A vida sem leite: como é a rotina de intolerantes à lactose

Pessoas intolerantes ou alérgicas à proteína do leite conseguem manter uma rotina normal com extinção do alimento do cardápio ou substituição

Postado em: 13-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pessoas intolerantes ou alérgicas à proteína do leite conseguem manter uma rotina normal com extinção do alimento do cardápio ou substituição

Higor Santana*

A intolerância à lactose, também conhecida como deficiência de lactase, é um problema cada vez mais comum que atinge cerca de 40% dos brasileiros. É uma disfunção que pode ocorrer em qualquer idade, mais frequente conforme a idade avança. À medida que o ser humano envelhece, o sistema digestivo tende a apresentar deficiência na produção de algumas enzimas, entre elas a lactase, responsável por quebrar o açúcar do leite.

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É como explica a nutricionista Elisangela Brito. “A intolerância à lactose é a incapacidade total ou parcial de digerir o açúcar existente no leite, a lactose, essa incapacidade se estende aos derivados do leite também. Isso acontece quando o corpo não produz ou produz de forma insuficiente uma enzima digestiva chamada lactase. Essa enzima quebra e decompõe o açúcar da lactose, e quando esse mecanismo não funciona bem, ocorrem as intolerâncias”, explica a nutricionista.

Segundo Elisangela, existem três tipos de intolerância à lactose, a Primária, Secundária e Congênita. Na intolerância à lactose primária, durante a infância o corpo produz muita enzima lactase, pois o leite é a fonte primária de nutrição após o nascimento. Geralmente, o corpo diminui a quantidade de lactase produzida conforme a pessoa vai envelhecendo e sua dieta variando, com o acréscimo de novos tipos de alimentos. Com o tempo, esse declínio na produção de lactase pode levar a um quadro de intolerância à lactose.

A fase secundária ocorre quando o intestino delgado deixa de produzir a quantidade normal de lactase por causa de alguma doença, cirurgia ou injúria. Algumas condições que podem levar a um quadro de intolerância à lactose secundária são a doença celíaca, gastroenterite e a doença de Crohn, por exemplo. O tratamento da condição intrínseca a esse tipo de intolerância pode resolver o problema.

Já na fase congênita é possível, embora raro, que bebês nasçam com intolerância à lactose por causa da deficiência total de lactase no organismo. Essa condição é conhecida como herança autossômica recessiva e é passada de geração em geração. Isso significa que tanto o pai quanto a mãe precisam transmitir o gene da intolerância à lactose para o filho para que ele apresente o problema.

Alguns fatores são considerados de risco para a intolerância à lactose. Para a nutricionista, conforme os anos vão passando, a chance de se desenvolver intolerância à lactose aumenta. A intolerância à lactose é mais comum em negros, asiáticos, hispânicos e indígenas, assim como em bebês que nasceram prematuramente. Eles  apresentam menos lactase no organismo porque a produção desta enzima aumenta somente no final do terceiro trimestre da gravidez.

Doença

O estudante Wagner Dantas, explica quando descobriu que tinha a doença. “Descobri que tinha a doença em 2017. Depois de dois anos que inicie o tratamento de refluxo, descobri que estava com gastrite intermediária. O que mais me causava a gastrite era o refluxo. Após esses dois anos tentando tratar o refluxo, descobri que tudo era por conta da lactose”, afirma o rapaz.

Para a nutricionista, existem alguns alimentos que não são recomendados na dieta do paciente. “Leite de fontes animais e todos os alimentos provenientes de leite de origem animal, por exemplo sorvetes, manteigas, requeijão, creme de leite, cremes, vitaminas e demais derivados. A exclusão de alimentos vai depender do nível de intolerância, em alguns pacientes com intolerância leve, o consumo de iogurtes e queijos são permitidos por terem menor quantidade de lactose, por terem passado por um processo de fermentação, porém isso deve ser observado com cautela”, explica a médica.

Sintomas

Os sintomas de intolerância à lactose geralmente começam de trinta minutos a duas horas depois de a pessoa ingerir alimentos ou bebidas que contenham lactose. Entre os sintomas estão a diarreia, náusea e, às vezes, vômito, dores abdominais e inchaço. A intensidade dos sintomas varia de acordo com a ocasião, mas eles costumam ser amenos.

“Meus primeiros sintomas foram por conta do refluxo, e estufamento estomacal. Quando eu tomava leite meu estômago ficava estufado, tinha desinteria, e vivia com diarreia. Ai o médico, ele até achou que a gastrite era por conta da bactéria. Mas o principal sintoma era o refluxo e a diarréria mesmo”, explica Wagner.

Para a nutricionista, com a falta da enzima lactase, a açúcar do leite chega ao intestino inalterada, ali, ela se acumula e é fermentada por bactérias que fabricam ácido lático e gases, que acabam promovendo maior retenção de água e consequente, aparecimento de gases, distensão abdominal, cólicas, diarreias, náuseas e consequente perda de peso em função dos sintomas. O que justifica os sintomas do estudante.

Diagnostico

Atualmente, os exames para diagnosticar o problema são mais precisos e acessíveis. Com uma amostra de sangue de 5ml e um teste que é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), já é possível saber se o indivíduo tem a disfunção. Outro exame bastante útil para detecção do problema é o teste respiratório de hidrogênio (H2). 

Nesse caso, nem é necessário a coleta de sangue, pois o exame se baseia na quantidade de hidrogênio (H2), gás produzido quando se é intolerante à lactose na respiração. No início do teste, o paciente sopra lentamente em um pequeno aparelho que mede a quantidade de hidrogênio na respiração. Em seguida, deve-se ingerir uma pequena quantidade de lactose diluída em água e soprar no aparelho a cada trinta minutos, durante um período de três horas. O diagnóstico de intolerância é feito quando a quantidade de hidrogênio medida é 20 ppm (partes por milhão) maior que a da primeira medição.

Por apresentar sintomas bastante inespecíficos, como gases, dor abdominal e diarreia, até a década de 90 a grande maioria dos pacientes ficava sem diagnóstico. Como percebiam que os sintomas surgiam cerca de trinta minutos após o consumo de leite, o que faziam era simplesmente cortar o alimento da dieta.

Mas já é consenso entre a comunidade médica que não é necessário retirar os produtos lácteos das refeições. Como o leite é um alimento muito completo, a recomendação é verificar a quantidade que cada um tolera, pois os níveis de intolerância mudam muito de paciente para paciente, podendo ir desde uma resistência leve, até moderada ou alta.

Teste caseiro

Como forma de teste, em casa mesmo, o paciente pode começar ingerindo meio copo de leite duas vezes por dia. Para amenizar o efeito, pode consumir alimentos como pães e cereais junto com a bebida. Dessa forma, é possível encontrar um ponto de equilíbrio, o que não acontece quando o paciente tem alergia à proteína do leite. “Pessoas que são intolerantes possuem deficiência ou não produzem a enzima que vai ajudar a quebrar a lactose, mas isso não as impede de consumir algo que tenha leite ou derivados.

Atualmente, é possível fazer uso de enzimas que o paciente pode tomar ou adicionar ao alimento na hora de consumir”, esclarece o Prof. Dr. Paulo Carvalho, gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “Dessa maneira, ele terá as enzimas que vão quebrar a lactase e permitir sua digestão. Inclusive, não é que os produtos sem lactose disponíveis no mercado não possuam leite; na verdade, só há a adição dessa enzima”, complementa o especialista. 

As diferenças entre alergia e intolerância ao leite 

Como em qualquer outro processo alérgico, ela é uma reação do sistema imunológico à substância identificada como invasora. No caso do leite de vaca, essa ameaça são as proteínas (caseína, alfa-lactoalbumina, beta-lactoglobulina) ou o soro do leite. Para combater esse corpo estranho, o organismo começa a liberar uma série de enzimas e substâncias em cascata, produzindo uma reação alérgica que pode variar de leve à severa.

Essa cascata alérgica é desencadeada não apenas após a ingestão do leite e seus derivados, mas também com o simples contato com a pele, por exemplo. Famílias com crianças alérgicas devem seguir recomendações rigorosas na cozinha, para evitar contaminação cruzada ou a presença de traços de leite no alimento do alérgico.

Mas se engana queM pensa que alergia ao leite e intolerância a lactose são a mesma coisa. “A alergia é uma reação imunológica contrária a proteína do leite, que se manifesta após a ingestão de uma porção de leite ou derivados, por menor que seja. A mais comum alergia é a do leite de vaca, essa pode provocar alterações intestinais, e ainda na pele e sistema respiratório, podendo causar ainda tosse e bronquite por exemplo. Já a intolerância como dita, é uma deficiência enzimática em digerir o açúcar do leite, causando consequências intestinais”, explica a nutricionista Elisangela Brito.

No Brasil, cerca de 350 mil crianças convivem com a alergia. Os primeiros sintomas aparecem ainda na infância, logo no primeiro ano de vida, indicando que todos os alimentos e produtos que contenham leite e derivados, incluindo traços de leite, devem ser completamente eliminados do cardápio e do cotidiano de quem convive com este tipo de alergia.

Sintomas 

A lista de sintomas à alergia ao leite é extensa e tem relação com o tipo de alergia apresentado pela criança. Nem sempre a reação aparece logo depois de a pessoa ingerir leite e derivados (ou entrar em contato com esse tipo de alimento). Por isso, caso haja desconfiança sobre o problema, o mais indicado é procurar o médico.

De acordo com a nutricionista, alguns dos sintomas são apresentados pela própria pele como a Urticária, coceira associada, inchaço dos lábios e dos olhos. Outros são apresentados após o mal estar como vômitos ou diarreia após a ingestão do leite, chiado no peito e respiração difícil, vômitos tardios, diarreia com ou sem muco e sangue, sangue nas fezes, cólicas e irritabilidade, intestino preso, baixo ganho de peso e crescimento.

Além de inflamação do intestino, assadura ou fissura perianal, descamação e ressecamento da pele, com ou sem formação de feridas, asma, refluxo, inflamação do esôfago, inflamação do estômago, diarreia, vômito e dor abdominal.

Para Elisangela, os cuidados não devem, infelizmente, ser restritos apenas à alimentação. Uma série de produtos e objetos do dia a dia contêm traços de proteínas do leite. Entre eles estão giz escolar, balão de festa e alguns sabonetes. Por isso, é fundamental que mães e pais leiam com bastante atenção os rótulos à procura de ingredientes como caseína, lactoalbumina, lactoglobulina, caseinato e ou leitelho, que indicam a presença de leite ou derivados em sua composição.

Segundo a nutricionista, bebês alérgicos que ainda mamam no peito podem e devem continuar sendo amamentados. Nesses casos, a mãe deverá apenas seguir uma dieta totalmente isenta de leite, derivados e de alimentos que contêm proteínas do leite. Se a criança já estiver na fase da mamadeira, o leite de vaca poderá ser trocado por formulações específicas, de acordo com o tipo de reação que ela apresenta.(Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de cidades Rhudy Crysthian)

 

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