Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Caiado homenageia bombeiros e cães que participaram de operação em Brumadinho

Equipe goiana tinha, em média, quatro horas de descanso para voltar às atividades de buscas na região afetada pelo rompimento da barragem da Vale, em Minas Gerais

Postado em: 06-02-2019 às 06h01
Por: Sheyla Sousa
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Equipe goiana tinha, em média, quatro horas de descanso para voltar às atividades de buscas na região afetada pelo rompimento da barragem da Vale, em Minas Gerais

Jefferson Santos e Thiago Costa

Depois de 10 dias de trabalho intenso de resgate em Brumadinho, os seis bombeiros e cães retornaram a Goiás. Eles foram designados para as buscas de vítimas após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, Minas Gerais. A barragem de rejeitos se rompeu no dia 25 de janeiro e a lama destruiu o refeitório e o prédio da mineradora Vale, além de pousadas, casas e vegetação. A atuação dos bombeiros goianos em Minas Gerais ocorreu entre os dias 26 de janeiro e 4 de fevereiro.

Cabo Dias, um dos militares goianos que esteve envolvido nas buscas, ressaltou que os dias passados em solo mineiro os levaram ao limite. “Foi gratificante a gente ajudar o próximo, a proporcionar o mínimo de conformo para as famílias, de ter os seus entes queridos de volta. É triste a busca, mas alguém precisava fazer. Não nos alimentávamos direito, alguns pontos não chegava a marmita, comíamos sanduiche, biscoito ou barras de proteína. Passamos dificuldades. Passamos períodos de fome, não tinha jeito, tínhamos que segurar”, ressaltou.

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Sobre a experiência em auxiliar nas buscas, Dias contou que foi uma oportunidade única, e que a guarnição está pronta para auxiliar em outros desastres que possam ocorrer em outros locais do país. Os treinamentos recebidos pelos miliares serviram para o bom desempenho durante as busca. “Eu já participei de vários cursos de preparação em Goiás e fora do Estado, temos uma base boa pra isso. Em Brumadinho saímos da nossa zona de conforto, mas conseguimos um êxito nas buscas e voltamos com a sensação de dever cumprido”, contou Cabo Dias. 

O tenente Thiago Weining, responsável pela equipe goiana, disse ao O Hoje que não da para saber quantos corpos a equipe encontrou, mas diante de toda a situação, ele explica que todo o sofrimento e o fator negativo era convertido em empatia. “Eu canalizava a parte do sofrimento, do fator negativo que a gente vivia, a gente convertia em empatia, se colocando no lugar de outras pessoas, sofrendo a dor junto com elas e a partir da dor delas eu me automotivava para motivar a equipe a poder trabalhar com mais vontade e dedicação para tentar dar a resposta que todos os dias as famílias aos prantos buscavam”, explicou.

Ainda sobre os treinamentos, Weining destacou que “tínhamos capacitação para atuar nesse tipo de situação, não imaginamos ser empregados em uma situação tão catastrófica como essa em Brumadinho. Lá, pudemos ver a eficácia dos treinamentos que estávamos realizando com os cães. Vamos trazer as experiências para multiplicarmos, e capacitarmos a nossa tropa e se, a gente for empregado numa situação dessas, o que a gente espera que não aconteça, já temos uma experiência grandiosa”, disse Thiago Weining.

De acordo com os militares, a única preocupação era um novo rompimento. “O rompimento da segunda barragem nos causava um certo receio, existia a suspeita do rompimento, a gente sabia que quando chegasse em determinado ponto de buscas antes de iniciar o trabalho delimitavamos uma rota, e uma rota de acesso de fuga em uma parte elevada e determinados pontos eles estipulavam cerca de 30 a 40 segundos para a evacuação outros pontos um minuto e tinha os sinais sonoros da empresa pra poder nos alertar”, finalizou Thiago.

Homenagem 

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, homenageou ontem os seis bombeiros e cães que contribuíram para o trabalho de buscas às vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho. “Fiz questão absoluta de estar aqui porque esse evento tem um significado maior, ele tem aquilo que é exatamente o sentimento do povo goiano. É o sentimento da lealdade, da gratidão, da competência, da honestidade, da solidariedade e do amor ao próximo. Meus parabéns ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás”, agradeceu o governador.

Participaram da operação em Minas Gerais o 2º tenente Thiago Wening Barbosa, o subtenente Leonardo Dias Soares, os sargentos Sebastião Carlos da Costa e Julius Cezar Oliveira, bem como os cabos Ricardos Dias dos Reis e Vinicius Veloso. Eles estavam acompanhados das cadelas Saori, Bruma, Cristal, Hanna, Luna e Vênus. 

O governador ressaltou ainda que é uma honra ter uma tropa que se coloca à disposição para enfrentar adversidades e poder trazer esperança. “Faço essa referência e quero deixar claro que a homenagem de hoje é para cada um de vocês, e de forma especial, àqueles que foram a Brumadinho”, disse Caiado.  Os seis bombeiros são especialistas no atendimento de ocorrências com vítimas desorientadas ou desaparecidas em matas, escombros, deslizamentos ou na água. Já os cães são capazes de fazer buscas de pessoas vivas ou mortas em áreas rurais, áreas deslizadas e estruturas colapsadas. Com o faro, podem fazer varreduras em áreas rurais de 30 mil m² em cerca de 20 minutos, o que consumiria aproximadamente 30 bombeiros executando uma busca em alinhamento. 

Vítimas

Os dados divulgados pela Defesa Civil de Minas Gerais confirmam que a tragédia em Brumadinho até o momento já deixou 134 mortos e 199 pessoas estão desaparecidas.  

Cães goianos foram fundamentais para os trabalhos de resgate 

Ao todo seis cães capacitados foram para Brumadinho para encontrar sobreviventes e corpos entre a lama que tomou conta do município afetado diretamente após a barragem da Vale se romper, no município mineiro.

Como explica o Cabo Veloso, um dos bombeiros enviado pelo Estado de Goiás para cooperar nas buscas das vítimas do desastre da barragem de Brumadindo, os cães são treinados desde os primeiros meses de vida até seus aproximados dois anos de idade. 

Neste período, cada cão é analisado pelo bombeiro que será o seu treinador e trabalhará junto com esse cão. Os critérios para a escolha do cão na ninhada, de acordo com Veloso é, a interação do animal com os brinquedos oferecidos a ele e se esse cão é um que se diferencia dos demais na esperteza. 

Veloso explica que quando o animal se mostra interativo e reage bem à recompensa oferecida, que geralmente é um brinquedo, esse cão passa a se tornar parte do batalhão e recebe durante os próximos anos todas as instruções para localizar vítimas soterradas em desabamento de prédios, pessoas desaparecidas na mata e desastres naturais. 

Certificação

O Cabo Veloso é o responsável pela Veuns, uma das cadelas que participou dos resgates em Minas Gerais e que mais ficou presente com a corporação, já que em determinados momentos era impossível voltar com alguns cães para a base para que eles tivessem seu devido descanso. Veloso explica que tanto ela quanto os outros animais participaram de uma prova de certificação, que tem como principal objetivo comprovar que o animal está preparado para agir em situações que envolvam vítimas reais.

Durante o treinamento e na certificação, os cães são treinados para localizar as vítimas através do vento, técnica chamada de venteio. O venteio acontece porque cada pessoa, durante qualquer atividade, desde a comum as mais complexas, libera células pela pele, que tem uma característica própria e ajuda os cães a fazer essa localização graças a esses fragmentos naturais.   

“A gente condiciona o animal a gostar do brinquedo, mas para ele ganhar o brinquedo ele tem que achar a pessoa. Vai atrás do odor. Qualquer ser humano desprende células e o cachorro identifica essas células e sabe que tem uma pessoa ali e a acha. Quando o animal encontra a pessoa, ele late para nos informar que encontrou alguém”, explica Veloso. 

Segundo o Cabo Dias, um dos integrantes da corporação que viajou para Brumadinho e levou seu cão para as buscas, os animais goianos trabalharam na intenção de demarcar áreas com maior probabilidade da existência de pessoas soterradas em um local aproximado. Dias conta que sempre que alguma região era demarcada pela corporação goiana, a equipe acionava a base que encaminhava equipamentos para os resgates dos corpos. 

De acordo com ele, em alguns lugares os cães até tentavam chegar, mas por conta da densidade da lama, os animais recuavam, pois eles só vão até onde conseguem voltar em segurança.

Cansaço

Como explica o Cabo Dias, o cansaço dos cães foi extremo. De acordo com o militar, os cães que trabalhavam pela manhã, por exemplo, só voltavam ás buscas no outro dia de manhã. Dias ressalta que o descanso dos animais é fundamental para o bom desempenho durante a realização das buscas. 

“Teve dia que a cachorra Venus trabalhou o dia inteiro porque não tínhamos condições de deixar ela em algum local para descansar, então ela ficava com a gente. Às vezes não trabalhando tempo todo, mas acompanhava a gente e ficava na sombra descansando. Tinham veterinários no local que davam todo o suporte para os animais”, finaliza Dias. (Thiago Costa)  

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