Ameaça de racionamento de água atinge a capital

A Saneago prometeu que falta de água seria problema resolvido com a integração das Bacias do Rio Meia Ponte e Ribeirão João Leite

Postado em: 09-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A Saneago prometeu que falta de água seria problema resolvido com a integração das Bacias do Rio Meia Ponte e Ribeirão João Leite

Igor Caldas*

Apesar das chuvas, pode faltar água novamente no período da estiagem na região da Grande Goiânia. A Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) justifica que esse ano choveu 40% a menos do que o esperado. Somado a esse fator, o leito do Rio Meia Ponte esta sofrendo com drenagens clandestinas. A Bacia do Rio Meia Ponte junto com a do Ribeirão João Leite são responsáveis por 90% do abastecimento de água na Região Metropolitana de Goiânia. 

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O Estado vem enfrentando sucessivas crises hídricas causadas pela diminuição das chuvas nos últimos 20 anos, aliada ao mau uso do recursos hídricos. Prometendo resolver esse problema de forma definitiva, a Saneago inaugurou, no último ano, adutora que faz integração das duas Bacias para garantir que não falte mais água na grande Goiânia. Mas a própria Companhia já alerta que o abastecimento hídrico da Grande Goiânia no período da estiagem deste ano pode ficar prejudicado. A empresa não descarta a possibilidade de racionamento e afirma que está fazendo de tudo para driblar a falta de abastecimento.

Segundo a Saneago, a adutora que faz a integração das Bacias está totalmente pronta, mas ainda não foi utilizada por que a vazão do Rio Meia Ponte foi suficiente para captação de água suprir o abastecimento da Grande Goiânia. No entanto, esta integração compõe várias etapas do Sistema de Produção Mauro Borges que ainda não está concluída. Ainda restam seis obras que estão em fase de licitação para transportar a água do Sistema Mauro Borges e garantir o abastecimento integral da Região Metropolitana de Goiânia. 

A Estação de Tratamento de Água Mauro Borges produz atualmente 1.200 litros de água tratada por segundo, mas possui capacidade para 4 mil litros por segundo. Essa produção aumentará gradativamente de acordo com a demanda. Essa água é captada no reservatório do Ribeirão João Leite, que fornece ainda 2 mil litros por segundo por meio da Estação de Tratamento Jaime Câmara.  Juntos, os dois sistemas abastecem 48% dos bairros da Grande Goiânia. Já o Sistema Produtor Meia Ponte produz 2.300 litros por segundo e atende 52% dos bairros da Capital.

De acordo com o ex-presidente da Companhia de Saneamento de Goiás, Jalles Fontoura a integração funcionaria como uma garantia de que não faltaria mais água. “Os sistemas estão integrados, João Leite (Mauro Borges) contribuindo caso haja necessidade no Meia Ponte. A adutora só vai ser usada se precisar, é um seguro que a gente ‘contratou’. É a garantia que não faltará água”, afirmou o executivo ano passado.

Apesar disso, a Companhia já está lançando campanhas para orientar a população a economizar água.  Segundo a assessora técnica da diretoria de produção da Saneago, a engenheira Lúcia Helena Pinheiro, o racionamento de água não está descartado no período de estiagem deste ano. Ela admite que a situação do abastecimento na Região Metropolitana de Goiânia é bastante crítico, mas reitera que todos os usuários necessitam de mudança de hábitos para contribuir para diminuição desse risco, fazendo o uso racional da água. Além disso, é necessário a fiscalização ambiental no leito dos rios para coibir as drenagens clandestinas que contribuem para o aumento do risco de desabastecimento. 

Alerta amarelo

No início deste mês, o Comitê da Bacia do Rio Meia Ponte decretou alerta amarelo para a situação. O anúncio faz parte do Plano de Ação para cada vez que a vazão do rio diminuir. Para vazão de até 8 mil litros por segundo, tem início o alerta de economia; para 3,5 mil litros por segundo começa o racionamento; com 2,8 mil litros por segundo de vazão do rio, entra em estágio de rodízio de água. 

De acordo com a Saneago, com a vazão do Rio Meia Ponte no nível esperado (9 mil litros por segundo) a captação máxima permitida a ser feita pela Saneago no Rio Meia Ponte é de 2300 litros de água por segundo, para abastecer 48% da Capital.  Se a vazão do rio for reduzida, a consequência é a diminuição da captação de água, daí a estrutura adutora que transfere a água do Ribeirão João Leite para o Rio Meia Ponte será ativada para complementar o abastecimento hídrico da Capital. 

Linhão

As obras para construir a adutora começaram em maio e duraram oito meses. Os tubos de encanamento atravessam os rios João Leite, Meia Ponte e Samambaia. Além disso, passa por baixo das Rodovias GOs 080 e 462. A estrutura tem 70 centímetros de diâmetro e capacidade de vazão de 800 litros de água por segundo. Essa vazão é suficiente para suprir o abastecimento da cidade de Anápolis, cidade localizada a 55 km de Goiânia, com 334 mil habitantes. As obras tiveram o custo de R$ 20 milhões. 

Segundo a engenheira, no ano de 2018 choveu menos que no ano de 2017. Na época, ela garante que foram feitas ações na bacia como fiscalização de uso e campanhas junto a população para conscientizar sobre o uso da água no âmbito doméstico e isso deu o equilíbrio necessário para que a crise hídrica não fosse tão severa como aconteceu em 2017. No entanto, no último ano, o governo declarou situação emergencial. 

A situação de emergência de 2018 foi declarada por meio de decreto que autorizava ao governo a implantação do racionamento de água, caso julgasse necessário. A assessora técnica da diretoria de produção admite que o racionamento não é uma opção descartada para a crise de abastecimento, se as condições piorarem muito, ela poderá acontecer no período de estiagem deste ano. 

Captação de águas pluviais combate desabastecimento  

A crise de abastecimento de água que abateu Goiás em 2017 motivou a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) a fazer uma série de propostas que possam contribuir na batalha contra a escassez de água no Estado. Entre as iniciativas foi feita uma cartilha com o estudo “Preservação e Conservação da Água e do Solo”. Este projeto foi feito em parceria com a Saneago e diversas entidades. As propostas foram lançadas em julho de 2018.

O estudo foi composto em quatro eixos: armazenamento e aproveitamento de águas pluviais; construção de reservatório e barragens; recuperação, conservação e proteção dos mananciais; e planejamento e gestão de recursos hídricos. 

Dentre as principais sugestões descritas no estudo está a captação de água da chuva. A própria Federação foi usada como exemplo. Ela possui em um dos seus prédios, o Edifício Pedro Alves de Oliveira, um reservatório para captação de águas pluviais com capacidade de armazenar 47,2 mil litros. Um tanque foi construído por baixo do prédio e a água armazenada é utilizada nos vasos sanitários, na lavagem de pátios e na irrigação do edifício. 

Uma alternativa para popularização da iniciativa poderia ser feita por incentivos do poder público. O governo poderia incentivar a construção de reservatórios em novos empreendimentos imobiliários A instalação do reservatório na Fieg conseguiu obter uma redução de 38% no consumo de água.  

Crescimento urbano desordenado complica a falta de água 

A Universidade Federal de Goiás (UFG) divulgou um estudo no último ano que aponta a necessidade de mudança nas políticas de preservação do meio ambiente e utilização dos recursos hídricos por parte dos municípios que integram a Região Metropolitana de Goiânia (RMG) para que a população não sofra com a escassez de água.

O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), no âmbito da construção do Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Goiânia (PDI). De acordo o diagnóstico, os cursos d’água superficiais e o lençol freático estão sendo comprometidos de forma crítica e a crise hídrica pode se transformar em calamidade, principalmente nos períodos de estiagem.

A Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA/UFG) participou da pesquisa que detectou que cidades como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Trindade, Senador Canedo e Bela Vista crescem e fazem planos para expansão, mas desconsideram as condições locais de abastecimento. À medida que as construções avançam desordenadamente em áreas que não possuem pontos de captação de água, o solo vai sendo perfurado cada vez mais. Isso pode torná-los impermeáveis e aumentar o assoreamento e erosão.

O desmatamento também contribui, e muito para a crise hídrica na Grande Goiânia. Menos de 1/4 do território que compõe a Região Metropolitana de Goiânia (RMG) é de matas remanescentes do Cerrado. O que não é mato nativo se tornou pastagens, lavouras e áreas com construções. Ao todo, a RMG possui área de 7.397,203 km². 

O estudo para compor o diagnóstico de condições ambientais da RMG foi feito por meio de um convênio estabelecido com a Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), no contexto do Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI) da RGM. (*Especial para O Hoje) 

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