Cirurgias eram vendidas há 15 anos

Servidor público prometia rapidez nos procedimentos, sem que pacientes passassem pela fila de espera. Esquema propiciou a realização de cirurgias no HGG e HC

Postado em: 14-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Servidor público prometia rapidez nos procedimentos, sem que pacientes passassem pela fila de espera. Esquema propiciou a realização de cirurgias no HGG e HC

Higor Santana*

Um servidor público foi preso ontem acusado de vender vagas para cirurgias em hospitais públicos do Estado. Eder Alves da Rocha, de 51 anos, cobrava de pacientes para que não precisassem ficar na fila de espera. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Eder praticou esse tipo de crime durante 15 anos. Os valores cobrados variavam de R$ 1,2 mil a R$ 2 mil, dependendo do tipo de intervenção e exigência dos pacientes.

Segundo o delegado Rhaniel Almeida, titular da Delegacia Estadual de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública (Decarp), em troca de dinheiro, Eder prometia aos pacientes mais rapidez nos procedimentos cirúrgicos, sem que eles passassem pela longa fila de espera. O servidor público, ainda garantia cirurgias eletivas e de emergência.

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Só em Goiás, pelo menos 180 adultos e crianças aguardam na fila de espera por cirurgia no coração, e mais de 240 pessoas aguardam para fazer transplante de rins. Em média, mais de 17 pessoas passam por procedimentos cirúrgicos diariamente na rede municipal de saúde, e em relação a outros estados, esse número é considerado baixo.

Eder foi preso em Goiânia e confessou ter cometido o crime, ele é funcionário comissionado da Prefeitura de Minaçu, onde atuava como assessor. De acordo com as investigações, ainda não foi comprovado se ele utilizava desse cargo para cometer o crime.

Segundo o delegado Rhaniel Almeida, uma parte do dinheiro era repassada a funcionários dos hospitais em que as cirurgias eram realizadas. A investigação conseguiu ainda, identificar outros quatro servidores que poderiam ter auxiliado no esquema. “Ainda investigamos que outras áreas e outros servidores podem estar atuando nesse esquema”, disse o delegado.

Investigações

O delegado afirma que as investigações começaram em setembro do ano passado. Uma mulher disse que pagou o valor por uma cirurgia, mas não conseguiu a vaga para fazer o procedimento, e então denunciou o servidor. Entretanto, o titular da Decarp disse que na maioria dos casos, Eder conseguia a aceleração para o procedimento.

“Ele abordava as pessoas em hospitais da Capital e dizia que conseguia que elas furassem a fila para a consulta e cirurgia. Ele tinha contatos com funcionários de postos de saúde e hospitais de Goiânia, que conseguiam fazer essa alteração na fila”, relatou o delegado.

Ainda de acordo com as investigações, caso o interessado fosse do interior, Eder conseguia fazer o cadastro no SUS como se ele morasse em Goiânia ou em Aparecida de Goiânia. “A partir daí, nós ainda estamos apurando como ele, de fato, passava esta pessoa na frente de outras que aguardavam dois, três, ou até mais anos por uma cirurgia estética, ou até de casos de saúde”, afirmou o delegado.

A polícia sabe que o esquema propiciou a realização de dezenas de cirurgias no Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi (HGG) e no Hospital das Clínicas (HC), mas não conseguiu apurar o número total de pessoas que teriam sido beneficiadas com o esquema. O suspeito vai responder por corrupção ativa e está detido no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.

A Secretaria de Saúde de Goiânia informou que ainda não foi notificada pela Polícia Civil sobre a denúncia, e que aguarda o resultado da investigação do caso. A secretaria informou ainda, que o Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG) identificou a possibilidade desse esquema e que foi feito uma denúncia junto à polícia em julho de 2018 e que levou, na época, o caso à Secretaria Estadual de Saúde. Por meio de nota o HGG reiterou ainda que as vagas da unidade são geridas pela Regulação Municipal de Saúde.

Goiás está entre os estados que apresenta o maior número de cirurgias pendentes. Entre as capitais e estados que disponibilizaram informações de perfil dos usuários, as mulheres representam 67% dos pacientes que aguardam algum tipo de procedimento especializado.

Crimes

Em abril do ano passado, dois homens foram presos com 1.050 doses de vacina contra a gripe H1N1, em Goiânia. De acordo coma Polícia Militar, os medicamentos foram furtados de postos de saúde de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, e eram vendidos mais baratos, para outras pessoas.

Segundo a PM, o enfermeiro Murillo Eguer de Paula Soares, de 28 anos, e o amigo José Maicon Fernandes Freitas, foram presos no momento em que tentavam vender a vacina para outros dois homens. Murillo era servidor da Secretaria Municipal de Aparecida de Goiânia, e negociava as doses pela internet. (Higor Santana é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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