Volta às aulas traz festival de infrações de trânsito na porta de colégios

Escolas particulares de Goiânia são obrigadas por lei a destinarem um espaço interno para a entrada e saída de carros para o embarque e desembarque de alunos

Postado em: 19-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Escolas particulares de Goiânia são obrigadas por lei a destinarem um espaço interno para a entrada e saída de carros para o embarque e desembarque de alunos

Thiago Costa

O fluxo intenso de carros parados de maneira irregular faz com que o trânsito de Goiânia seja diretamente impactado, principalmente nos horários de pico. Na porta das escolas o problema ganha outras proporções. Somente no primeiro semestre de 2018 a Superintendência Municipal de Trânsito (SMT) aplicou 2.814 multas para condutores de veículos que desrespeitaram as leis de trânsito e circulação nas vias públicas nas entradas de escolas de Goiânia. 

Esses horários cruciais para o trânsito em Goiânia são os períodos que a maioria das pessoas encerra suas atividades no trabalho, que é o mesmo horário que as unidades de ensino liberam os alunos para que os pais e responsáveis os busquem. De acordo com a SMT, o órgão mantém a fiscalização do trânsito como um todo, e nos pontos mais críticos, nas portas das escolas, os agentes circulam periodicamente. Mas apenas 20 agentes de trânsito atuam para fiscalizar os desrespeitos que ocorrem nas portas de todas as escolas da Capital. 

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De acordo com o diretor de ordenamento urbano da Secretaria de Planejamento Urbano e Habilitação (Seplanh), Celeocy Borges, as vagas para estacionamento em unidades de ensino particulares são exigidas de acordo com a metragem do estabelecimento. Ele explica que quanto maior for o estabelecimento, mais vagas serão exigidas para que a escola destine espaços para estacionamento dos pais e responsáveis.

Celeocy explica que é exigido uma vaga de estacionamento para cada 45 metros quadrados de área ocupada. “Neste espaço ocupado não conta no cálculo para a criação de estacionamento o pátio para recreação dos alunos e a quadra poliesportiva, quando essa quadra de esportes é de uso exclusivo dos alunos da instituição”, explica.

Celeocy garante que é exigido um pátio interno em escolas particulares de Goiânia para o embarque e desembarque de alunos. De acordo com ele a metragem de construção do pátio é calculada e deve ser correspondente a 5% da área ocupada pelo estacionamento. “Se o estacionamento da escola tem 30 vagas e cada vaga tem 12,5 metros quadrados, a área de embarque e desembarque de alunos deve ser de 5% do tamanho total de metros quadrados do estacionamento”, afirma. 

Ainda de acordo com o diretor de ordenamento urbano da Seplanh, as escolas com edificações levantadas anterior ao ano de 2017 podem ter o estacionamento com distância de até 300 metros em relação à unidade, mas o pátio para o embarque e desembarque deve ser interno ao empreendimento. 

Leva e traz 

A empresária Neide Almeida busca o neto em um educandário do Setor Bueno quase todos os dias. Ela explica que os horários de deixar e buscar a criança são críticos, já que o fluxo de veículos é muito grande e alguns motoristas não têm consciência e atrapalham o trânsito. Neide afirma que os motoristas que param nas portas das escolas causam para ela um atraso de 15 minutos. Normalmente, sem os carros parados nas portas das escolas atrapalhando a passagem, Neide gasta, em média, 5 minutos de casa à unidade que o neto estuda. 

Ela explica que a maioria dos motoristas fica travada no trânsito. Outro ponto levantado pela empresária é que, com a demora da fila para os pais e responsáveis conseguirem pegar suas crianças, muitos se interagem no aparelho celular e, de acordo com ela, a atitude pode ser ainda mais prejudicial para a lentidão nesses locais de conflito no trânsito. 

João Paulo Vilela é estudante de um colégio também no Setor Bueno. O estudante relata que a falta de compromisso de alguns motoristas atrapalha todo o trânsito na localidade. Ele explica que muitos responsáveis por levar e buscar os estudantes não são educados e conta que já presenciou situações de falta de respeito entre motoristas por conta do fluxo travado na porta do colégio. Enquanto alguns pais estacionaram em lugares impróprios, que acabou barrando todo o trânsito em frente ao colégio particular. 

O estudante explica que tem uma carga horária de aproximadas 10 horas de estudos por dia e quando é liberado do colégio para ir para casa é uma situação estressante. João Paulo conta que para solicitar um motorista por aplicativo de transporte ele prefere caminhar a um shopping próximo e acionar o motorista por lá, pois o estudante acha impossível conseguir localizar o carro solicitado com o grande fluxo de veículos que buscam os outros estudantes no mesmo horário.  

Unidades particulares investem em ‘Drive Thru’ para crianças  

Algumas instituições de ensino particular de Goiânia têm se preocupado com o trânsito na porta de seus estabelecimentos. No setor Bueno, por exemplo, um educandário visitado pela nossa reportagem tem orientado os responsáveis por entregar e buscar as crianças na escola, para que não atrapalhem o fluxo de veículos na via. 

Um dos maiores problemas vistos por lá é que a maioria desses motoristas não utiliza um método criado pela instituição, tipo Drive Thru, para os educadores entregarem as crianças aos responsáveis no carro dentro da unidade. Já os pais afirmam que a demora é o principal fator para não entrar com o carro dentro da unidade. 

Neide Almeida é empresária e sempre busca o neto em um educandário do Setor Bueno. A avó explica que, embora algumas unidades de ensino particulares tenham o método similar a um Drive Thru para receber e entregar as crianças aos responsáveis, ainda falta conscientização desses responsáveis para que a inovação resolva questões de trânsito nessas regiões.

“Tem mãe que entra, fica ali parada, da beijinho para entregar o menino. Demora, gente, pelo amor de Deus. Eu chego na porta e o meu neto já fica na porta. Eu falo para ele ‘fica na porta e quando eu parar na faixa você entra’. No Drive Thru não, a pessoa fica cinco minutos para tirar a criança de dentro do carro”, pondera a empresária. 

Neide se considera uma motorista que busca não atrapalhar o fluxo do trânsito e acredita que os outros motoristas deveriam ter mais agilidade. De acordo com a avó, já que esses responsáveis sabem o que foram fazer, que é deixar seus filhos na escola, eles deveriam ter mais agilidade para não atrapalhar o próximo. “Às vezes eu falo que eles não estão respeitando o outro que está atrás. Às vezes você também tem médico marcado, tem outras coisas pára fazer e o outro fica bloqueando e o fluxo não flui”, reclama Neide. 

Uma mãe que aguardava o filho na fila do Drive Thru do educandário, e preferiu não se identificar, disse que o trânsito na região é terrível, principalmente no horário que todos os pais vão à unidade ao mesmo tempo para buscar seus filhos. Ela reclama que, embora exista o Drive que facilita a entrada dos carros para pegar as crianças dentro da unidade de ensino de maneira que amenize a quantidade de veículos nas ruas, o método é demorado, pois cada criança precisa ser chamada e todo o processo de chamar esses alunos e eles chegarem ao carro, demora. 

Ela não esconde que já preferiu pegar o filho na porta da escola em vez de entrar no Drive Thru justamente por que o sistema é demorado. “A pressa é o que me faz não entrar no Drive Thru, algumas vezes. A gente está no corre-corre e a gente pede para chamar ali, mas a escola proibiu. A escola fez uma reunião e pediu para os pais e responsáveis não pegarem seus filhos na porta da escola e entrarem com os carros dentro da unidade de ensino”, disse a mãe. 

O empresário Giovanni Castro pondera que a decisão de usar ou não o Drive Criança, como ele chama, se dá pelo fluxo de carro na via e pela pressa do empresário. Giovanni afirma que se ele não puder aguardar o Drive, ele espera o filho na própria porta da escola, que também tem um espaço reservado e permitido para curtos períodos de estacionamento. Ele afirma que os motoristas que não acham vaga e não usam o Drive para pegar suas crianças são pessoas sem consciência. 

Giovanni afirma que utiliza o Drive, mas que o curto espaço dentro da instituição atrapalha a agilidade do processo. De acordo com o empresário, o método é uma segurança e facilidade para os pais, mas que deveria ser melhorado para ter mais eficácia. “O Drive Criança não resolve 100%, só ameniza. Os que atrapalham são os motoristas sem consciência”, afirma Giovanni.  

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