Administração do CREDEQ visa buscar contribuição do Ministério da Saúde

Centro de Recuperação atendeu em 2018 pacientes de outros 49 municípios brasileiros

Postado em: 15-01-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Administração do CREDEQ visa buscar contribuição do Ministério da Saúde
Centro de Recuperação atendeu em 2018 pacientes de outros 49 municípios brasileiros

Isabela Martins*

Por ser uma unidade de referência no tratamento à dependência química, o Centro Estadual de Referência e Excelência em Dependência Química (Credeq) vem recebendo internos de diversas localidades do país. Cerca de um quarto dos pacientes atendidos na unidade no ano passado foram de outros 13 estados, mais o Distrito Federal. Ao todo, o Credeq atendeu pacientes de 202 municípios, sendo 153 goianos. Como a unidade recebe pacientes de outros estados, o Credeq vai pedir ajuda financeira ao Governo Federal cadastrando a unidade junto ao Ministério da Saúde.

A Organização Social Luz da Vida, OS que administra a unidade, afirma que tenta buscar ajuda do Ministério da Saúde.“Desde o início da gestão a OS Luz da vida, tem sugerido que o Estado fizesse esse pedido de ajuda, que é buscar o financiamento do Ministério para esse serviço, porque essa mudança na política de saúde mental existe desde de novembro de 2017”, comentou o diretor técnico do Credeq, o psiquiatra Tiago Oliveira.

Continua após a publicidade

Os dados são dos últimos dois anos de funcionamento da unidade que é a única pública e goiana a realizar atendimentos ambulatoriais e de internações para casos severos de dependência química, em uma perspectiva de reabilitação, modalidade que pode reunir em muitas vezes casos complexos e de alto custo.

Os pacientes de outras localidades do país atendidos pelo Centro no ano passado são pessoas que se encontravam em situação de rua, como explicou Tiago. “A maioria desses pacientes vem inclusive em situação de rua, para o Estado de Goiás. Embora sejam de outros estados, acabamos prestando assistência mesmo não sendo moradores de Goiás.”

Segundo Tiago, a procura pelos serviços da unidade em Aparecida de Goiânia se deve ao fato de que em outros estados da federação não se encontra nenhum serviço semelhante ao disponibilizado no que se refere à esfera pública. O médico frisa que, tanto o protocolo terapêutico e o corpo técnico e auxiliar, são ofertas existentes apenas em algumas clínicas particulares brasileiras. 

Os custos do Centro têm sido executados pelo tesouro goiano, e para o diretor técnico, os atendimentos realizados com pacientes de outros estados não prejudicaram a assistência com os pacientes de Goiás. “Isso não teve um impacto negativo substancial. É claro que é um gasto para o Estado, mas que está destinado à população que está de alguma forma em Goiás, ainda vivendo em situação de rua. Uma condição que a gente não tem como não atender”, ressaltou.

O aposentado V.M.S  de 59 anos viveu 38 anos no uso de álcool, passou por sete clínicas de reabilitação. Com quatro filhos, seis netos e um bisneto que com o nascimento o fez procurar ajuda. “Criei filhos e netos na pinga. Não farei isso com meu bisneto. Ele é meu horizonte. Estou me esforçando para que a existência dele em família sempre signifique segurança e alegria”. O aposentado deixou a internação e a cada quinze dias retorna ao ambulatório, onde realiza acompanhamento com psicólogo, psiquiatra, terapeuta e assistente social.

Com 28 anos a dona de casa A.N.A, é mãe de duas crianças e junto com marido era dependente do crack há 12 meses. A rotina foi interrompida quando a sogra falou sobre a unidade. O tratamento começou pela internação que durou 78 dias. “Quando cheguei ao Credeq não consegui falar nem o que queria. Umas duas semanas depois consegui lembrar o sorriso dos meus meninos”, contou. Depois da internação estava disposta a convencer o marido. “Eu enxergo uma vida de oportunidades. Agora eu sei que tenho o direito de viver. Tudo é difícil, mas posso lutar e ficar forte cada vez mais”.

Outros estados

Entre os estados com pacientes atendidos pelo Credeq estão São Paulo, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso. “O que chama a atenção é que provavelmente os outros estados não têm recursos adotados na assistência de dependência química, e eles acabam vindo para Goiás. Mas esses pacientes não atrapalham a ponto de trazer prejuízo”, comenta Tiago.

Os pacientes que chegam à unidade para atendimento são encaminhados pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), por meio da Central de Regulação. Ao chegar no Credeq existem indicações diferentes para a internação. A primeira é para a desintoxicação onde o paciente pode ficar na unidade de uma a duas semanas. A outra é caso o interno precise fazer um trabalho de reabilitação, onde ele irá ficar na unidade cerca de doze semanas.

Atendimentos 

Com 108 leitos, a unidade em 2018 realizou 36.125 diárias de internação. Além disso, foram realizadas 51.413 consultas com multiprofissionais no serviço de ambulatório, que conta com profissionais das áreas de enfermagem, técnicos em enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, nutricionistas, farmacêuticos e musico terapeutas. 

Unidade aposta em atividades terapêuticas para tratar dependentes 

As atividades oferecidas pelo Centro são voltadas para a questão terapêutica, que buscam desenvolver capacidades sociais, emocionais, intelectuais e espirituais. Os pacientes podem fazer atividades como hidroginástica, vôlei, futsal, música, arte terapia, terapia assistida com animais. “Não basta desintoxicar e suspender o uso, pois a recaída não mede remissão de doença crônica, mas a inserção social, familiar e econômica do doente é que revela o grau de comprometimento do paciente consigo mesmo”.

Situação de rua

Dados do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNRP), estimam que mais de duas mil pessoas estejam em situação de rua em Goiânia. Pesquisa do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG) realizado em 2016 aponta que 46,4% da população estão na região central de Goiânia, seguidos pela região Sul, com 15,8% e a região Oeste com 11,5% da população.

Segundo a pesquisa, pessoas que vivem nessa situação vêm de diferentes vivências e estão nessa situação pelas mais variadas razões. Sofrem com a extrema pobreza, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados. Muitos desses que vem de outros estados por não conseguirem emprego, e nem se estabilizarem acabam indo parar nas ruas. Eles acabam fazendo das ruas e de outros lugares públicos como espaço de moradia seja de forma temporária ou permanente. 

Políticas públicas para pessoas em situação de rua no Brasil são de responsabilidade do governo federal, dos estados e municípios brasileiros para a assistência social da população.

Uma das principais é a Política Nacional para a População em Situação de Rua implementada em 2008. Com várias determinações a política visa ajudar com a capacitação dos profissionais do direito, a oferta de serviços de assistência social, inclusão da população em vagas de emprego, e a criação alternativa de moradias.  (Isabela Martins é estagiaria do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

Veja Também