Empurra-empurra para reparar pontos de ônibus

Usuários do transporte coletivo sofrem com precariedade das coberturas das paradas de ônibus. Responsabilidade de manutenção é incerta

Postado em: 04-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Usuários do transporte coletivo sofrem com precariedade das coberturas das paradas de ônibus. Responsabilidade de manutenção é incerta

Igor Caldas*

A responsabilidade pelos abrigos nos pontos de ônibus da Capital é incerta. Segundo a Prefeitura de Goiânia, o último acerto definiu que a Companhia Metropolitana de Trasnportes Coletivos (CMTC) seria a responsável pela manutenção e instalação das estruturas. Mais de 45% dos pontos de ônibus na Capital ainda estão sem abrigos. Existem 3545 pontos de parada de ônibus em Goiânia, mas apenas 1936 desses possuem cobertura. Para resolver o problema, o município firmou por meio de licitação conduzida pela Secretaria de Planejamento e Habitação, um contrato de Parceria Público-Privada para a instalação de 200 novos abrigos e reforma de 500 já existentes. A Shempo Sistemas de Comunicações saiu como vencedora da proposta, mas teve o contrato rompido por problemas jurídicos. 

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Mesmo com a expectativa do aumento da passagem de ônibus em 30 centavos, usuários ainda enfrentam problemas com a demanda e manutenção de abrigos. O problema já é antigo. A licitação para realizar a manutenção de 500 abrigos de ônibus e construir um mínimo de 200 novos ao longo de 20 anos em troca da receita da exploração da publicidade no local se arrastou por pelo menos dois anos. A Prefeitura de Goiânia divulgou nota sobre o rompimento do contrato. “A Controladoria Geral do Município informa que, por precaução orientou a Prefeitura de Goiânia a suspender o contrato com a empresa que faria a manutenção e a instalação de novos pontos de ônibus na Capital, e que nos próximos dias um novo certame será realizado pela Administração Municipal”, diz a nota.

A reportagem teve acesso apenas à ata de julgamento das propostas das empresas que concorreram à concessão de uso de bem público para o fornecimento, instalação e manutenção de abrigos em paradas de ônibus e equipamentos para captação de recursos no Município de Goiânia. As licitantes que concorreram ao contrato foram as empresas Shempo Sistemas de Comunicação e a multinacional JCDecaux. De acordo com a ata, a Shempo foi melhor avaliada para a realização da Parceria Público-Privada. O contrato com a empresa foi iniciado no dia 24 de setembro de 2018. A empresa se comprometeu a construir o mínimo de 223 novos abrigos na capital. 

A Shempo Empreendimentos chegou a ser desabilitada em julho de 2017 por não ter apresentado prova de qualificação técnica-operacional, mas após parecer jurídico da Prefeitura,  ela foi reabilitada dois meses depois. O Município afirma que os documentos apresentados pela empresa servem como prova. A primeira vez que o edital foi publicado foi em janeiro de 2016 com previsão de abertura para março do mesmo ano. No entanto, dias antes do prazo final, o processo foi adiado a pedido da Prefeitura. Após o adiamento, foi publicado um novo edital, e no dia 8 de novembro de 2017 a comissão de licitação da Secretaria Municipal de Administração habilitou as duas empresas para continuar na disputa.

A empresa que perdeu a disputa, JCDecaux diz estranhar a forma como o processo de licitação foi conduzido, já que, na opinião da empresa, a concorrente não comprovou capacidade técnica para o objeto do edital. A empresa paulista Shempo foi a única participante a concorrer uma licitação para o fornecimento de 44 mil placas de sinalização na Capital, no mesmo modelo de negócio dos abrigos de ônibus. A reportagem tentou falar com a empresa para questionar sobre como foi desenvolvido o trabalho de manutenção e instalação de pontos de ônibus na Capital, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Coberturas de pontos de ônibus no Centro correm risco 

A reportagem foi até o setor central da Capital para averiguar como está a situação dos abrigos de pontos de ônibus. Na Avenida Goiás foi contatado que todas as estruturas aparentam estar sem manutenção há muito tempo. No abrigo de ponto de ônibus da avenida Goiás em frente a agência do Banco BRB próximo a Rua 6, a situação está tão crítica que as estruturas de ferro que sustentam a estrutura estão expostas. Passageiros relatam medo de desabamento. A comerciante Maria Rosária que está diariamente no local, afirma que teme que algum acidente que possa acontecer no local faça com que o abrigo desabe. Além disso, Rosário afirma que os abrigos possuem tantas goteiras quer não servem de cobertura nos períodos chuvosos. “Quando chove, molha mais aqui dentro do que lá fora”, afirma.

“Isso aqui está perigoso mesmo. Tem que arrumar, por que se não tiver manutenção, uma hora vai cair. Eu tenho medo de um carro bater no ponto de ônibus e ele cair em cima da gente”. Maria Rosária ainda afirma que nas últimas chuvas fortes que caíram na capital, ela presenciou um acidente próximo ao ponto de ônibus em que a colisão entre uma motocicleta e o carro quase jogou o veículo em cima da estrutura do abrigo. 

Solidariedade

O único abrigo de ponto de ônibus que está aparentemente novo em toda a Avenida Goiás é o ponto de ônibus reformado com recursos próprios do comerciante Pedro Ferreira de Lima que atua há 15 anos no local. Lima reformou e pintou o abrigo do ponto de ônibus que, segundo ele, estava quase desabando. As obras foram feitas durante o período do carnaval. Além da reforma, ele também disponibilizou assentos para idosos, gestantes e pessoas com deficiência.  Nos próximos meses, Pedro pretende montar uma biblioteca solidária para atender os usuários do transporte coletivo que passam pelo local.

Pedro afirma que fazer reclamações para o governo, não surte efeito.  “Eu sou um cara que não gosta de reclamar, gosto de fazer e pronto. Acho muito importante praticar a cidadania, cuidar da cidade, fazer multirão e ajudar o próximo. Se cuidarmos da cidade estaremos cuidando dos nossos descendentes”. Lima diz que chegou a Goiânia de outro lugar e sempre achou a cidade linda. Ele faz mais do que sua parte para não deixar que a beleza que encontrou aqui fique apenas na sua memória.(Isabela Martins é estagiária do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

 

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