Cresce índice de vendas diretas de produtos

Instabilidade na economia e queda de empregos contribuíram para o crescimento desse tipo de comércio

Postado em: 08-04-2019 às 08h10
Por: Jefferson Pereira dos Santos
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Instabilidade na economia e queda de empregos contribuíram para o crescimento desse tipo de comércio

Higor Santana*

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Em meio à crise financeira, a venda direta se tornou uma das
principais alternativas de fonte de renda dos brasileiros. Segundo dados
divulgados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), no 1º semestre de 2018, 64% dos
brasileiros recorreram a alguma forma de trabalho extra para complementar a renda.
Em 2019, cerca de 40% das famílias goianas atuam de alguma forma com a venda
direta.

A venda direta é um modelo de negócios utilizado por empresas
de todos os tamanhos para vender produtos diretamente ao consumidor final.
Através da eliminação de estabelecimentos comerciais fixos que também corta uma
cadeia de intermediários e de custos. A venda é realizada por empreendedores
independentes que entram em contato direto com potenciais clientes.

De acordo com a empreendedora
Camila Pontes, a expectativa é que esse meio de comércio aumente. “Isso já
é tendência em outros países, assim como o Uber ou a Netiflix, que fez com que
as locadoras fechassem. O que mais faz crescer é que elas constroem redes, e
não estabelecimentos. Elas quebram atravessadores. Hoje tenho uma empresa de cosméticos
que fatura R$ 220 mil por mês, e não envaso nenhum perfume, não pago nenhum
funcionário e não tenho nenhum custo físico. Isso é um mérito, não é para quem
entra primeiro, não é pra quem tem mais tempo, é tudo por mérito”, explica.

De acordo com Camila, algumas das maiores marcas do setor de
venda direta são reconhecidas pelas pessoas, como Avon, Hinode, Mary Kay, entre
outras. Ainda segundo a empreendedora, diante da crise, a tendência é que o
setor apenas cresça, pois o alto índice de desemprego força o trabalhador a
buscar alternativas de fonte de renda seguras. A venda direta se destaca por
ser uma atividade formal que pode ser realizada por qualquer um, independente
do seu nível de instrução, renda ou de onde mora.

“O desemprego contribui para que as pessoas procurem essa
forma de trabalho. Eu, por exemplo, sou dona de casa. Não tenho formação,
conheci a empresa que trabalho há dois anos, e comecei a me desenvolver para
ter uma renda extra, para ajudar no orçamento de casa que já estava bem
complicado. Meu marido desempregado, eu dez anos sem trabalhar e com uma filha
pequena. Então me associei a empresa para fazer venda, e comecei a me
profissionalizar e percebi que podia ir além do que eu fazia. Hoje, além de
vender, eu crio um mercado consumidor para a marca. Agora sou uma profissional
do marketing de rede, tenho mais de 700 famílias transformadas por essa decisão
tão simples que era de aumentar minha renda em R$ 1 mil”, afirma.

Modalidades

Na venda direta os produtos e serviços são oferecidos pelos
revendedores aos potenciais clientes de diversas formas. Uma das principais é
de porta em porta, que é a modalidade mais tradicional. Nela, o revendedor vai
à casa ou ao local de trabalho do cliente para demonstrar as características
dos produtos ou serviços oferecidos, bem como apresentar seus benefícios e
tirar todas as dúvidas no mesmo instante. As vendas podem ser concretizadas
logo após a demonstração ou posteriormente.

Outra forma é o catálogo, as famosas revistinhas. O
revendedor deixa um catálogo de produtos e seus respectivos preços com os
potenciais clientes, seja em seu local de trabalho ou em sua residência. A
vantagem para o cliente é ter um tempo maior para analisar e selecionar os
produtos ou serviços que mais lhe interessam e, assim, fazer o pedido
diretamente ao revendedor. A estratégia do catálogo é bastante utilizada quando
os produtos já são bem conhecidos pelos consumidores.

Vendas em grupo

No evento social (party plan), o revendedor promove uma
demonstração na casa de um consumidor em potencial, que recebe amigos e
familiares. Podem ser feitas apresentações também em locais de trabalho. A
vantagem desta modalidade é apresentar o produto ou o serviço a mais de uma
pessoa por vez e sanar as dúvidas de todos ao mesmo tempo. Além disso,
fortalece o vínculo do revendedor com a sua comunidade de atuação.

Uma das formas mais utilizadas é pela internet e redes
sociais. Esta é a modalidade que mais cresce nos últimos anos e tem permitido aos
empreendedores de venda direta atingirem um número maior de clientes em
potencial. Por meio das principais redes sociais, sites ou aplicativos, é
possível enviar catálogos eletrônicos, apresentar vídeos sobre os produtos e
serviços, tirar dúvidas, compartilhar experiências de outros consumidores, e
selar o negócio sem perder o conceito de relacionamento pessoal entre
revendedor e comprador.

Com cada vez mais pessoas, Venda direta pode melhorar
economia

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Vendas
Diretas (Abevd), em 2017, o setor de venda direta movimentou R$ 45,2 bilhões,
por meio de 4,1 milhões de empreendedores ativos no país. Segundo dados de uma
empresa que atua no ramo de venda direta, cerca de 40% das famílias do Brasil
vivem ou conhecem alguém que vive da venda direta.

Diante da crise, o mercado da venda direta em Goiás cresceu
cerca de 6%, mesmo com uma forte recessão da economia. Não apenas do mercado de
cosméticos e perfumaria, mas também como de assessórios, objetos e maquiagens. “Quase
30% do PIB dos Estados Unidos vem desse tipo de negócio, que é onde você tira
toda a dificuldade dos atravessadores como atacadista, varejista, lojistas,
etc. Toda a mídia e investimento em marketing não é investido em publicidade,
mas sim em pessoas, em consultores que usam os produtos com e desconto e
promovem os produtos. No Brasil, é muito pequeno ainda, menos de 1% do PIB do
Brasil, é representado pelo marketing de rede, que é uma vertente da venda
direta”, afirma Camila.

é dona de casa e encontrou na venda
direta uma forma de ajudar na renda da família. “Sempre trabalhei em casa como
dona de casa, mas tinha vontade de trabalhar com algo que não atrapalhasse. Então
as contas começaram a pesar em casa com apenas meu marido trabalhando e resolvi
entrar no negócio de revender cosméticos. Logo fui ganhando clientes, mostrando
para vizinhas e parentes e fazendo
vendas. Hoje vivo disso, trabalho apenas com revenda de cosméticos. Algumas
vizinhas também passaram a trabalhar com isso por verem que comigo deu
certo. Saímos do sufoco das contas e a tendência é só melhorar”, afirma a dona
de casa.

Para a consultora de beleza Jullyana Freitas, assim como fez
a dona de casa Neuseli, várias outras pessoas buscam na venda direta uma saída
para a crise. “O índice de desemprego aumentou muito, e a venda direta é uma
ótima opção para fazer um bom dinheiro em um tempo relativamente rápido. Desde
que a pessoa não tenha preguiça de trabalhar.

Ainda segundo Jullyana, todo o resultado depende da forma de
trabalho. “Assim como um trabalho formal, temos que trabalhar todo dia, para o
caso de ser renda única ou principal. Se for um complemento de renda, o que a
pessoa precisa definir é quanto quer ter de lucro e quanto tempo dedicará para
isso”, explica.

Para Camila Pontes, esse novo meio de trabalho pode
contribuir e muito com a melhora da economia no país. “Não tem o que faça essa
economia mudar, que não seja o marketing de rede. Foi o que salvou os Estados
Unidos na crise, e é o que vai salvar o Brasil. Acredito que a tendência vai
chegar para abrir a visão das pessoas”, explica a empresária que mudou de vida
através da venda direta.

Garantias

Em conformidade com o Código Comercial Brasileiro (Lei nº
556, de 01.01.1850), podem ser comerciantes no país, todas as pessoas que se
achem na livre administração de suas pessoas e de seus bens e que não estejam
expressamente proibidas pela Lei. A partir da promulgação da Lei nº 6.586, de
06.11.1978, a venda direta pelo ambulante passou a ser disciplinada
isoladamente, enquadrando os empreendedores independentes como comerciantes
ambulantes, nos termos do artigo 1º que, considera comerciante ambulante aquele
que, pessoalmente, por conta própria e a seus riscos, exerce pequena atividade
comercial em via pública, ou de porta em porta.

Dicas

A empreendedora Camila dá a dica para quem tem vontade de
entrar no negócio. “Depende de ter uma empresa sólida, não precisa ter medo,
por que é uma maneira muito simples, se ela já tem um emprego ela não precisar
parar de fazer o que ela está fazendo. E não ter medo mesmo, por que o medo é
só uma fantasia que a gente cria, a gente não investe dinheiro, a gente compra
o produto. E se tudo der errado, você não perdeu nada, você vai consumir o
produto. Você não tem investimento com estrutura física e nem taxas mensais que
você precisa pagar. É só ser um consumidor da empresa. Depende da pessoa”,
explica. (Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor
de cidades Rhudy Crysthian)

   

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