Trindade com coleta de lixo irregular

O bairro mais penalizado com o esquecimento do Poder Público é o Barcelos, que vê o setor vizinho, o Marista, receber da prefeitura a atenção que necessita

Postado em: 28-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Trindade com coleta de lixo irregular
O bairro mais penalizado com o esquecimento do Poder Público é o Barcelos, que vê o setor vizinho, o Marista, receber da prefeitura a atenção que necessita

Thiago Costa

A coleta de resíduos sólidos em Trindade, município a 26 quilômetros da Capital, demora até 15 dias para ser feita, segundo moradores. A região que mais sofre com a ausência dos profissionais da coleta do lixo domiciliar é o setor Barcelos, na região leste da cidade. Moradores reclamam que precisam armazenar o lixo dentro das casas, o que gera um problema de forte odor advindos dos sacos de lixos. Alguns não conseguem armazenar os resíduos sólidos dentro de casa e recorrem às lixeiras na rua, que gera um acúmulo de lixo exposto nas ruas da cidade. 

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A moradora do setor Barcelos, Elizabete Sena, reclama que o bairro que ela mora com a família só recebe a visita dos coletores de resíduos sólidos – lixo residencial – de 15 em 15 dias. Ela explica que os sacos de lixos precisam ficar nas portas das casas dos moradores e que antes dessa realidade, a coleta era feita às terças, quintas-feiras e sábados. Elizabete compara que agora o caminhão da coleta é visto na rua duas vezes por mês. 

Um dos prejuízos apontados por ela é que, com o grande acúmulo de lixo na rua as casas estão infestadas por insetos como moscas e bichos no lixo. Durante os períodos de refeições no lar da família, ela explica que é necessário travar uma luta com os insetos, principalmente com as moscas, que tentam o tempo todo depositar os ovos de varejeira nos alimentos. 

Outro fato que gera revolta aos moradores é a atenção diferenciada que os bairros vizinhos recebem. A moradora explica que o bairro Jardim Marista e o bairro Barcelos é dividido apenas pela avenida República e mesmo com a pequena barreira física, o trato com as questões básicas é gigantesca. Segundo ela, enquanto a rua do outro bairro, a poucos metros de sua casa, é totalmente assistido pelo Poder Público, enquanto a própria rua está totalmente esquecida. “Não temos sossego para almoçar com as moscas em cima da gente. É por isso que queremos que esse lixo não fique aqui na rua”, afirma Elizabete.

Elizabete conta que entrou em contato com a reportagem do O Hoje para pedir ajuda, já que a situação negativa da região passa dos limites aceitáveis para os moradores do bairro. “Tem oito dias que tem lixo aqui na porta da minha casa. Quando está chegando o décimo quinto dia sem receber a coleta, sabemos que eles vão passar e a gente coloca a maior quantidade de lixo para fora” finaliza a moradora.

Com os mesmos problemas apontados por Elizabete, outra moradora, do bairro Barcelos, tem as mesmas reclamações. Aparecida Luzia se queixa de ter que armazenar o lixo dentro de casa. Além do mau cheiro, a dona de casa ainda tem que cuidar para que seus três cachorros não rasguem os sacos e espalhem os resíduos dentro do imóvel. “Os cachorros mechem no lixo e esse acúmulos na minha casa traz muitos problemas para o meu lar. Muitos insetos vem por conta do lixo”, conta. 

Aparecida se sente abandonada pelo Poder Público e diz que os moradores do bairros se sentes desprezados. Ela afirma que a prefeitura olha muito a dor dos outros bairros, mas que não se importa com o bairro Barcelos. “A prefeitura despreza os moradores do bairro Barcelos. Sempre foi assim, desde quando eu me mudei pra cá. Eles –prefeitura – tinha que fazer a parte deles. Se ele – o prefeito – cuidasse do Barcelos como ele cuida do Marista, que é o setor ali do outro lado da avenida, estava muito bom”, cobra Aparecida. 

Em nota enviada à reportagem, o documento diz que o prefeito de Trindade reuniu com secretários para tomar providências para solucionar esse atraso na coleta de lixo, que é sabido pela administração municipal. “Nos últimos dias, o município enfrenta problemas no que diz respeito à execução do contrato por parte da empresa, que já foi notificada extrajudicialmente para o pleno cumprimento de suas obrigações. Existe um contrato de prestação de serviços entre a Prefeitura Municipal de Trindade e a RO Ambiental (nº 047/2018), oriundo do Pregão Eletrônico nº 136/2017. Os pagamentos estão rigorosamente em dia”, diz a nota. 

As informações do documento explicam que, diante da falta de resposta por parte da empresa em relação aos quesitos que constam da notificação extrajudicial, o prefeito de Trindade, Janio Darrot, busca uma solução de imediato. A Prefeitura de Trindade disse que diante da má prestação de serviços por parte da empresa RO Ambiental, cujo contrato expira sua vigência em 07/03/2019, ficou definido pela atual administração que não será aditivado o contrato nº 047/2018. Desta forma, já foi iniciada abertura de um novo procedimento licitatório por meio do processo nº 2019002934, datado do dia 1º/02/2019, tendo em vista a substituição da contratada. 

Ainda de acordo com a nota, esse procedimento, como todos os outros, está pautado na legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, princípios constitucionais que norteiam a administração pública. “A gestão municipal se desdobra na busca de soluções imediatas para que o município e seus moradores não fiquem prejudicados. A Prefeitura de Trindade preza pelo bem-estar das comunidades, sempre em defesa do meio ambiente e da vida”, finaliza a nota. 

De acordo com o diretor operacional da RO Ambiental, Tiago Oliveira, empresa responsável pela coleta de resíduos sólidos em Trindade, a empresa passa por um momento de dificuldade financeira. Ele explica que as despesas para executar o trabalho aumentaram e esse aumento reflete diretamente na operação das atividades, que é uma operação com pouco orçamento. “A gente está entregando o contrato, que vence agora e a prefeitura de Trindade já colocou para licitar o contrato novamente. Eles vão colocar uma empresa nova e nós vamos terminar de cumprir o contrato certinho”, garantiu. 

Ele conta que, em relação ao problema na coleta no município, foi uma questão pontual e não contínua. Tiago explica que houve um atraso de dois dias de no pagamento dos profissionais que recolhem os lixos nas residências da cidade, o que os fez fazer uma greve que não possibilitou a empresa ter  espaço com esses profissionais para o diálogo. “Então aconteceu de um ou dois dias ter atraso no pagamento desse pessoal, mas a nossa coleta vinha sendo feita com bastante qualidade, apesar do aperto que a empresa tem passado” ressalta Tiago. 

 

Moradores se sentem injustiçados por ver bairro vizinho bem cuidado  

Moradores de Trindade reclamam que a coleta de resíduos sólidos – lixo domiciliar –  não é feita regularmente como antes. De acordo com alguns moradores do setor Barcelos, o setor é tratado muito diferente m relação ao bairro vizinho, que tem apenas uma avenida o separando do bairro que mora, quando o assunto é a manutenção pública das ruas, lixo e iluminação. Elizabete Sena acredita que a Prefeitura tenha que fazer algo a mais para solucionar todos os problemas da região e não apenas do setor Marista. 

Como explica Elizabete, os problemas não são resumidos na falta de coleta do lixo que tem ocorrido de quinze em quinze dias, mas que o poder público deve entender que o setor também faz parte do município. Ela afirma que a prefeitura pensa, inclusive, que o setor não é dentro de Trindade. “Eles deveriam fazer algo a mais em relação ao asfalto, o mato alto nos lotes baldios, acabar com os buracos do bairro, resolver isso tudo”, reclama. 

Aparecida Luzia acredita que a prefeitura deve solucionar os problemas do município de uma forma ou outra. Ela pede para que exista um plano “b” para ocasiões que o plano “A” não seja viável para a cidade, como a coleta de lixo do setor que ela mora com a família, que antes era retirado pelos profissionais da coleta de lixo e agora acontece apenas de quinze em quinze dias e atrapalha diretamente a vida de todos os moradores do setor Barcelos. 

Os moradores reclamam que a falta de iluminação aumenta o risco de violência na localidade e os buracos cooperam para a menor fluidez do trânsito, o que pode auxiliar as estratégias dos criminosos para abordar as vítimas. “O poder público não está confiante mais. Nunca foi e agora piorou. Eles não têm consciência do dever deles”, afirma Aparecida Luzia. 

A moradora pondera que não importa como, o que realmente vale é que as situações pertinentes ao município devem ser resolvidos. “Ele não pode jogar a bola para os moradores. Os moradores fazem a parte deles que é pagar os impostos”, finaliza Aparecida. 

Ela explica que em algumas situações, quando a quantidade de lixo armazenado em casa não é mais possível permanecer dentro da residência, os moradores necessitam atear fogo a esses resíduos sólidos. Ela reclama que a fumaça que eles precisam produzir causam problemas respiratórios em toda a vizinhança e que no setor vizinho, o Marista, que é do outro lado da rua que ela mora não tem esses problemas e que a Prefeitura de Trindade não deixa de fazer a obrigação deste outro lado da avenida. 

Aparecida Luzia confessa que já precisou recorrer a atear fogo no lixo de casa, mas que fez isso no próprio lote. Ela tem consciência que é algo não muito agradável, mas se justifica e afirma que se não for assim, não tem como amenizar o acúmulo de lixo dentro de casa. “Tem que queimar o lixo. Como é que faz? Como é que vai deixar o lixo assim, jogado? O lixo que pode queimar a gente queima” afirma Aparecida. 

Ela explica que nos períodos de refeições em casa é necessário ter habilidade para que as moscas não assentarem os ovos de varejeira nos alimentos. Ela indica a maior quantidade dos insetos na região graças ao lixo que, após problemas entre a Prefeitura e empresa responsável pela coleta, parou de ser coletado três vezes por semana e agora é retirado de quinze em quinze dias. 

 

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