Lama da Samarco contaminou corais do Parque dos Abrolhos na Bahia

O recife de corais do parque é considerado o mais importante de todo o Atlântico Sul

Postado em: 05-03-2019 às 13h30
Por: Suzana Ferreira Meira
Imagem Ilustrando a Notícia: Lama da Samarco contaminou corais do Parque dos Abrolhos na Bahia
O recife de corais do parque é considerado o mais importante de todo o Atlântico Sul

O rompimento da barragem da
Samarco, em Mariana, Minas Gerais, causou danos “irreparáveis” aos corais do
Parque Nacional dos Abrolhos, na Bahia, o recife de corais mais importante de
todo o Atlântico Sul.

A informação consta de estudo
feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Foi comprovado que
os corais do Parque Nacional dos Abrolhos sofreram “impactos significativos”
decorrentes da contaminação por rejeitos despejados nas ilhas após o rompimento
da barragem de Fundão em 2015.

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De acordo com o relatório de
quase 50 páginas, os pesquisadores apresentam análises detalhadas com a
presença de metais nessas estruturas, demonstrando notória incorporação de
zinco e cobre, entre outros elementos.

Segundo o estudo, os resíduos do
beneficiamento de minério se espalharam rapidamente pelo Rio Doce e, em
seguida, começam a atingir a região costeira. A avaliação dos pesquisadores é
que a abrangência geográfica do impacto decorrente do rompimento e da lama não
pode ser visível ao observador comum.

O entendimento é que o rompimento
causou mais dano ao ecossistema do que pelo volume de material volúvel que
atinge as camadas mais profundas da coluna d’água, em geometrias mais finas.

O coordenador do estudo, o
pesquisador Heitor Evangelista, do Laboratório de Radiologia e Mudanças Globais
da Uerj, afirmou à Agência Brasil que o dano causado ao recife de Corais de
Abrolhos é irreparável, devido à extensão da área atingida.

“O nosso papel é saber em que
medida a área foi impactada. E, a partir daí, deflagrar mecanismos de
monitoramento para descobrir qual vai ser a resposta biológica diante desse
fato. Não há como remediar, mas nós precisamos aprender com esse processo”,
disse.

Para ele, há necessidade
imperativa de se aprender com a tragédia e avaliar com mais cautela a extensão
dos danos causados. “Porque remediar, na minha opinião, é praticamente
impossível dada a escala geográfica desse impacto. O que nós temos e precisamos
é apreender alguma lição  com esse
rompimento. É preciso obervar que a preservação [do recife de corais] vinha
sendo ameaçada pela temperatura mais alta da água dos oceanos em decorrência de
fatores climáticos. Agora, precisamos monitorar o dano para antever o que pode
acontecer”.

Pesquisa

A pesquisa envolveu seis
laboratórios da Uerj e também contou com a colaboração da Universidade Federal
Fluminense (UFF) e da Pontifícia Unidade Católica (PUC-Rio).

Com o objetivo de acompanhar a
dispersão da lama do Rio Doce até o mar, o coordenador do trabalho, Heitor
Evangelista, do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (LARAMG),
chegou a criar uma página no facebook, a Abrolhos Sky Watch.

“Eu e meus alunos acompanhamos
diariamente as imagens de satélite e colocamos na internet para o público
acompanhar o problema”.

O monitoramento alertou que os
rejeitos poderiam chegar ao parque marinho, localizado a cerca de 250 km da
foz. “A gente já desenvolvia um trabalho em Abrolhos, com corais. Então, entrei
em contato com o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade], em Brasília, e programei uma coleta de duas colônias no
arquipélago”, explicou.

“Constatamos que no
crescimento dos corais houve um pico enorme de metais pesados, que coincide
exatamente com a cronologia da chegada da pluma de sedimentos da Samarco” à
costa, disse.

Variabilidade oceânica

O pesquisador da Uerj lembrou que
sua equipe vem trabalhando em Abrolhos desde 2005, e que “os corais são
testemunhas da variabilidade oceânica. Eles produzem esqueletos e na medida em
que vão crescendo depositam carbonato de cálcio. Nessas camadas podemos
identificar a idade e  o periodo da
estação do ano em esse fato aconteceu.”

Segundo o coordenador, o recife
de corais do Parque dos Abrolhos é considerado o mais importante de todo o
Atlântico Sul. “E não estou falando só da costa brasileira, mas de toda a massa
d’água do oceano. É responsabilidade nossa, enquanto brasileiro e pesquisador,
zelar por esse patrimônio que é de todos nós”. (Agência Brasil)

 

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