Abortos são negociados livremente na Internet

HMI registrou no ano passado 21 interrupções legais de gravidez

Postado em: 25-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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HMI registrou no ano passado 21 interrupções legais de gravidez

Isabela Martins*

Metade das mulheres que realiza aborto ilegal adquire remédios na internet ou com fornecedores clandestinos. Apenas os hospitais podem adquiri-los. Foram gastos nos últimos 10 anos cerca de R$ 500 milhões no Sistema Único de Saúde (SUS) em tratamentos de complicações causadas por abortos ilegais. O Hospital Materno Infantil (HMI) é a única unidade pública de Goiás autorizada a realizar aborto. A unidade conta com o Ambulatório de Atendimento a Vitimas de Violência Sexual (AAVVS). 

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Em 2018 foram realizados 334 atendimentos, sendo 53 de gestantes com 21 interrupções efetuadas no HMI. Já nos primeiros meses do ano foram 60 atendimentos, sendo quatro interrupções. 

Em clínicas clandestinas o atendimento é feito por um ginecologista ou obstetra que a informa de quanto tempo é a gravidez e explica como será o procedimento, quantia a ser paga, e faz exames para ter certeza do tempo da gestação. Eles podem ser de toque, de urina ou ultrassom. 

Casos de até três meses de gravidez pode custar cerca de R$ 5 mil. Três meses e meio pode subir para R$ 6 mil, próximo a cinco meses e meio tempo máximo que o médico pode abortar o valor pode chegar até R$ 15 mil. Existem três possibilidades de procedimentos. Curetagem e aspiração intrauterina para até 12 semanas, e uso de da substância Misopostrol, se o feto apresentar ossos ou tiver até 22 semanas. 

A médica do HMI Daniella Nasciutti explica que se o procedimento é realizado em um hospital ele será de forma segura, assistida por uma equipe multidisciplinar, com médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social que vai garantir todos os direitos dessa mulher. 

Ela explica os riscos para a saúde ao se realizar procedimento de forma irregular, em clínicas clandestinas ou comprando o medicamento de forma ilegal. “Ela tem riscos de ter uma infecção, de ter um sangramento, uma hemorragia, de perder o útero, de perder a vida. Dependendo de como realizado, que não seguem regras de segurança, protocolos de segurança”. 

Violência sexual 

As vítimas de violência sexual recebem no HMI atendimento e tratamento com direito a acompanhamento por uma equipe multidisciplinar e apoio psicológico. O ambulatório presta atendimento integral às vítimas de violência sexual que chegam ao hospital espontaneamente, o que são encaminhados por delegacias, unidades básicas de saúde, conselhos tutelares ou pelo Ministério Público. 

O atendimento é realizado por uma equipe que inclui médicos ginecologistas e obstetras, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. As consultas incluem exames físicos, anticoncepção de emergência, medidas de prevenção de doenças transmissíveis, incluindo hepatite e HIV-AIDS.

Em torno de 5% das mulheres que sofrem violência acabam se deparando com gravidez, o que se torna uma segunda violência. No código penal desde 1940 está previsto que o aborto é permitido por lei em casos de estupro, o que encontra resistência nos dias de hoje, como explica a médica do HMI Daniella Nasciutti. “Quando ela fica gestante em decorrência de uma violência, ela tem o direito de procurar um ambulatório e solicitar uma interrupção de forma legal”.   

No Brasil o aborto é permitido em casos de estupro, se a gravidez oferecer risco a vida da mãe e quando o feto for anencefálico. Segundo o dado da Pesquisa Nacional do Aborto de 2016 realizada pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero mostra que uma em cada cinco mulheres até os 40 anos no país já abortou. Segundo o Ministério da Saúde, em um dia o Sistema Único de Saúde (SUS) faz abortos legais em cinco mulheres. 

Ilegal

Segundo a pesquisa, países em que o aborto é proibido 97% das interrupções da gravidez acontecem de forma insegura. É o caso do Brasil. Cerca de 1.500 mulheres abortam todos os dias, e metade delas vai parar no hospital por conta de complicações do procedimento. Complicações por esse tipo de aborto é a 4ª causa de morte materna. (Isabela Martins é estagiária do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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