Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Cresce casos de AVC em jovens

Estilo de vida tem sido apontado como causa principal para o crescimento do número de derrames em pessoas com idade inferior a 45 anos

Postado em: 30-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Estilo de vida tem sido apontado como causa principal para o crescimento do número de derrames em pessoas com idade inferior a 45 anos

Igor Caldas*

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Acidente Vascular Cerebral é a doença que mais mata no Brasil. No período entre julho do ano de 2015 até dezembro de 2018, foi registrado 4.231 atendimentos de acidente vascular cerebral (AVC) no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (HUGOL). O hospital conta com serviço especializado para dar atendimento e tratamento adequado para cada caso de AVC. Segundo o Diretor Clínico do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), Cristhiano Holanda, a incidência de AVC em pessoas jovens tem crescido a cada ano e Goiás não fica de fora dessa tendência. Para ele, as principais causas desse aumento advêm dos males trazidos pelo estilo de vida dos jovens atualmente.

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“Temos hoje um maior sedentarismo em jovens entre 20 e 30 anos. A obesidade tem sido um vetor que contribui muito para mudança deste paradigma. Para as mulheres, o uso de anticoncepcional é mais um agravante. O aumento do fator de risco causado por doenças como hipertensão e diabetes não tem baixa incidência em jovens como antigamente”, afirma o médico. Holanda explica que o aumento dos casos também tem a ver com o desenvolvimento tecnológico que permitiu o melhoramento na investigação do diagnóstico e a identificação dos casos em óbitos que antes não eram computados como decorrentes de AVC.

“Há trinta anos a capacidade tecnológica não era suficiente para computar esses óbitos. Hoje, temos vários aparelhos que são eficientes no diagnóstico e identificação da doença, o que vai contribuir para o registro do aumento de casos”, explica Holanda. Ele também afirma que o tratamento da doença também evoluiu. “Há uns vinte anos quem tivesse um AVC hemorrágico não teria um tratamento a par. Não existiam grandes centros para fazer intervenção e diagnóstico precoce, mesmo com elevada mortalidade e sendo uma doença grave, muitos pacientes sobrevivem e necessitam do tratamento adequado”.

Por ano morrem pelo menos 100 mil pessoas no Brasil em decorrência da doença. O mal é também o maior causador de incapacidade no mundo. Cerca de 70% das pessoas que sofrem um derrame não retornam ao trabalho depois do acidente vascular cerebral e 50% ficam dependentes de outras pessoas para tarefas do dia a dia. Quando a doença não mata, deixa sequelas que necessitam de tratamento. O Centro de Reabilitação e Readaptação Dr Henrique Santillo (CRER) realiza o trabalho de recuperação e internação em pacientes que foram acometidos pelos dois tipos de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Reginaldo Vieira Silva tem apenas 40 anos e já sofreu dois AVCs. Ele foi vítima da falta de cuidado com seu próprio corpo, pois mesmo sabendo que tinha hipertensão, se descuidou na regularidade de ingestão do medicamento anti-hipertensivo. Reginaldo que é enfermeiro, saiu da condição de cuidador para passar a necessitar de cuidado. Ele ficou com sequelas motoras e teve a memória afetada pelo derrame. Hoje, o jovem faz o tratamento de recuperação com seis profissionais diferentes. “Eu faço terapia com psicóloga, também com uma neuropsicóloga por que minha memória ficou afetada. Faço fisioterapia, terapia ocupacional, educação física e tratamento com uma fonoaudióloga”, explica Reginaldo.

Vieira explica como se sentiu quando sofreu o primeiro AVC. “Meu maior problema é que nunca fui de tomar o remédio certinho. Tomava esporadicamente. Quando sofri o primeiro, eu estava de licença médica por causa de umas hérnias de disco. Estava tomando uma medicação que o doutor falou que poderia dar alguma reação diferente. De repente, acordei um dia sem falar e sem andar. Mas não era reação ao medicamento. Eu tinha tido um derrame”. O enfermeiro explica que demorou quatro dias para ser atendido por um profissional que diagnosticou o AVC. A pessoa que estava cuidando dele achou que os sintomas eram apenas reação do remédio para as hérnias de disco. A demora não agravou as sequelas por que, desconfiado de que fosse um derrame, Reginaldo havia aumentado a dose de seu medicamento anti-hipertensivo.

Sequelas

As sequelas do derrame podem ser de níveis muito distintos e depende de qual região do cérebro foi comprometida. “Cada região do seu cérebro é responsável por um controle. O nível da gravidade da sequela depende muito de qual local que o AVC te acometeu. Pode deixar desde uma dormência na mão até uma coma em que o paciente possa nunca mais voltar. Temos vários pacientes em estágio vegetativo pós-AVC”, explica o médico. 

Após oito meses em recuperação do primeiro derrame, a única sequela que ficou em Reginaldo foi uma forte dor de cabeça. “Fiz reabilitação, acupuntura, fisioterapia e hidroginástica. Fiz mais de 80 sessões de fisioterapia e aí eu melhorei. O lado que tinha entortado, tinha voltado, a única sequela que restou foi uma dor de cabeça forte. Ao todo fiquei um ano e oito meses para recuperar e voltei a trabalhar”, explica Vieira. Após quatro anos depois de sua recuperação, ele sofreu o segundo derrame e está tendo uma rápida recuperação.

“Pra quem me vê uma vez por semana, nota uma evolução muito grande. A fala está bem melhor, eu não andava nem com a bengala, só andava com as pessoas me segurando ou de cadeira de rodas. Agora já ando de bengala sozinho. Acho que a parte emocional afetou muito por que não conseguia fazer nada”, Reginaldo afirma o que mais lhe deixou abalado foi necessitar de ajuda para fazer necessidades básicas como comer e ir ao banheiro. No entanto, afirma que o mais importante desse aprendizado é ter humildade para reconhecer seus próprios limites. Só assim ele conseguiu quebrá-los e evoluir. Hoje já consegue se alimentar e fazer suas necessidades sem ajuda de ninguém.

Vieira acredita que o fator fundamental para a evolução de sua recuperação tem sido sua fé. “Acreditar que dias melhores virão. Se você não acredita, se você não tiver fé, não vai melhorar. Minha fé me ajudou muito. Fé em dias melhores, fé que tudo vai passar, e se não passar, acreditar que um dia a gente vai vencer. Acreditar e buscar. Por que não adianta só acreditar, você tem que correr atrás. Ter fé não significa que eu não vou precisar de um profissional. Então tem que buscar e acreditar na sua busca pela melhora”, desabafa. 

Homens têm mais riscos de sofrerem derrames 

O diretor clínico do CRER reitera que é necessário uma mudança de estilo de vida para prevenir e identificar com rapidez o risco do AVC, principalmente na população masculina. “Ter uma vida saudável é o fator mais importante. Não ser sedentário, não ser obeso, ter prática desportiva e fazer check-ups periódicos. A detecção de maus como hipertensão, diabetes e colesterol elevado é fundamental, pois são fatores de risco para o derrame. O que a gente tem, normalmente é que o homem se cuida menos. A mulher, em última instância, faz prevenção e exames com a ginecologista pelo menos uma vez por ano. O homem com 20, 30 anos só vai ao médico quando está muito mau. Suponha que uma mulher descubra que tenha colesterol alto com 21 anos, ela vai conseguir identificar e corrigir com mais rapidez esse fator de risco que poderia levar a um AVC. Sem exames regulares, o homem nunca descobriria o fator de risco”, explica Holanda.

Há dois tipos de Acidente Vascular Cerebral. O AVC isquêmico e o hemorrágico. De acordo com o Supervisor Médico de Neurocirurgia do HUGOL, Francisco Azeredo, o “acidente vascular cerebral isquêmico é uma interrupção abrupta do fluxo sanguíneo cerebral, podendo levar à morte da região acometida. Há também o AVC hemorrágico, que é o sangramento dentro do cérebro, decorrente da ruptura de vasos intracranianos, como, por exemplo, a ruptura de um aneurisma ou de uma malformação arteriovenosa”.

O médico completa que “a prevenção passa por hábitos de vida saudáveis, como alimentação adequada, atividades físicas regulares, não fumar, não beber em excesso etc. Além do controle de hipertensão arterial, diabetes e alteração dos níveis de colesterol, quando presentes”. Azeredo explica que “os sintomas do AVC, seja ele isquêmico ou hemorrágico, têm como principal característica início súbito, podendo se manifestar como tonteira, dor de cabeça intensa de instalação súbita e diferente de todas as que por ventura tenha tido, seguida ou não de perda da consciência, vômitos, boca torta, paralisia de algum lado ou membro do corpo, dificuldade para falar, confusão mental, sonolência e até coma”. (*Especial para O Hoje) 

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