Colégio no Parque Amazônia está abandonado e serve como ponto de venda de drogas

Unidade escolar estadual desativada em 2015 para as obras do BRT na Capital deixa antigos alunos e pais na saudade

Postado em: 17-01-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Unidade escolar estadual desativada em 2015 para as obras do BRT na Capital deixa antigos alunos e pais na saudade

Thiago Costa 

Às vésperas de começar as aulas da rede estadual de educação, o Colégio Estadual Parque Amazônia, próximo a um shopping que divide os municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia, continua desativado há aproximadamente cinco anos.  Em 2014, a prefeitura solicitou à Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce) a tutela do Colégio para a passagem do Bus Rapid Transit (BRT) no local, já que o lote pertence à prefeitura, não ao Estado. 

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Uma saga de pais e alunos começou com o remanejamento de aproximadamente 750 alunos da instituição para outras unidades estaduais da região. O fechamento da instituição atrapalhou e ainda atrapalha a vida de muitos usuários do colégio. 

Joaquim Aguiar é pai de dois ex-alunos do colégio Estadual Parque Amazônia. Ele, que tem um comércio frente à unidade desde 1990 explica que, com a retirada do colégio, seus dois filhos tiveram problemas para prosseguir os estudos. O filho parou de estudar por não encontrar uma vaga próxima de casa assim que a unidade teve suas atividades encerradas. Já a filha, que o pai afirma ser estudiosa e disciplinada enfrentou problemas com as notas que não foram repassadas para a outra instituição que a menina conseguiu concretizar a matrícula, próxima de sua casa. 

Segundo Joaquim, o colégio atendia um público grandioso, devido às necessidades da região. Ele explica que muitos alunos precisavam da permanência da unidade na região, pois esses usuários eram uma parte do Ensino Fundamental e outros do primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio. O pai dos ex-alunos conta que à época pais e alunos fizeram, inclusive, passeata pela região para que o colégio permanecesse atendendo alunos do Parque Amazônia.

Joaquim conta que o término daquele ano letivo para a filha não foi fácil. Ele alega que houve perseguição por parte dos professores que foram para dar sequência ao calendário escolar na instituição de ensino técnico que a filha foi realocada. Segundo ele, a filha não teve as notas devidamente lançadas referente a dois semestres anteriores da mudança, o que a gerou uma séria de complicações no novo colégio, que a fez reprovar por um décimo em uma matéria, mesmo após se empenhar ao máximo e fazer todos os trabalhos impostos à estudante na nova instituição. 

Vagas 

Joaquim Aguiar denuncia que quando o Colégio Estadual Parque Amazônia foi desativado, as outras unidades que os alunos foram remanejados não comportavam a grande demanda de alunos. De acordo com o pai, uma unidade de ensino técnico foi usada para receber alguns alunos. Ele explica que sua filha conseguiu uma vaga, mas que, por a unidade não comportar todos os alunos do colégio estadual, muitos deles desistiram dos estudos. 

“Não tinha vaga. O colégio dali estava lotado, outros estavam lotados também. O colégio do Cruzeiro não tinha mais vagas. O desconforto e o transporte fizeram esses alunos desistirem”, explicou Joaquim. 

Terreno

O pai argumenta que a instalação do colégio aconteceu após o então Prefeito de Goiânia Íris Rezende ceder o terreno para um colégio provisório, devido a grande demanda do setor. De acordo com o comerciante que tem um comércio de chaveiro do outro lado da rua onde era a unidade de ensino, a medida de desativar o colégio foi desnecessária. O comerciante explica que desde 2015, quando os populares identificaram que o colégio realmente não ficaria mais nas instalações, começaram a ver um movimento de operários para dar início às obras do BRT, mas que toda a movimentação não passou de dois dias, quando esses operários não foram mais vistos trabalhando por ali. 

Como explica Joaquim, desde o encerramento das atividades até os dias atuais esses alunos poderiam ter dado continuidade aos estudos sem esse remanejamento, já que a obra que seria para beneficiar a população não aconteceu e a única coisa que restou em toda essa história foi um local para usuários de drogas se apropriarem do local para usarem ilícitos e para uma parte dos moradores da região descartar seus lixos no terreno que hoje é sinônimo de criminalidade da região.

Daniel Henrique cursava o segundo ano do Ensino Médio quando iniciou o processo de desativação da unidade. Como conta o ex-aluno, ele foi um dos que precisaram parar os estudos por falta de vaga na região.  Segundo o jovem que atualmente retornou os estudos e pretende se formar em direito, a maior revolta da população foi que muitos alunos concretizariam seus estudos em breve, mas a transferência deles atrapalhou muito. Como conta o estudante, à época, essa pessoas que terminariam os estudos em questão de meses desistiram por conta das dificuldades para se locomover para unidades de ensino distantes. Daniel sabe que está atrasado em relação aos estudos e garante que, apenas em sua sala, que tinha aproximadamente 16 alunos, nove pararam de estudar. 

Criminalidade 

Segundo Daniel, com a desativação do Colégio que atendia aproximadamente 750 alunos, o local agora está com passagem livre pelos entulhos do muro caído da construção. Ele explica que, por conta do fácil acesso, criminosos têm se apropriado do local para cometer crimes. Ele explica que agora, com a diminuição de movimento e o fácil esconderijo desses criminosos, se tornou comum ver pessoas abordadas por assaltantes na localidade. 

Hiago Feitosa é funcionário de uma padaria próxima ao colégio e vez ou outra precisa passar na calçada da obra abandonada para ir e voltar do trabalho. Ele explica que sempre tem um grupo usando drogas no local e a pouca iluminação favorece mais ainda a criminalidade, e torna a região mais perigosa por conta da ausência de segurança, o que não aconteceria caso o colégio não tivesse tido a sua atividade suspensa há anos. “Como aqui é Capital e a cidade é perigosa, em ambientes pouco iluminados e abandonados e com a presença de usuários de drogas, não é um lugar muito bom para passar”, comenta Hiago. 

Espaço vago

Em nota, a Seduce, por meio da Coordenação Regional de Goiânia, informa que a Prefeitura de Goiânia pediu, em 2014, a tutela do Colégio Estadual Parque Amazônia em função das obras do BRT Norte Sul, e que, desde então, a gestão do espaço pertence ao executivo municipal.

À época, os alunos foram recebidos no Centro Sebastião Siqueira, onde concluíram o ciclo de estudos.  A Seduce reitera que nenhum estudante tem prejuízos em suas atividades escolares mesmo naquelas unidades que passam por obras e ou são desativadas. A oferta de vagas na rede pública estadual de ensino é assegurada a todos os estudantes.    

BRT facilitaria a vida dos moradores da região do Parque Amazônia  

Hiago Feitosa trabalha em uma padaria localizada próxima ao antigo Colégio Estadual Parque Amazônia, que teve suas atividades suspensas para dar lugar ao Bus Rapid Transit (BRT). De acordo com Hiago, a instalação do meio de locomoção facilitaria muito a sua vida. Ele explica que o BRT transformaria a região em um lugar de fácil acesso, inclusive para ele ir para o trabalho e voltar para casa. Hiago afirma que, caso as obras do empreendimento de transporte estivesse funcionando, sua locomoção e a dos colegas de trabalho seria bem mais acessível. 

Uma moradora antiga da região, que não quis se identificar, relatou à reportagem do O Hoje que o espaço aberto após a desativação do Colégio facilitou a vida dos bandidos. Ela, que teme ser identificada justamente para não sofrer represálias desses criminosos, por morar muito próximo ao local que recebe diariamente usuários de todos os tipos de drogas, principalmente no período noturno, garante que tudo piorou após a retirada do colégio e com o menor fluxo de estudantes, pais e professores que eram vistos por todo o dia nas redondezas. 

“Antes, aqui era bem mais movimentado e eu sentia uma maior segurança para ir à padaria ou ao supermercado”. Agora, com menos pessoas passando aqui na porta da minha casa, acabo que fico trancada durante todo o dia, principalmente á noite. Estando abandonado, até a minha casa desvaloriza. Se eles tivessem terminado a obra que falaram que iriam fazer, eu até teria coragem de ter uma vida fora das paredes da minha casa, porque iria ter mais pessoas passando pela região e mais guardas municipais também, como eu antigamente via lá no Eixão da Avenida Anhanguera, que é um lugar perigoso, mas eu acredito que aqui seria diferente”, reclama a moradora. 

O aposentado Bonifácio Siqueira viu o colégio ter suas atividades iniciadas e também acompanhou quando ela foi desativada. O aposentado afirma que o espaço agora é um ‘mocó de bandidos’. Bonifácio reclama que paga mais R$ 6 mil de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) por ano e enfrenta a obra inacabada. Ele conta que aguardava a benfeitoria que seria o BRT para a região, que, inclusive, valorizaria sua propriedade, mas que até agora nada foi feito. 

“Aqui tinha uma escolinha antigamente, daí derrubaram ela e construíram uma nova, mas agora acabou foi tudo. Eu achei uma beleza quando afirmaram que esses ônibus passariam aqui na frente de casa, mas depois as pessoas das obras vieram aqui, desfilaram com os capacetes brancos para trabalhar, mas já tem uns cinco anos que eles não apareceram. Eles só trabalharam por uns dois”, lamenta Bonifácio.

Por e-mail, a prefeitura de Goiânia respondeu que, conforme pode ser verificado no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a gestão municipal e a Caixa Econômica Federal, o trecho sul da obra, compreendido entre o Terminal Isidória e Terminal Cruzeiro do Sul, em Aparecida de Goiânia, ainda não foi licitado. As obras estão concentradas, neste momento, no trecho que liga o Terminal Recanto do Bosque à Praça do Trabalhador.  

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