Com menos material, catadores somem

Na Cooperativa de Catadores de Lixo de Aparecida de Goiânia (COOCAP) o número de trabalhadores caiu mais do que 50%

Postado em: 16-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Com menos material, catadores somem
Na Cooperativa de Catadores de Lixo de Aparecida de Goiânia (COOCAP) o número de trabalhadores caiu mais do que 50%

Igor Caldas*

A realidade de quem vive do lixo é dura. É lidar todos os dias com tudo que as pessoas não querem e descartam. É o modo de vida que representa de forma crua as atuais condições de trabalho excludentes que fazem com que muitas pessoas busquem a sobrevivência através da catação de materiais recicláveis. Por fim, é um trabalho invisível, mas necessário para todos. A implantação da Lei de Resíduos Sólidos traz para os municípios a responsabilidade de inclusão social desses trabalhadores do meio ambiente. Mas segundo, José Iramar, catador de material reciclável, o que tem sido feito pela prefeitura de Aparecida de Goiânia é apenas o mascaramento de uma situação que eles fingem estar cuidando.

Continua após a publicidade

Segundo Francisco Juarez Bezerra da Silva, o número de catadores que fazem o trabalho no galpão de triagem diminuiu mais da metade. Eram 34 pessoas que faziam o trabalho de recolher o material reciclagem e hoje são apenas 14. A culpa, segundo ele é da prefeitura. “A responsabilidade é da prefeitura junto com governo federal. Estamos enfrentando dificuldades por que nesta última licitação a prefeitura reduziu o número de caminhões da coleta seletiva”, de acordo com Francisco, eram sete caminhões e hoje apenas quatro estão em circulação.

O Galpão de Triagem de Resíduos Sólidos em Aparecida de Goiânia, inaugurado em 2013, é o local de trabalho de muitas famílias. É nele que as pessoas que antes tiravam o sustento de dentro do aterro sanitário recebem o material reciclado para ser comercializado. Juarez reconhece que a criação do Galpão é uma conquista, mas ressalta que o trabalho ainda é feito com dificuldade. “Desde que foi inaugurado, a situação atual melhorou muito por que dentro do galpão a gente não trabalha debaixo de sol, junto com bichos e misturado ao lixo”, apesar disso, Juarez relata que cada vez menos lixo tem chegado à cooperativa.

A quantidade de lixo gerado cresce exponencialmente com a população, que a cada dia aumenta mais. Mas esse lixo gerado não está chegando à COOCAP. “A população só cresce e o reciclável sempre vai aumentar junto com ela. Cada vez mais material é gerado, por causa da população. As pessoas também vão precisar cada vez mais de trabalhar, ter emprego para criar os filhos que vão crescendo. E a gente reduziu, em vez de crescer?! O que aconteceu foi a redução de número de cooperados”, relata Juarez.

Para o catador, falta divulgação da coleta seletiva para a população de forma geral, principalmente para as indústrias, que são as entidades que mais geram lixo na região.  “A coleta seletiva em Aparecida não é bem divulgada. Fica difícil pra que todo mundo possa ter o conhecimento das duas cooperativas que existem na cidade. Acho que a prefeitura, que está mais a frente, deveria estar fazendo isso. Ela faz muito pouco. Nesta parte, creio está deixando a desejar”, afirma o catador. Ele ressalta que material não deveria faltar por que Aparecida tem os maiores pólos industriais da Região Metropolitana de Goiânia. “O material que a gente tem, é esse aqui”, afirma, apontando para uma pilha de papelão que será trabalhada até as 12 horas do dia seguinte.

Juarez sente que ‘nada sem sair da praia’. Ele demonstra a preocupação sobre o futuro do seu trabalho. “Eu comecei a trabalhar no lixão com 14 anos de idade, hoje eu tenho 38 anos e agora que chegamos onde estamos, com muita dificuldade. E essa realidade já deveria ter mudado, por que o tempo vai passando e a gente sempre fica nessa? Não, não pode ser assim. Nessa cooperativa, são 14 na outra são 14. Quer dizer, 28 pessoas num município desse tamanho? que gera tanto material reciclável?”, lamenta.

Ele ressalta que a população e os empresários precisam se mobilizar e pensar a respeito do lixo que geram. “Precisa dessa população, principalmente de empresários, prefeitura, todo mundo se mobilizar, por que é importante. É importante para o futuro. Por exemplo, desde os quatorze anos eu só vi o lixo aumentar. Hoje está uma torre no aterro. Isso tem 20 poucos anos, e daqui 100 anos? Vai aumentar mais ainda”? 

Catadores convivem com cratera  

Na mesma época da inauguração do galpão, a gestão da prefeitura construiu 64 casas no setor Retiro do Bosque, onde viviam 56 famílias de catadores. O residencial foi construído com recurso do Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH) do Governo Federal, com contrapartida do Governo Federal e Prefeitura. No entanto, no local restam poucos catadores. Mais da metade já se mudaram do local.

Segundo a Assistente Social da Prefeitura de Aparecida, Edilene Cassimiro da Silva, muitos moradores já se mudaram do bairro, pois não conseguiram se adaptar a mudança de realidade trazida pela inauguração do Galpão de Triagem de materiais Recicláveis. “A situação dos catadores mudou. Muitos deles já não vivem nas casas populares construídas para as famílias. Muitos não se adaptaram a realidade do trabalho por serem usuários de drogas. O lixão era uma verdadeira cracolândia e muitos voltaram a situação de rua, venderam suas casas e mudaram para outras cidades”, relada Cassimiro. Juarez concorda com a assistente social, mas relata que o bairro não fica tão próximo ao Galpão e que já deveria ter sido asfaltado há muito tempo.

As últimas chuvas que caíram em Aparecida estão fazendo os moradores do Retiro do Bosque sofrer. Juarez relata sobre a existência de uma enorme cratera ameaçando casas de moradores e até uma creche, próxima ao local. Para ir do galpão de triagem até o bairro onde foram construídas as casas é preciso enfrentar ruas de terra com erosões. A reportagem foi até o setor Retiro do Bosque para averiguar a situação dos moradores. Uma enorme cratera estava aberta há apenas alguns passos da porta de entrada da casa de moradores desta rua.

O enorme buraco fica atrás de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI). Vizinha da cratera, Angela Maria da Silva, 28 anos, relata que a prefeitura esteve realizando obras no local para tentar tamparem o buraco, mas deixou de trabalhar no local há duas semanas. Enquanto isso, as chuvas aumentam o buraco. (*Especial para O Hoje) 

Adiar fechamento de lixões é desserviço, diz ministro do Meio Ambiente 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, classificou de desserviço o aumento do prazo para os municípios eliminarem lixões no país, proposta que deve passar por votação na Câmara dos Deputados em caráter de urgência. A meta inicial da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que previa a substituição por aterros, era agosto de 2014, mas foi descumprida.

“A ideia de postergar, de maneira generalizada, o atingimento da meta do fechamento de lixões é um grande desserviço para o Brasil”, disse o ministro, ao participar do Seminário Internacional de Resíduos Sólidos. realizado em São Paulo pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base.

Para o ministro, municípios grandes e ricos como São Paulo deveriam ter “uma coleta seletiva minimamente bem-feita”. Na opinião de Salles, as cidades pequenas e afastadas dos grandes centros urbanos poderiam, porém, gozar de prazo mais flexível.

“Temos uma interlocução muito boa com os deputados na parte do meio ambiente. Já manifestamos preocupação sobre uma solução linear. Há casos, realmente, de municípios que estão muito longe de alcançar as metas, seja porque estão isolados ou porque entraram em colapso financeiro”, afirmou.

Concessão de parques

Ricardo Salles negou notícias de que a mineradora Vale teria a concessão de parques públicos em Minas Gerais. Há uma semana, em mensagem no Twitter, o ministro disse que tentaria converter a multa da R$ 250 milhões da empresa em investimentos para sete parques nacionais,com a construção de obras de infraestrutura, trilhas, atividades e serviços para estimular o ecoturismo. Futuramente, serão concedidos à iniciativa privada.

“Ninguém disse que a Vale vai ganhar concessão. Vamos ter investimento nos parques para que eles sejam concedidos. Hoje, os parques nacionais carecem de infraestrutura. São parques que poderiam estar gerando emprego, renda”, disse. (Agência Brasil) 

Veja Também