Cresce procura por armas

Decreto assinado pelo presidente animou quem se interessa por armas

Postado em: 18-01-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Decreto assinado pelo presidente animou quem se interessa por armas

Higor Santana*

A procura por arma de fogo tem se intensificado em Goiás nos últimos quatro anos. O número de registros de armas anual para pessoa física dobrou de 2013 para 2014. No ano passado foram contabilizados 4.162 novos armamentos no Estado, uma média de 11 por dia. Cinco anos atrás a média diária era três. São quase 300% de aumento nesse período. Os dados são do Segundo o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal.

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A procura por cursos de tiro e registro de novas armas de fogo ganhou um novo fôlego. Isso porque na última terça-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro, em cerimônia no Palácio do Planalto, assinou um decreto que facilita a posse de armas de fogo. O direito à posse é a autorização para manter uma arma de fogo em casa ou no local de trabalho, desde que o dono da arma seja o responsável legal pelo estabelecimento. 

O texto do decreto permite aos cidadãos residentes em área urbana ou rural manter arma de fogo em casa, desde que cumpridos os requisitos de “efetiva necessidade”, a serem examinados pela Polícia Federal.

De acordo com o instrutor e empresário do ramo de armas Rodrigo Basílio, a procura pelo curso de tiro vem crescendo desde antes da corrida presidencial, no ano passado. Para ele, o decreto deu animosidade em quem se interessa por armas. “Com uma maior facilidade, a pessoa que gosta de armas de fogo, consegue ter uma assiduidade com essa arma. Ela poderá guardá-la em casa e utilizá-la para o lazer”, disse.

Para o empresário, a aproximação e descriminização da arma, facilita o contato das pessoas com o objeto. A proposta de utilização da arma como forma de defesa pessoal, promete levar muitos goianos a se interessar pelos cursos de aperfeiçoamento. “As pessoas estão tendo mais opção, mais esclarecimento, uma divulgação maior e menos discriminação sobre a utilização da arma de fogo. Poder fazer o curso, praticar o tiro e até mesmo utilizar a arma sem o preconceito imposto sobre ela é importante pra quem é amante do mundo das armas. É uma coisa mais acessível”, afirma.

Ainda de acordo com o empresário, o atirador esportivo consegue comprar material relacionado à arma mais barato, e conta com uma guia de transporte, utilizada para fazer o transporte da arma de casa para o estande de tiro. 

“Devido à criminalidade, a defesa pessoal proporciona à pessoa facilidade de vincular o uso da arma à atividade esportiva. A pessoa busca o clube de tiro para aprimoramento e aperfeiçoamento com a arma. Não é como antigamente que a pessoa comprava a arma e guardava no guarda-roupa e essa arma ficava por muitos anos guardada, sem utilização”, disse o empresário.

De acordo com dados do próprio clube, o perfil de quem se interessa pelo curso é diversificado. A maioria das pessoas que procuram o clube de tiro são empresários, produtores rurais, ou amantes do tiro esportivo. Desde pessoas com uma classe mais alta, a pessoas mais simples que vêem a oportunidade de ter o acesso a uma arma de fogo, de caçar de forma regularizada ou usar dessa arma com fins de recreação. 

Alean Cavalcante é empresária e se tornou amante do tiro esportivo por meio do marido. Ela conta que não se interessava, mas por começar a acompanhar o marido passou a gostar. “Às vezes eu ficava sozinha em casa quando ele saia para praticar, ai por eu começar a acompanhálo, começou aquele interesse, e isso fez que eu ficasse mais unida a ele. Desde a primeira vez, me encantei pelo tiro, pedi pra ele fazer o meu registro e daí não parei mais”, contou.

Cuidados

Weberton Lourenço dos Reis é instrutor credenciado pela polícia federal e responsável pela aplicação de testes de aptidão técnica de tiro no âmbito do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) e do exército. Para ele, a atenção quando for se fazer o manuseio da arma é fundamental. “Precisamos nos atentar sempre para o controle seguro do cano, sempre apontando-o para uma direção segura ao manusear a arma. O dedo deve estar sempre fora da tecla do gatilho estendido sobre a armação do armamento. Nunca guardar a arma com o cão engatilhado, e ao manusear a mesma para inspeção ou limpeza , sempre retirar todas as munições e realizar as condutas de inspeções padronizadas”, alerta o instrutor.

Leder Pinheiro é instrutor e proprietário de estande de tiro. Ele explica que são necessários alguns procedimentos para conseguir a posse de arma. “É feito toda uma verificação. São mais de seis certidões de antecedentes, comprovante de endereço, documento pessoal, teste de tiro, avaliação psicológica, vistoria do exército na residência. É necessário que tenha cofre ou fundo falso, e a casa deve ser resistente. Passado esse processo, a pessoa se torna caçador, atirador e colecionador. Após esse processo se inicia o processo de compra.

Compra

Para adquirir uma arma, o comprador deve fazer o curso para manejar a arma, ter ao menos 25 anos, ter ocupação lícita, não estar respondendo a inquérito policial ou processo criminal, não ter antecedentes criminais nas justiças Federal, Estadual (incluindo juizados), Militar e Eleitoral. Logo após, o comprador deve fazer o registro da arma e solicitar a guia de transporte, emitida pela Polícia Federal.

Os valores relativos a cursos, treinamentos e testes de aptidão técnica de tiro são variados. Podendo girar entre R$ 160 a R$ 800. O curso básico de pistola, com a carga horária de um dia inteiro de instruções teóricas e práticas, pode sair a partir de R$ 700. 

Após decreto, comércio espera aumento na venda de armas 

Devido ao decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro que facilita a posse de armas de fogo, várias pessoas tem procurado lojas de armas para saber o que é preciso para adquirir uma. Segundo o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal, o registro de novas armas em todo país cresceu 6,35% no ano passado em comparação a 2017, passando de 45,443 para 48,330 novas armas registradas. 

Já os certificados de registros do tipo CAC (Colecionador, Atirador Esportivo ou Caçador), emitidos pelo exército, subiram de 13,408 até novembro de 2017 para 17,591 até novembro de 2018, um aumento de 31%.

Renato Macedo é gerente de uma loja de armas em Campinas. E de acordo com ele, ainda não é notável o aumento da procura por armas de fogo, mas o lojista espera que aconteça uma melhora. “Hoje ainda não se pode falar de aumento na procura. Daqui dois meses a gente pode falar com mais segurança se teve ou não, as pessoas estão se adaptando com essa ideia de poder comprar uma arma sem se preocupar. Mas esperamos que tenha uma crescente no comércio”, afirma o lojista. 

Luis Fernando também é proprietário de uma loja de armas em Goiânia. E para ele, o aumento da procura vem crescendo desde o ano passado. “Na verdade, esse aumento não é de agora. Desde o ano passado, com a ideia de insegurança pairando sobre as pessoas, já foi se notado uma procura maior por armas de fogo. As pessoas passaram a procurar mais, se informar mais sobre como fazer para conseguir comprar uma arma, e até mesmo passaram a pesquisar sobre os valores delas”, disse.

Essa corrida do goiano para se armar tem produzido uma alta demanda para os órgãos responsáveis pelo registro de armas no Estado. Interessados em conseguir o direito de posse de arma chegam a madrugar na porta da Superintendência Regional da PF em Goiânia, já que são feitos apenas 30 atendimentos por dia. 

O mesmo acontece no prédio do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) do Exército, que fica dentro de uma vila militar. Por lá, a procura foi tanta, que o serviço de registro chegou a ser suspenso por 45 dias para desafogar o excesso de processos abertos. 

Lucas Damaçena de Castro é estudante e pretende comprar uma arma. O jovem de 26 anos já passou por uma situação difícil e para ele, arma é sinônimo de segurança. “Quero comprar uma arma para segurança. A gente se sente mais seguro ne? Há quatro meses tive a casa assaltada. Dois homens pularam o muro e renderam minha mulher e meu sobrinho. Graças a Deus meu vizinho viu os dois bandidos pulando o muro e gritou, mas não impediu que eles levassem a bolsa da minha esposa, dois celulares e a televisão da sala. Já iniciei o curo de aptidão, vou fazer todo o processo necessário e comprar uma arma”, relatou o jovem.

Registros

Entre janeiro e outubro do ano passado, 2.780 armas foram registradas no Exército Brasileiro em Goiás, 65% a mais que 2017 inteiro, quando foram cadastrados 1.684 armamentos no Estado. Estes números são do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), banco de dados com o registro de armas particulares de atiradores desportivos, colecionadores, caçadores, magistrados e militares.

Este será o terceiro ano consecutivo com o aumento do número desse tipo de registro de arma. Entre 2015 e 2016 a porcentagem do crescimento de cadastros chegou a 155%. A ascensão coincide com a queda do número de armas registradas, em 2016 e 2017, no Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal. O Sigma é destinado ao armamento comprado por cidadãos que sentem necessidade de se proteger e concentra a maior fatia de armas registradas no Estado.

Sobre a melhora, o gerente Renato afirma ter esperança em uma impulsionada no comércio bélico. “Tem que ter, precisamos manter o negócio. A venda de pesca aumentou, mas a de armas ainda não se pode falar. Mas com certeza irá melhorar por conta dessa na burocracia de se ter uma arma”, afirma. (*Higor Santana é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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