Delegada aponta que é difícil avaliar e limitar o porte de arma branca

Thiago Costa 

É considerada arma branca qualquer objeto utilizado para cometer crime contra um oponente, desde que não seja com o uso da arma de fogo. As mais comuns são machados, facas e martelos, por exemplo. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em 2017 foram registrados 362 crimes contra a vida com o uso desse tipo de arma. Já em 2018 houve um crescimento de 1,10%, quando foram registrados 366 homicídios dessa magnitude. 

De acordo com a titular da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), Silvana Nunes, não é considerado crime uma pessoa portar arma branca. A delegada explica que o que pode limitar a prática de homicídios é a intenção da pessoa. “Se alguém quiser matar outra pessoa, esse poderá o fazer asfixiando com um cordão, utilizar um facão, um cano ou até mesmo uma pedra”, justifica Silvana. 

A delegada ainda explica que é difícil avaliar e limitar a liberdade de um indivíduo que precisa portar uma faca, seja essa pessoa um açougueiro ou pescador, por exemplo, que utiliza desses materiais para trabalhar. Silvana afirma que é a índole da pessoa que determinará sobre como ela usará esse instrumento, se é para o uso convencional ou para atentar contra a vida de outra pessoa. 

“Os bons não podem pagar pelos maus e a lei penalizar alguém que porte arma branca não vai resolver o problema. O maior índice de homicídios é sobre arma de fogo. Uma política de prevenção de homicídios por arma branca que focasse em proibir a arma branca não resolveria, porque a pessoa que quer matar outra usará os meios necessários naquele momento, independente do que for”, explica a delegada. 

Homicídios

Silvana ressalta que ainda existe muito homicídio por arma branca e que não é possível desconsiderar esses números. A delegada conta que em Goiânia dois casos recentes envolvem o uso de arma branca para tirar a vida de outras pessoas, todos na penúltima semana.  Silvana acredita que a única maneira para que o indivíduo não cometa crimes utilizando as armas brancas só depende dele próprio.

A delegada ainda afirma que o momento atual é de muita violência, e uma arma não faz nada sozinha. O próprio ser humano é o responsável por essas estatísticas.  O potencial lesivo de uma faca por si só, por exemplo, é zero. Silvana explica que se a pessoa tiver a vontade de ferir, usará até mesmo um cano para o ato e, comparando com o cano, a faca não é fabricada com a finalidade de matar uma pessoa. 

Riscos 

Na primeira semana deste ano um homem foi morto no Residencial Antônio Carlos Pires. Daniel Rodrigues Pereira, de 36 anos, foi morto após levar uma facada na porta de casa, na Rua ACP 14, no Residencial Antônio Carlos Pires, região norte da Capital. Como explicou a Polícia Civil (PC), o crime teria acontecido após um empurrão de brincadeira, cujo o suposto autor do assassinato não teria gostado da ação da vítima e cometeu o crime. 

À época, o Serviço de Atendimento Móvel foi acionado para comparecer ao local, mas ao chegar à cena do crime foi constatada a morte do homem. Dias após o crime, o corpo de bombeiros foi acionado para apagar um foco de incêndio na casa do possível autor do crime. Vítima e possível autor moravam em uma invasão. 

Assaltos 

A estudante Luciana Fernandes mora em Goiânia e teve algumas experiências ruins com arma branca. Luciana sofreu um assalto em um ônibus. De acordo com a estudante, todos os presentes naquela linha foram assaltados e um passageiro esfaqueado. Por medo, ela conta que não fez sequer menção de não entregar seus pertences aos criminosos. A estudante acredita que as pessoas boas não podem carregar uma faca, por exemplo, porque, caso seja abordado pela polícia, deverá explicar os motivos pelos quais estaria de posse do objeto. 

Luciana não acha correto pessoas poderem andar livremente com armas brancas e afirma ser mais perigoso do que a própria arma de fogo. “É muito raro você ouvir falar que alguém assaltou um ônibus atirando nas pessoas, mas a arma branca eles [os criminosos] te intimidam, porque qualquer coisa que faça, será esfaqueado”, afirma. 

A estudante ainda destaca a facilidade de esconder o objeto cortante até mesmo no tênis ou entre a calça, sem fazer tanto volume quanto a arma de fogo que é mais aparente se comparada com alguns tipos de facas que geralmente são discretas e mais utilizadas para cometer crimes contra a população. 

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informa que estão sendo realizadas ações para combater os crimes de homicídio em todo o Estado. Diversas operações são realizadas neste sentido por todas as forças policiais. Em relação aos crimes cometidos por arma branca, vale destacar que são objetos que podem ser adquiridos com facilidade.