ONG alerta que 10% do lixo plástico nos oceanos vêm de pesca fantasma
São os equipamentos de pesca abandonados que ameaçam as espécies
Por: Suzana Ferreira Meira
![Imagem Ilustrando a Notícia: ONG alerta que 10% do lixo plástico nos oceanos vêm de pesca fantasma](https://ohoje.com/public/imagens/fotos/amp/ee99794f71ab4f109e030ce0d512b723.jpg)
Quando um filé de peixe chega na mesa de um cliente no
restaurante ou quando alguém compra uma lata de atum no mercado, não é difícil
de imaginar que antes daquele momento toda uma cadeia de produção entrou em
cena, desde o pescador artesanal ou um navio pesqueiro, até o preparo final
para o consumo. O que poucos sabem é que existem muitos equipamentos de pesca
abandonados no oceano ameaçando várias espécies da vida marinha. A isso se dá o
nome de pesca fantasma.
“Dez
por cento do lixo plástico marinho que entra nos oceanos todos os anos é
equipamento de pesca perdido ou abandonado nos mares. E esses materiais, por
terem sido desenhados para fazer captura, eles têm uma capacidade de capturar e
gerar um sofrimento nos animais, com impacto em conservação”, explica o gerente
de vida silvestre da organização não governamental (ONG) Proteção Animal
Mundial, João Almeida.
A ONG lançou este mês a segunda edição do
relatório Fantasma sob as Ondas. O
estudo mostra que a cada ano 800 mil toneladas de equipamentos ou fragmentos de
equipamentos de pesca, chamados de petrechos, são perdidos ou descartados nos
oceanos de todo o planeta. Essa quantidade representa 10% de todo o plástico
que entra no oceano. No Brasil, estima-se que 580 quilos desse tipo de material
seja perdido ou descartado no mar todos os dias.
Dentre
os petrechos mais comuns estão as redes de arrasto, linhas, anzóis, linhéis,
potes e gaiolas. Esses petrechos podem matar de várias formas. Os animais podem
ficar feridos ou mutilados na tentativa de escaparem, presos e vulneráveis a
predadores ou não conseguem se alimentar e morrem de fome.
O
estudo avalia a atuação das grandes empresas pescado e as providências que
tomam – ou não tomam – para evitar a morte desnecessária de peixes. A versão
internacional do relatório elencou 25 empresas de pescado em cinco níveis,
sendo o nível 1 representando a aplicação das melhores práticas e o nível 5 com
empresas não engajadas com a solução do problema.
Brasil
Nenhuma das 25 empresas atingiu o nível 1, embora três grandes empresas
do mercado mundial (Thai Union, TriMarine, Bolton Group) tenham entrado no
nível 2 pela primeira vez. O estudo inclui duas empresas com atuação no Brasil,
o Grupo Calvo, produtor da marca Gomes da Costa, e Camil, produtora das marcas
O Pescador e Coqueiro.
O Grupo Calvo foi classificado no nível 4. Significa que, apesar do tema
estar previsto nas ações da empresa, as evidências de implementação são
limitadas. Já a Camil foi colocada no nível 5. Segundo relatório, a empresa
“não prevê soluções para o problema em sua agenda de negócios”.
Procurado, o Grupo Calvo, cuja matriz é espanhola, afirmou que os
produtos Gomes da Costa são fabricados a partir de material comprado de
pescadores locais, que utilizam métodos de pesca artesanal. A empresa também
informou que reconhece o problema de abandono de objetos e tem tomado
providências a respeito.
“[A empresa] conta, entre outras medidas, com observadores científicos
independentes a bordo de todos os seus atuneiros, além de observadores
eletrônicos em embarcações de apoio, controle constante por satélite, técnicas
para reduzir capturas acessórias, proibição de transbordos no alto-mar e de
devoluções”.
Procurada, a Camil informou que não iria se manifestar a respeito dos
resultados da pesquisa e sobre pesca fantasma.
De acordo com o gerente da Proteção Animal Mundial, uma das principais
metas do estudo é fazer os governos enxergarem cada vez mais a pesca fantasma
como um problema relevante e carente de políticas públicas eficientes.
“Como uma das principais recomendações, a gente identificou a
necessidade dos governos absorverem para a sua agenda a questão da pesca
fantasma para, então, criar as estruturas necessárias, criar um diagnóstico e a
gente começar a entender o problema. E, em um segundo momento, criar condições
para combatê-lo efetivamente”. (Agência
Brasil)