Casos de microcefalia aumentam 41%

Tratamento nos primeiros meses do diagnóstico estimula evolução das crianças

Postado em: 22-04-2019 às 19h55
Por: Sheyla Sousa
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Tratamento nos primeiros meses do diagnóstico estimula evolução das crianças

Isabela Martins*

Andar, correr, o que é tão comum para a maioria das crianças se torna uma conquista enorme para aquelas portadoras da microcefalia. Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que em apenas uma semana o número de casos suspeitos de microcefalia passou de 1.248 para 1.761, contabilizando um aumento de 41%. 

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Segundo o levantamento apresentado pela pasta, o estado de Pernambuco continua apresentado o maior número de suspeitas da má-formação, totalizando 804 casos. Em Goiás, o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) atende mais de 80 crianças, promovendo várias atividades para ajudar no desenvolvimento.

A síndrome é uma condição neurológica rara em que a cabeça e o cérebro do bebê são menores do que de outras crianças da mesma idade. Normalmente é diagnosticada no início da vida, quando se mede o perímetro cefálico, e é o resultado do cérebro não crescer o suficiente durante a gestação ou após o nascimento.

Crianças com microcefalia possuem problemas de desenvolvimento. Não há uma cura definitiva, mas tratamentos realizados desde os primeiros anos que melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida. 

O médico e diretor clínico do Crer Cristhiano Holanda explica que é importante que a mãe faça o acompanhamento pré-natal durante a gravidez para poder verificar o desenvolvimento do bebê. “O desenvolvimento da microcefalia se inicia durante a formação do sistema nervoso central do cérebro infantil. Você consegue já fazer o diagnóstico nos últimos ultrassons maternos e depois quando a criança nasce com o acompanhamento do perímetro cefálico”.

O Crer desenvolve atividades para estimular o desenvolvimento da criança com uma equipe de multiprofissionais com fisioterapeuta, neuropediatra e fonoaudióloga que atuam de diferentes formas com os bebês. O médico ressalta que o tratamento é indicado após a criança passar por uma consulta com um pediatra e um neuropediatra que irão analisar quais as necessidades individuais de cada criança e assim indicar o melhor tratamento. 

Se a criança não consegue andar como deveria no seu desenvolvimento, a fisioterapia vai ser intensificada para que ela possa ter um maior potencial de marcha. “Quando eu falo que o potencial vai ser desenvolvido não é necessariamente que ela vai voltar tudo ao normal no desenvolvimento, depende do grau de microcefalia e do acometimento necessário de cada criança. Mas todo potencial quando bem trabalhado pode ser desenvolvido”, afirma o médico.

Tratamento

Há um ano Welliman Olimpo e a mulher Rosimere Gonçalves saem de Morrinhos rumo ao Crer para o tratamento da filha Emily Gonçalves, de 3 anos. O diagnóstico de microcefalia veio após o nascimento, onde constatou que a mãe foi infectada pelo vírus da zika durante a gestação. “A gente não sabia o que era. Após o nascimento, a gente fez as ressonâncias, confirmou que era a microcefalia. Fomos correndo atrás de tratamento, foi muito difícil. Gastou quase um ano para conseguir”, conta o pai. Emily nasceu em 2015 no auge do surto da zika.

Desde que descobriram a microcefalia na filha os pais enfrentaram muitos desafios. A menina é a única com a síndrome em Morrinhos, onde mora a família, por isso tiveram dificuldades para conseguir o tratamento lá. Ela chegou a fazer fisioterapia no município, mas devido atividade realizada lá ser específica para adultos iniciou essa nova atividade no Crer. O pai conta que agora o que dificulta é a vinda para a Capital. “A dificuldade é em tratamento lá. Não tem fisioterapia apropriada, não tem nada, é só aqui no Crer. A dificuldade é só a locomoção, da gente vir fazer o tratamento, mas graças a Deus a gente luta, luta e traz ela para fazer”.

Atividades 

No Crer Emily faz a terapia ocupacional, uma atividade com objetos e bolas, além da fisioterapia e a estimulação visual. Já em Morrinhos, ela faz a equoterapia, uma atividade terapêutica que utiliza o cavalo para estimular os movimentos. Agora os pais aguardam uma cadeira de rodas especial para ajudar na postura da filha.

Welliman conta como é acompanhar a evolução da filha. “Cada dia que passa é uma alegria. Tem muita gente que sonha em comprar um carro, uma casa, o sonho de um pai é ver a filha dar o primeiro passo. É a minha maior alegria. Eu luto, eu vivo para ela”.

Causas

As causas da microcefalia podem incluir doenças genéticas ou infecciosas, exposição a substâncias tóxicas ou desnutrição. Outras situações que são capazes deprovocar microcefalia são as infecções como rubéola, citomegalovírus e toxoplasmose. Outro fator pode ser o zika durante a gravidez, especialmente no primeiro trimestre de gestação. 

Microcefalia pode ser desenvolvida gradualmente na criança 

O Ministério da Saúde confirmou a relação entre o Zika vírus e o surto de casos de microcefalia principalmente no nordeste do país em 2015. A febre zika, ou simplesmente zika vírus, é uma infecção transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue, chikungunya e febre amarela. Cada vez mais estudos tentam esclarecer a relação entre esses dois quadros. De 2015 até o ano passado o Ministério confirmou que mais de três mil crianças no país foram identificadas com a síndrome congênita do vírus da zika.

Em novembro de 2016, pesquisadores perceberam que a microcefalia causada pelo zika vírus não é apenas no nascimento. Alguns bebês de Pernambuco que nasceram com a síndrome de Zika congênita identificadas em exames, mas sem alterações no tamanho do crânio, acabaram por desenvolver gradualmente a microcefalia posteriormente.

Segundo o Ministério da Saúde, as investigações sobre microcefalia e o zika vírus devem continuar para esclarecer questões como a transmissão desse agente, a sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e período de maior vulnerabilidade para a gestante. As primeiras análises mostraram que o maior risco está associado aos primeiros três meses de gravidez.

Testes

Na última semana, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco desenvolveram um método simples e 40 vezes mais barato de identificar infecção pelo vírus da zika. A expectativa é que chegue aos postos de saúde até o fim do ano beneficiando principalmente os municípios mais afastados dos grandes centros, onde os resultados podem demorar até 15 dias.

A técnica utilizada atualmente é cara e são poucos laboratórios no país que podem realizar o diagnóstico da zika. Quem mora no interior acaba sofrendo para diagnosticar a doença, já que precisa sair da cidade em que reside e ir para a Capital para realizar os testes, o que prejudica a população. Ele poderá ser feito por qualquer pessoa no posto de saúde, já que não exige treinamento complexo.

Cuidados

Como há a possibilidade da microcefalia ser causada pelo vírus zika, que por sua vez é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, além das complicações já sabidas nos casos de dengue, por exemplo, uma das recomendações do Ministério da Saúde é evitar se expor ao mosquito. O que pode ser feito eliminando os criadouros dele, ou seja, retirar recipientes que tenham água parada e cobrir adequadamente locais de armazenamento, além do uso de repelentes indicados para gestantes. (Isabela Martins é estagiária do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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