Enfermeira é indiciada por novas sequelas após procedimentos estéticos

Marcilane Espíndola é acusada de deixar nove mulheres deformadas. Defesa diz que prisão foi convertida em domiciliar

Postado em: 17-07-2024 às 05h00
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Enfermeira é indiciada por novas sequelas após procedimentos estéticos
A delegada Luiza Veneranda diz que a vítima pagou R$ 12 mil pelos procedimentos | Foto: Divulgação/Polícia Civil

Aos 29 anos de idade, Moema Póvoa é uma das supostas vítimas da enfermeira Marcilane Espíndola, apontada pela Polícia Civil como responsável por deixar diversas sequelas em pacientes que fizeram procedimentos estéticos na Região Metropolitana de Goiânia. Em entrevista exclusiva ao O HOJE, a vítima relatou que os sinais começaram a surgir logo após o término das intervenções e evoluíram de forma preocupante, levando-a a ser hospitalizada por 30 dias, além de desenvolver uma infecção generalizada e perder as mamas.

“Realizei um procedimento estético nos seios e logo após senti muitas dores, que foram se intensificando. Eram dores intensas, incompreensíveis, tão fortes que precisei ficar hospitalizada por um mês”, detalha.  A veterinária relata que acabou desenvolvendo uma infecção generalizada e, posteriormente, precisou dar continuidade ao tratamento em casa com antibióticos.

No mês de julho de 2023, Moema relatou ter realizado o tratamento com a certeza de que a profissional utilizaria ácido hialurônico. Porém, ao passar por uma biópsia em outubro do ano anterior, realizada pelo Hospital das Clínicas de Goiânia, constatou a presença de PMMA em suas mamas.

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“Minha infecção persistia sem melhora e os médicos decidiram realizar a mastectomia para remover as mamas. O PMMA acabou se espalhando para os pulmões, resultando em uma baixa saturação de oxigênio e a necessidade de utilização de oxigênio”, relata Moema.

O jornal O HOJE solicitou um pronunciamento da equipe jurídica de Marcilane a respeito do emprego de PMMA, mas não recebeu resposta até o momento do fechamento desta edição. Em relação à sua detenção, o advogado declarou que a enfermeira não foi questionada sobre o “alegado acontecimento recente”.

A delegada Luiza Veneranda explicou que a nova suposta vítima teria sido submetida aos procedimentos nos seios, pernas e glúteos com a enfermeira nos meses de janeiro e fevereiro de 2024. Segundo a polícia, Moema pagou R$ 12 mil pelas intervenções estéticas. Apesar de a mulher ter feito procedimentos em três partes diferentes do corpo, a polícia relatou que as complicações foram constatadas apenas nos seios.

De acordo com a delegada responsável pelo caso, a enfermeira optou por permanecer em silêncio durante o interrogatório. A polícia relatou que as supostas vítimas acreditavam que a enfermeira utilizava ácido hialurônico para realizar os procedimentos. A titular do inquérito explicou que o ácido é uma substância reversível e segura.

Moema informou que contratou três procedimentos estéticos e que queria aplicação de ácido hialurônico e PMMA na região dos seios, pernas e glúteos. Ao fazer os procedimentos nos seios, Marcilane fez uso de uma técnica chamada fios de sustentação.

No entanto, as investigações revelaram que Marcilane aplicou PMMA sem a devida autorização das pacientes. “Tudo indica que, na verdade, a indiciada usava PMMA. Todas as nove vítimas tiveram essa substância aplicada no corpo e nós juntamos documentos que comprovam o indicativo de PMMA”, afirmou a delegada responsável pelo caso. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que o PMMA é um componente plástico com diversas utilizações na área de saúde, mas que é de uso restrito e risco máximo, pois sua composição pode causar reações inflamatórias, eventuais deformidades e necrose dos tecidos onde foi aplicado.

No site da Anvisa, o órgão esclarece que a aplicação do PMMA é recomendada somente para corrigir pequenas deformidades do corpo após tratamentos de Aids ou de poliomielite. E que, mesmo nesses casos autorizados, precisa ser feita por médicos treinados e com a quantidade mínima permitida.

Operação Salus 

Marcilane Espíndola começou a ser investigada no final do mês de julho de 2023 após três pacientes ficarem com os rostos deformados depois de realizarem procedimentos em uma clínica de estética. A Polícia Civil (PC) deflagrou a Operação Salus para investigar o caso e cumpriu mandados de busca e apreensão na clínica de estética da enfermeira.

Após as investigações iniciais, a polícia representou pela concessão de medidas cautelares que resultaram no cumprimento de buscas, bloqueio de bens e valores da enfermeira e a suspensão do exercício de atividades. 

Segundo a polícia, ao todo, os nove inquéritos policiais em que a enfermeira foi indiciada totalizaram 1.467 páginas, com elementos como termos de declaração, depoimentos de testemunhas, perícias da Polícia Técnico Científica e outros documentos.

Marcilane é enfermeira, mas nas redes sociais informava ser pós-graduada em dermatologia estética, dando a entender que possuía qualificação para atuar no ramo. Na internet, a profissional anunciava procedimentos como: preenchimento labial, no nariz, lipo de papada, bronzeamento e até cursos ensinando as técnicas. Mas, em depoimento à polícia, a indiciada admitiu que não concluiu o curso.

Quando as investigações foram iniciadas, o Conselho Regional de Enfermagem de Goiás (Coren-GO) informou que instaurou um Processo Ético Disciplinar para apurar a conduta da profissional. 

Leia a nota da defesa

“A defesa de Marcilane Espíndola ressalta que a prisão outrora deferida e cumprida na data de 11/07, já foi substituída por prisão domiciliar no mesmo dia 11. Em relação a busca e apreensão, nada de ilícito foi encontrado. Infelizmente, mesmo com diversas tentativas, inclusive através de pedidos judiciais (habeas corpus preventivo), a investigada não foi ouvida antes do pedido desmesurado da prisão, acerca do suposto fato novo, impedindo a investigada de contrapor eventual acusação, o que viola, inclusive, o disposto no art. 6º, inciso v, CPP.

A defesa aguarda acesso ao processo em que houve o deferimento da medida extrema, para se posicionar sobre a matéria fática. “Registra-se, novamente, que a investigada esteve, está e sempre estará à disposição para qualquer esclarecimento necessário”.

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