma das manifestações. Então todo paciente já numa idade madura, que chega ao consultório com esse tipo de problema, o diabetes deve ser pesquisado”, afirma.

A batalha da glicose para entrar nas células dos diabéticos 

O Diabetes é uma alteração que ocorre no metabolismo da glicose, principal fonte de energia do ser humano. “É a nossa gasolina, é o nosso combustível”, compara Nelson Rassi. Essa substância vem principalmente dos alimentos ricos em carboidratos, como as massas, as verduras, frutas e também o doce.

Assim, após a ingestão e a digestão desses alimentos, eles são transformados em pequenas moléculas: a glicose ou açúcar. Em sequência, a glicose precisa penetrar a célula do corpo humano. Para isso, ela precisa de um outro hormônio chamado insulina e aí que começa o problema. O diabetes é a deficiência na produção dessa insulina ou em outros casos essa insulina até é produzida, mas não consegue exercer sua função. “Ela tem dificuldade em abrir a porta da célula para glicose entrar”, detalha o endocrinologista de forma didática.

Assim, existem dois tipos de diabetes, aquele diabetes em que não há a produção de insulina, ou seja, o pâncreas – órgão responsável pela produção de enzimas, que ajudam na digestão dos alimentos, e de insulina, regulando os níveis de açúcar no sangue -, falha na produção dessa insulina. Esse é o tipo 1.

Enquanto isso, no diabetes tipo 2, há a produção de insulina, porém, ela não consegue exercer sua função de maneira completa. “Então existe uma resistência ao efeito dela. Esse é o diabetes tipo dois” explica o especialista. A melhor forma de prevenir o diabetes tipo 2 e diversas outras doenças é a incorporação de hábitos saudáveis. O incentivo para uma alimentação saudável, balanceada e a prática de atividades físicas devem ser uma prioridade. 

Pré-diabetes é quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas ainda não caracterizam o Diabetes Tipo 2. É um sinal de alerta do corpo, que normalmente aparece em pessoas com fatores de risco, como sobrepeso, obesidade, hipertensão e alterações nos lipídios. Nesta etapa, apesar de 50% dos usuários desenvolverem a doença, os outros 50%, por meio de incorporação de hábitos saudáveis na alimentação e prática de atividade física, poderão retardar a evolução e complicações do diabetes.

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