Tabagismo, colesterol elevado e obesidade: os principais vilões do coração

Em Goiás, somente de janeiro a junho deste ano, o Hugol realizou 489 cirurgias cardíacas

Postado em: 19-07-2024 às 07h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Cirurgião cardíaco Dilmar Cardeal da Cunha, que atua no Hugol, durante procedimento cirúrgico | Foto: Divulgação/Hugol

As doenças cardiovasculares constituem um dos maiores desafios de saúde global, responsáveis por um número significativo de óbitos a cada ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Goiás, somente de janeiro a junho deste ano, o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) já realizou 489 cirurgias cardíacas, sendo 207 só de marcapasso – procedimento menos complexo que tem duração média de duas horas e o paciente costuma ter alta hospitalar em até 24 horas.

Essas condições afetam indivíduos em todas as faixas etárias, sublinhando a importância de uma atenção contínua à saúde cardiovascular, desde a infância até a velhice. Juliana Paiva Ferraz, médica cardiologista no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), ressalta que o coração desempenha um papel vital no corpo humano, sendo responsável por bombear sangue e garantir o suprimento adequado de oxigênio e nutrientes para todos os órgãos.

Vários fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de doenças cardíacas, incluindo o tabagismo, níveis elevados de colesterol, hipertensão arterial, obesidade, estresse crônico, depressão e diabetes. Para mitigar esses riscos, é essencial adotar medidas preventivas como evitar fumar, manter uma alimentação saudável e equilibrada, controlar o peso corporal, praticar exercícios físicos regularmente, gerenciar condições crônicas como diabetes e hipertensão, garantir horas adequadas de sono e realizar consultas médicas regulares.

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A dieta e a atividade física exercem um papel crucial na promoção da saúde cardiovascular, segundo a especialista. A prática regular e moderada de exercícios físicos, combinada com uma alimentação rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, não apenas reduz a gordura corporal e melhora o metabolismo, mas também contribui para o controle do colesterol e dos triglicerídeos. Além disso, ajuda a controlar o diabetes e a pressão arterial, melhora a capacidade física e a qualidade do sono, reduz o estresse e fortalece o sistema imunológico, promovendo uma melhor qualidade de vida.

Exames médicos regulares desempenham um papel fundamental na prevenção e no diagnóstico precoce de doenças cardiovasculares. Testes como medição da pressão arterial, perfil lipídico, glicemia em jejum e outros exames específicos podem identificar alterações que requerem intervenção médica precoce. “Essa abordagem proativa não apenas reduz o risco de complicações graves, como infarto e AVC, mas também aumenta a expectativa de vida e melhora a saúde geral do indivíduo”, pontua.

A médica alerta que é importante estar atento aos sinais que indicam possíveis problemas cardíacos. Dor no peito, palpitações, falta de ar durante atividades físicas ou mesmo em repouso, tonturas e desmaios são sintomas que requerem avaliação médica imediata. “Ignorar esses sinais pode resultar em complicações sérias e potencialmente fatais, por isso a busca por cuidados médicos adequados é crucial”, orienta.

Além dos cuidados individuais, políticas públicas que promovam ambientes saudáveis, como incentivo a espaços para prática de atividade física, regulamentação de alimentos industrializados e campanhas educativas, são fundamentais para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares na população em geral. 

A cardiologista destaca que a educação pública sobre hábitos de vida saudáveis desde a juventude pode ter um impacto significativo na prevenção dessas doenças ao longo da vida. Juliana reitera que a saúde cardiovascular depende de uma combinação de fatores: estilo de vida saudável, monitoramento regular da saúde e intervenção médica oportuna. 

Avanços na saúde cardíaca: prevenção e tecnologia na vanguarda

No cenário contemporâneo da saúde cardiovascular, reconhecer e responder aos sintomas de problemas cardíacos são medidas cruciais para preservar a qualidade de vida e evitar complicações sérias. O cirurgião cardíaco Dilmar Cardeal da Cunha, que atua no Hugol, ressalta a importância de estar atento a sinais que possam indicar problemas no coração.

Segundo ele, qualquer sintoma novo relacionado à saúde cardiovascular, especialmente se impactar as atividades diárias, merece avaliação médica imediata. Já sintomas persistentes, mesmo que menos impactantes, devem ser discutidos em consultas de rotina para investigação mais detalhada.

A variedade de doenças cardíacas exige abordagens individualizadas para garantir o controle adequado e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Por exemplo, pacientes com hipertensão arterial são frequentemente orientados a realizar mudanças no estilo de vida, como dieta balanceada e aumento da atividade física, além do uso de medicamentos específicos.

Doenças valvares – que ocorrem quando as valvas do coração se deterioram a ponto de perderem sua mobilidade original – podem começar com tratamento medicamentoso, mas eventualmente podem necessitar de intervenções cirúrgicas caso comprometam significativamente a função cardíaca. “Arritmias cardíacas, por sua vez, podem ser tratadas com medicamentos, mas em casos onde estes não são eficazes, dispositivos como marcapassos são implantados para regular o ritmo cardíaco”, explica o cirurgião.

Um aspecto crucial destacado pelo médico é o papel transformador da tecnologia na cardiologia moderna. Dispositivos ‘wearables’, como relógios inteligentes, são capazes de monitorar continuamente sinais vitais como frequência cardíaca, arritmias, níveis de oxigenação sanguínea e pressão arterial.

Esses dispositivos não apenas fornecem dados em tempo real para avaliação médica, mas também permitem uma intervenção precoce em caso de anormalidades, melhorando assim a gestão das condições cardíacas crônicas.

Além dos avanços nos dispositivos pessoais, métodos diagnósticos avançados estão revolucionando a maneira como as doenças cardíacas são detectadas e tratadas. A tomografia computadorizada de alta resolução, por exemplo, pode criar modelos 3D detalhados do coração, permitindo aos médicos visualizar com precisão alterações estruturais e orientar procedimentos terapêuticos complexos, como a substituição de válvulas cardíacas.

Procedimentos percutâneos, realizados através de pequenas incisões em vasos periféricos, estão se tornando uma alternativa menos invasiva para tratamentos como implantes de marcapassos e outras intervenções que antes exigiam cirurgia aberta.

Contudo, Dilmar ressalta que a saúde cardiovascular não se resume apenas à tecnologia avançada e tratamentos especializados. Fatores de estilo de vida, como mencionado anteriormente, desempenham um papel crucial na prevenção de doenças cardíacas. Além disso, é essencial gerenciar o estresse e cultivar uma boa saúde mental, pois o estresse crônico pode desencadear respostas fisiológicas adversas que afetam diretamente o coração.

O cirurgião enfatiza também que o estresse crônico pode aumentar a pressão arterial, elevar a frequência cardíaca e contribuir para a formação de placas de colesterol nas artérias, aumentando assim o risco de doenças cardíacas graves, como o infarto do miocárdio. Portanto, estratégias para reduzir o estresse, como exercícios de relaxamento, práticas de mindfulness – traduzida como atenção plena – e o cultivo de hobbies relaxantes, são igualmente importantes para a saúde cardiovascular.

Para aqueles que já têm condições cardíacas diagnosticadas, seguir rigorosamente o plano de tratamento estabelecido pelo médico é fundamental. “Isso inclui tomar os medicamentos prescritos conforme orientação, comparecer às consultas de acompanhamento regularmente e comunicar quaisquer preocupações ou sintomas novos ao profissional de saúde responsável pelo tratamento”, detalha o especialista. 

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