Água é considerada boa em apenas 6,5% dos rios da Mata Atlântica

O estudo da Fundação SOS Atlântica foi divulgado hoje (22), Dia Mundial da Água

Postado em: 22-03-2019 às 10h15
Por: Suzana Ferreira Meira
Imagem Ilustrando a Notícia: Água é considerada boa em apenas 6,5% dos rios da Mata Atlântica
O estudo da Fundação SOS Atlântica foi divulgado hoje (22), Dia Mundial da Água

Em apenas 6,5% dos rios da bacia da
Mata Atlântica, a qualidade da água é considerada boa e própria para o consumo,
de acordo com relatório divulgado hoje (22), Dia Mundial da Água, pela Fundação
SOS Mata Atlântica. Dos 278 pontos de coleta de água monitorados em um total de
220 rios, 74,5% apresentam qualidade regular, 17,6% são ruins e, em 1,4%, a
situação é péssima. Nenhuma amostra foi considerada ótima.

A conclusão do relatório O
Retrato da Qualidade da Água nas Bacias da Mata Atlântica
é que os rios
estão perdendo lentamente a capacidade de abrigar vida, de abastecer a
população e de promover saúde e lazer para a sociedade.

Continua após a publicidade

“Os rios brasileiros estão por um triz, seja por
agressões geradas por grandes desastres ou por conta dos maus usos da água no
dia a dia. Nossos rios estão sendo condenados pela falta de boa governança”,
disse a especialista em água Malu Ribeiro, assessora da SOS Mata Atlântica.

A qualidade de água péssima e ruim, obtida em 19%
dos pontos monitorados, mostra que 53 rios estão indisponíveis – com água
imprópria para usos – por conta da poluição e da precária condição ambiental
das suas bacias hidrográficas, segundo a fundação.

O relatório traz o balanço das análises feitas nos
220 rios, de 103 municípios dos 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica. Nos
278 pontos monitorados, foram feitas 2.066 análises de indicadores
internacionais que integram o Índice de Qualidade da Água (IQA), composto por
16 parâmetros físicos, químicos e biológicos na metodologia desenvolvida pela
SOS Mata Atlântica.

Comparativo

A SOS Mata Atlântica considera que houve poucos
avanços na gestão da água dos rios da bacia. Com o relatório deste ano, foi
possível mensurar, pela primeira vez, a evolução dos indicadores de qualidade
da água em todos os 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica, comparando com o
ciclo de monitoramento anterior, no ano passado, quando foram coletadas
amostras em 236 pontos.

Considerando apenas os mesmos 236 pontos de coleta,
os índices considerados regular (78% em 2018 e 75,4% em 2019) e ruim (17,4% em
2018 e 16,9% em 201) não apresentaram diferenças significativas. Já os pontos
péssimos passaram de zero para três e os considerados bons de 11 para 15.

“[As contaminações] refletem a falta de saneamento
ambiental, a ineficiência ou falência do modelo adotado, o desrespeito aos
direitos humanos e o subdesenvolvimento”, disse Cesar Pegoraro, biólogo e
educador ambiental da Fundação SOS Mata Atlântica.

Para melhorar o índice de qualidade das águas da
Mata Atlântica, a entidade avalia ser fundamental que a Política Nacional de
Recursos Hídricos seja implementada em todo território nacional, de forma
descentralizada e participativa, por meio dos comitês de bacias hidrográficas.

A fundação ressalta que os rios que se mantiveram
na condição boa ao longo de anos, comprovam a relação direta com a existência
da floresta, de matas nativas e as áreas protegidas no seu entorno. “O inverso
também está demonstrado por meio da perda de qualidade da água, nos indicadores
ruim e péssimo obtidos quando se desprotege nascentes, margens de rios e áreas
de manancial, com o uso inadequado do solo e o desmatamento”, avalia a SOS Mata
Atlântica.

São Francisco

Entre os principais
alertas feitos pela entidade a partir do resultado do estudo das amostras, está
o fato de que o rio São Francisco já está contaminado com rejeitos da barragem
Córrego do Feijão, da empresa Vale, que se rompeu em 25 de janeiro,
no município de Brumadinho (MG).

Dos 12 pontos analisados no São Francisco, nove
estavam com condição ruim e três, regular, o que torna o trecho a partir do
Reservatório de Retiro Baixo – entre os municípios de Felixlândia e Pompéu –
até o Reservatório de Três Marias, no Alto São Francisco, com água imprópria
para usos da população.

Nesses pontos de coleta, a turbidez – transparência
da água – estava acima dos limites legais definidos pela Resolução 357 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), para qualidade da água doce
superficial. Em alguns locais, esse indicador chegou a alcançar duas a seis
vezes mais que o permitido pela resolução.

Segundo a
entidade, as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estavam
acima dos limites máximos permitidos pela legislação, o que evidencia o impacto
da pluma de rejeitos de minério sobre o Alto São Francisco.

“Os dados comprovam que o Reservatório
de Retiro Baixo está segurando o maior volume dos rejeitos de minério que vem
sendo carreados pelo Paraopeba. Apesar das medidas tomadas no sentido de evitar
que os rejeitos atinjam o rio São Francisco, os contaminantes mais finos estão
ultrapassando o reservatório e descendo o rio e já são percebidos nas análises
em padrões elevados”, divulgou a SOS Mata Atlântica.

Indicador ANA

A Agência Nacional de Águas (ANA) afirma que os rios
brasileiros têm Índice de Qualidade das Águas (IQA) – indicador que analisa
nove parâmetros físicos, químicos e biológicos – considerado bom na maioria dos
pontos monitorados, mas que o índice cai perto das regiões metropolitanas,
sendo que várias delas coincidem com o bioma Mata Atlântica, e em alguns
reservatórios do Semiárido.

“Vários fatores podem contribuir para a melhoria da
qualidade da água. Ações de controle da poluição hídrica influenciam para a
melhora do IQA, especialmente por meio do tratamento de esgotos, controle da
poluição industrial e das práticas agrícolas. Variáveis climáticas, tais como
mudanças prolongadas no regime de chuvas e no escoamento superficial, também
têm o potencial de influenciar o indicador”, informou, em nota, a ANA.

Atlas Esgotos, lançado pela ANA em 2017,
mostrou que os esgotos domésticos não tratados são uma grande fonte de poluição
pontual no país, que influencia negativamente os níveis de oxigênio das águas.
(Agência Brasil)

 

Veja Também