Praça Universitária será reformada

Palco da diversidade cultural goiana, Praça Universitária vai ganhar uma revitalização nos próximos meses. O Palácio da Cultura, que está depredado, vai receber atenção especial

Postado em: 03-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Palco da diversidade cultural goiana, Praça Universitária vai ganhar uma revitalização nos próximos meses. O Palácio da Cultura, que está depredado, vai receber atenção especial

Igor Caldas*

A Praça Universitária é um ponto de encontro de várias gerações de goianienses que usam o espaço para o lazer. Além de estudantes que frequentam os vários campi de universidades que circundam o local, a praça também é historicamente usada em eventos e manifestações políticas e culturais. O local que exibe obras de arte e esculturas de valor inestimável e divide espaço com a arte de intervenções urbanas tem a promessa de uma nova reforma, a altura de sua importância, na Capital. A obra deverá ser iniciada no próximo mês, com previsão para o término da reforma no segundo semestre deste ano.

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O projeto feito pela Secretaria de Infraestrutura de Goiânia promete revitalizar o Palácio da Cultura onde fica localizada a Biblioteca Marieta Telles, com a reforma dos pisos, dos banheiros, da rede elétrica e hidráulica, além de dar uma função ao piso superior do edifício, que está abandonado e é usado como abrigo para pessoas em situação de rua.

O Palácio da Cultura vive hoje seu pior momento dentro da Praça Universitária. O local que já foi cenário de mostras de arte e também de inúmeras exposições culturais está abandonado. O segundo andar do espaço já acolheu figuras importantes do meio cultural goiano e hoje é alvo de depredações e muitas vezes é usado como banheiro, exalando um forte cheiro de urina e excrementos. O local urge por uma reforma que recupere sua função social na cidade.

Um dos estabelecimentos comerciais mais antigos e mais frequentados na praça é o Bar da Tia, Primo e Tio. Marilene da Graça Lomazzi Franco, conhecida simplesmente por Tia, é proprietária do estabelecimento há 34 anos. Ela afirma que já faz tanto tempo que a praça e o Setor Leste Universitário deixam de ser lugares tranquilos que não consegue nem precisar a época exata deste período.

“Antigamente, a gente morava na 6º avenida, pegava o dinheiro recebido pelas vendas do bar e ia pra casa a pé. Ninguém mexia com a gente. Hoje, temos um funcionário específico para levar o dinheiro e os cigarros por questão de segurança. Não podemos deixar nada dentro do bar por que se não os bandidos arrombam”, afirma a Tia.

Marilene afirma que em setembro do último ano, seu bar foi arrombado e isso trouxe um prejuízo muito grande a sua família. Ela também denunciou à reportagem que o Palácio da Cultura foi arrombado durante o período do Carnaval e que os bandidos levaram vários objetos de valor como computadores, eletrodomésticos e móveis. A Tia diz que a prefeitura não ouviu nenhum comerciante local para fazer o planejamento da reforma. No entanto, acredita que pode haver melhora se o poder público se comprometer com a manutenção da praça após a reforma.

A praça sofreu uma reforma no ano de 2011 que fez a manutenção e troca do calçamento do espaço, assim como a melhoria da iluminação. No entanto, a proprietária do bar lamenta que depois da reforma houve pouca manutenção na praça, motivo pelo qual os problemas de falta de iluminação, ausência de podas das árvores, depredações e ocorrência de crimes voltaram a aparecer.

Lomazzi lamenta que o policiamento da praça não seja suficiente para inibir a ocorrência de crimes no local. “Temos policiamento ao redor da praça, mas não vejo ação da polícia. Eles entram na praça, dão um ‘baculeijo’ nas pessoas e vão embora. Mas, depois que eles saem, a situação continua a mesma. “Assaltos e o tráfico de drogas rolam solto”. 

Falta de iluminação

A falta de iluminação da praça também favorece a ocorrência de furtos e assaltos contra as pessoas que circulam entre as árvores nos caminhos escuros do local. A deficiência na segurança pode torná-la um lugar macabro à noite, difícil de ser desviado pelos milhares de estudantes que frequentam as faculdades localizadas no entorno. O projeto de revitalização também prevê a troca das tradicionais lâmpadas amarelas da praça por lâmpadas de LED brancas que trazem melhor visibilidade. A reforma também prevê um espaço fixo para a Guarda Civil Metropolitana.

Na praça funciona hoje um dos maiores museus a céu aberto da América Latina que vai ser ampliado pela reforma. A previsão é de que o número de esculturas expostas no espaço salte de 26 para 38 obras. Também está previsto a construção de um ateliê ao ar livre, onde os transeuntes poderão assistir aos artistas trabalhando em suas obras durante um passeio. Atualmente, muitas destas esculturas expostas estão depredadas.

No projeto também consta a construção de duas quadras poliesportivas e uma pista de skate. A praça também terá adequação dos espaços para convivência e instalação de feiras. Será realizado um trabalho de melhoria da acessibilidade e segurança, construindo rampas e sinalização para pessoas com deficiência visual. 

Shows

Na noite da última sexta-feira (29) a praça foi embalada ao som do Rap. O beat ecoado pelos auto-falantes em sincronia com as rimas disparadas no microfone movimentou a praça. Todo equipamento foi fornecido pelos próprios artistas independentes que se apresentaram no local. O Bar da Tia, Primo e Tio, que deu apoio ao evento, ficou lotado. A diversidade do público presente saltava aos olhos. 

No balcão, trocando as fichas por cervejas para o público sedento, Lênio Lomazzi (Primo), se emociona ao lembrar que o bar fez aniversário de 34 anos no mês de março. “Chego a ficar arrepiado quando lembro da nossa história aqui dentro. É muito lindo. Observe a pluralidade do público que está aqui. Reina a diversidade de cor, de idade, de estilo e de classe social”, comemora Primo.

Para o produtor cultural Carlos Brandão, a Praça Universitária deve voltar a abarcar sua função de convivência para suprir a deficiência que a Capital tem de promover eventos culturais em espaços públicos. “O que a gente vê hoje em Goiânia é só a proibição de realizar eventos em lugares públicos. O governo não oferece um espaço para que a população possa se divertir em eventos culturais”, acusa Brandão. O produtor afirma que a Praça Universitária é o espaço ideal para realização destes eventos e está ansioso pela reforma.

“O público do Setor Leste Universitário, que circunda a praça é ávido por eventos, shows e manifestações culturais. A praça funciona como uma espécie de centro cultural. Ao seu redor temos bibliotecas, teatros, museus, e vários centros universitários, mas o espaço poderia ser melhor aproveitado”, afirma Brandão. 

Praça Universitária sempre foi palco da diversidade goianiense  

A Praça Universitária, batizada de praça Honestino Guimarães, foi projetada por Atílio Corrêa Lima junto com o projeto inicial da nova Capital do Estado de Goiás em 1930. Inicialmente, o local foi pensado com vários elementos da Art Déco. No entanto, sua construção se deu apenas em 1969, quase 40 anos depois do projeto. Nessa época, o Setor Leste Universitário já concentrava muitos centros de ensino e o local que servia como ponto de encontro dos estudantes ficou conhecido como Praça Universitária.

Segundo o artigo acadêmico, “Um Olhar Geográfico sobre a Praça Universitária“, produzido por Alessandra Êgea e Eguimar Chaveiro, a Praça Universitária serve de espaço para uma pluralidade de manifestações culturais, políticas, estudantis e movimentos sociais. Para se ter uma ideia, na década seguinte a inauguração da praça, ela serviu de ponto de encontro de pessoas que faziam parte da massa burguesa da época e também dos cidadãos que lutavam contra o governo do período da Ditadura Militar.

Nas décadas seguintes, a praça sofreu modificações devido ao contexto histórico e político que sucedeu a década de 1980. Ela se transformou em ponto de encontro de diferentes tribos urbanas e passou a receber manifestações culturais desses segmentos como grafites e outros tipos de intervenções urbanas que aparecem lado a lado de esculturas de artistas consagrados, como o próprio Antônio Poteiro.

O local passou a receber shows, eventos, feiras semanais, espetáculos circenses e blocos de carnaval, provendo, de maneira singular, o lazer para o cidadão goianiense. O medo também se faz presente no lugar, pois apesar da presença do policiamento em seus arredores, a ação de bandidos recai sobre muitas pessoas que passam pelo local. A presença de traficantes é uma realidade e as diversas “batidas” que a polícia realiza no local não são suficientes para fazer com que eles desapareçam.

A Praça Honestino Guimarães é tombada como Patrimônio Histórico e Cultural de Goiás. Ela deve ser recuperada para que seja um espaço de florescimento horizontal da pluralidade da cultura goiana e da história de nossa cidade. Um lugar que esteja longe da ação de bandidos, do abandono público e do descaso com nossa própria história. 

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