Reforma se arrasta por 17 meses

Prefeitura de Goiânia chegou a afirmar que as obras foram concluídas, mas IPHAN nega

Postado em: 03-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Prefeitura de Goiânia chegou a afirmar que as obras foram concluídas, mas IPHAN nega

Igor Caldas*

Obras de revitalização da antiga Estação Ferroviária em Goiânia se arrastam por mais de um ano.  Apesar de a prefeitura divulgar nota afirmando que as obras estariam finalizadas, a equipe de reportagem esteve no local e percebeu grande movimentação de funcionários trabalhando na reforma. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a obra não está finalizada, mas em fase de conclusão. Porém, a reportagem constatou um autêntico canteiro de obras na parte dos fundos do edifício. 

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Grande parte das escadarias que levam até a estação, na parte de traseira do prédio, aparenta estar longe de ser concluída. Um dos funcionários da reforma admite que o período para a finalização deve se alongar por, pelo menos, mais um mês. O município afirma que a inauguração da estação seria no dia 10 de maio.

A Antiga Estação Ferroviária será totalmente restaurada por meio de parceria do município com o programa PAC Cidades Históricas, iniciativa do Governo Federal, conduzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia do Ministério da Cidadania. A revitalização terá o custo total de R$ 5,87 milhões e já dura 17 meses.  A Prefeitura de Goiânia é proprietária e responsável pela manutenção do espaço. 

Todo o prédio está passando por obras, recebendo novas instalações e recuperação de estrutura, como pisos e cobertura, além de nova pintura e disposição dos espaços. No edifício, será instalado um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), a Gerência de Patrimônio Histórico, entre outros serviços da administração municipal. O prédio também volta a abrigar a Guarda Metropolitana e a Banda Municipal e terá ainda um espaço dedicado a exposições para artistas goianos.

Segundo a Prefeitura de Goiânia, a intervenção, que está sendo realizada, vai além da restauração do prédio.  A obra busca a transformação do espaço para permitir que novos usos dinamizem a região, atraindo público para o local, preservando a memória ferroviária e valorizando o estilo art déco – manifestação essencialmente decorativa, que inspirou os primeiros edifícios da capital, simbolizando o progresso e a modernidade. 

O tradicional relógio da torre foi recuperado e retomou seu funcionamento. Os dois painéis de Frei Confaloni foram restaurados com os afrescos originais, um marco das artes plásticas em Goiás. Porém, essa importante valorização deixa de fora a função primordial do prédio que é fornecer a estrutura principal para receber passageiros do meio de transporte sobre trilhos. 

Maria Fumaça

A nova função social da estação ignora a necessidade de diversificação do meio de transporte para diminuir a dependência dos sistema rodoviário. A antiga locomotiva “Maria Fumaça” que servia como trem de passageiros para a população goiana terá uma função meramente estética. O veículo foi todo restaurado e realocado na plataforma de embarque para acesso e conhecimento do público. Trens de passageiros não passam pelo prédio desde os anos 1980. Terezilda de Oliveira sente falta de quando fazia viagens sobre os trilhos que deixaram apenas saudades.  “Eu gostaria que estivesse sendo reinaugurada a antiga estação ferroviária. Aquela que a gente pegava o trem e ia para Minas, São Paulo. Essa que é a minha saudade. Eu gostaria que isso é que tivesse sendo reconstruído e recuperado”.

Terezilda fica indignada pelo novo funcionamento da antiga estação não contemplar a o uso do transporte sobre trilhos que traria economia para as contas do Estado. “Por que em vários lugares eles economizam com o transporte sobre trilhos. Aqui, a gente já tinha pronto uma parte indo até para Campinas. Com tudo que a gente precisa tendo aqui, eles tiram e colocam a estação desse jeito. É bonito? É bonito, mas não é funcional para o que se exige hoje. O ideal seria o mais econômico (transporte sobre trilhos). Que recolocassem os trilhos e voltasse a ser estrada de ferro. O que fizeram dos dormentes? Dos trilhos? Onde estão os trens que circulavam por aqui? Quero minha estação de trem aqui”, desabafa Oliveira.

Terezilda fala sobre como o transporte sobre trilhos poderia auxiliar toda população na melhoria da qualidade dos transportes e na dependência das rodovias. “Eles poderiam melhorar a qualidade e o barateamento do transporte (com os trens), principalmente de mercadorias. Seria bem diferente. E não é prejudicando os caminhoneiros, por que temos trabalho para todos. Nossas estradas ficam em péssimas condições. Por que não manter o que já tínhamos ou recuperar o que se tinha antes? O progresso depende de economia”, afirma Oliveira.

Cristiano Santz está morando há três meses em Goiânia. Ele é natural do Estado de Mato Grosso e já passou várias vezes pelo antigo edifício, mas confessa que nunca teria imaginado que ali funcionasse uma estação ferroviária. Mesmo assim, Santz acredita que a nova função social da estação vai atrair pessoas e movimentar o mercado na região. “Vai ser muito legal, as pessoas que vem de fora vão achar interessante. Com certeza vai atrair turistas”, afirma. 

Porém ele acredita que fazer a Maria Fumaça funcionar seria muito mais lucrativo para toda a população. Ele cita como exemplo uma cidade do interior de São Paulo que também restaurou a antiga estação ferroviária e usa o funcionamento do trem como uma atração turística. “Estive no estado de São Paulo, na cidade de Jaguariúna e lá tem uma Maria Fumaça que vai para a cidade de Campinas e volta. Acho que o legal seria fazer o trem voltar a funcionar. Vai chamar mais atenção ainda. Todo mundo vai querer passear de trem. Acho que a Prefeitura de Goiânia deveria colocar a Maria Fumaça para funcionar”, afirma o matogrossense. 

Cristiano ainda admite que as mudanças feitas na Praça do Trabalhador, que fica ao redor da Estação Ferroviária, foi positiva e pode movimentar o mercado da região pela proximidade das feiras. A praça recebeu nova pavimentação, novo paisagismo, iluminação e mobiliário, criando um espaço de convivência para a população. (*Especial para O Hoje)  

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