Privatização da Metrobus preocupa especialistas

Segundo especialistas, se a estatal for gerida pelas empresas que já controlam o transporte na Capital será o fim de esperança de melhorias do serviço

Postado em: 06-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Segundo especialistas, se a estatal for gerida pelas empresas que já controlam o transporte na Capital será o fim de esperança de melhorias do serviço

Igor Caldas*

A licitação da privatização da Metrobus, responsável pela operação do Eixo Anhanguera, pode cair como uma luva para empresas que já operam o transporte coletivo da Capital. O risco desses empreendimentos ficarem responsáveis pela operação do Eixo preocupa especialistas.  Marcos Rothen, professor do Instituto Federal de Goiás e especialista em trânsito, acredita que esse desfecho representaria a perda total das esperanças de melhorias no transporte coletivo da Capital. “Se isso acontecer, será um baque. O fim da esperança de melhorias. Mas com o déficit que a Metrobus tem, vai ser difícil algum empresário sério de fora assumir”, afirma o especialista.

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O governo de Goiás e a Prefeitura de Goiânia já deixaram claro que não querem gerir a responsabilidade da operação do Eixo Anhanguera, feita pela empresa estatal Metrobus.  O governador Ronaldo Caiado assinou, junto com o Prefeito Iris Rezende, uma carta de intenções para formalizar o interesse do poder público na privatização da Metrobus.  Apesar de receber a passagem reajustada em R$ 4,30 de 250 mil pessoas por dia, a estatal afirma que possui um déficit mensal de R$ 2,5 milhões.

Na carta admite-se que “… a Metrobus não tem conseguido prestar o serviço para o qual foi contratada de forma eficiente, segura, de qualidade e continuidade que atendam à demanda que a atualidade exige”; também afirma que a Metrobus não vem desempenhando “adequadamente o serviço de transporte público coletivo de passageiros” porque tem enfrentado problemas financeiros.

A carta finaliza relatando que o poder estadual e municipal irão, a partir de agora, “efetivar estudos que indiquem os meios adequados para a continuidade da prestação do serviço público de transportes de passageiros na Região Metropolitana de Goiânia, de forma a atender o interesse público e propiciar as melhorias necessárias no sistema, em especial sobre a viabilidade jurídica e econômica da rescisão amigável da concessão do Eixo Anhanguera”.

A carta foi apresentada no dia 17 de abril, mesma data em que foi anunciado o aumento da tarifa de passagem de ônibus para R$ 4,30. O anúncio foi realizado em véspera de feriado da Páscoa. Segundo o vereador Lucas Kitão, que votou contra o aumento da tarifa na Câmara Deliberativa de Transporte Coletivo (CDTC), a decisão foi feita de forma tirânica. Ele afirma que, na ocasião, não foi debatido nenhum projeto para melhoria no transporte coletivo da Capital que justificasse o novo valor da passagem.

Na ocasião, o presidente da CDTC, Jânio Darrot, justificou o aumento da tarifa.”O reajuste é automático, todo mês de dezembro. Já deveria ter sido implantado, mas estamos discutindo uma série de melhorias. Acho injusto [o aumento], mas tínhamos de tomar uma decisão. Se quebrássemos o contrato e não aumentasse a tarifa, nós poderíamos estrangular o sistema”, disse. 

Darrot também comentou sobre a assinatura da Carta de Intenção e iminente privatização do Eixo Anhanguera. “O Eixo assim será reestruturado e modernizado para que possa dar uma melhor qualidade do transporte coletivo no Eixo Anhanguera e as extensões até Trindade, Goianira e Senador Canedo”, mencionou.

Indignação 

Élida Silva é vendedora de roupas na Rua 44 e necessita usar o transporte do Eixo Anhanguera todos os dias. Ela está indignada com a justificativa da privatização da Metrobus ser problemas financeiros. “Como é que esses canalhas têm coragem de falar que estão endividados? Calcula o tanto de gente que entra aqui todos os dias. Ainda mais com o aumento da passagem. A população dá muito dinheiro para esse povo, como é que eles dizem que está faltando? A gente paga caro pra ter um transporte de péssima qualidade. Isso é rolo deles”, desabafa Élida.

Silva afirma que o problema da baixa qualidade do transporte público em Goiânia não está somente no Eixo Anhanguera. “Não é só no eixão que a gente sofre. E se privatizar vai piorar mais ainda. Se a prefeitura que tem dinheiro não quer, imagina essas empresas particulares. A gente é obrigado a pegar ônibus estragado e lotado todos os dias por que eles não colocam mais linhas”. Denuncia.

Maria Lacerda da Silva tem 80 anos e usa o transporte do Eixo Anhanguera de segunda à quinta-feira para fazer suas atividades. Ela também acha que a privatização da Metrobus não vai ajudar em nada na melhoria do transporte na Capital. “Não vai melhorar de jeito nenhum, vai ficar é muito pior do que está. A prefeitura tem sim condição de melhorar o transporte público. Eu tenho certeza de que se eles quiserem, o transporte tem condição de melhorar. O que falta é boa vontade e trabalhar com seriedade. Ninguém vai ter responsabilidade com ninguém. Eles não querem nada de melhor para o pobre. Querem é que morra”, lamenta Lacerda. 

Órgãos não conseguem cobrar melhoria no transporte público 

Se a responsabilidade do Eixo Anhanguera recair sobre as mesmas empresas que controlam o transporte coletivo na Capital, os órgãos governamentais que regulam o serviço não vão conseguir fiscalizar as melhorias necessárias para atender dignamente a população.

A Câmara Deliberativa de Transporte Coletivo (CDTC) admite a incompetência dos órgãos na cobrança pelo avanço na qualidade do transporte coletivo. Ela diz que nem a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) e nem a CDTC conseguem fiscalizar e cobrar a melhoria do transporte em Goiânia, mas anunciou que a possível solução seria a união dos dois órgãos para se fortalecerem. 

Admitiu também que se a responsabilidade do transporte coletivo continuar dividida entre os dois órgãos, a passagem vai continuar aumentando e a qualidade vai permanecer a mesma. No entanto, esta junção não tem data prevista para acontecer.

O presidente da CDTC, Jânio Darrot, que também é prefeito de Trindade, reforça que a medida mais sensata seria a união da CDTC com a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC) para cobrar melhorias junto às empresas. “Isso significa que teremos um órgão realmente forte, porque existe hoje uma dualidade e ninguém sabe quem manda efetivamente na gestão do transporte público da região metropolitana”, afirma Jânio. (*Especial para O Hoje) 

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