Cães do projeto Terapia Assistida por Animais visitaram o Hugo para a alegria dos pacientes

Iniciativa é da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio dos cursos de Medicina Veterinária e Medicina

Postado em: 11-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Cães do projeto Terapia Assistida por Animais visitaram o Hugo para a alegria dos pacientes
Iniciativa é da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio dos cursos de Medicina Veterinária e Medicina

Higor Santana*

Na tarde da última sexta-feira (10) o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) recebeu uma visita um tanto descontraída. Integrantes do Programa de Terapia Assistida por Animais, o Terapet, que leva animais às unidades de saúde de Goiânia, levou cinco cães para o hospital, para a alegria dos pacientes. A iniciativa é da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio dos cursos de Medicina Veterinária e Medicina.

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É a primeira vez que o Baru, Djorge, Lord, Lipe e o Capitão Simba visitam a unidade. Pelos corredores, os animais espalham alegria e descontração, em um ambiente tomado por dor e agonia. Em Goiânia, a equipe do Terapet já visitou o Hospital da Clínicas e o Hospital da Criança, mas foi no Hugo que a alegria foi contagiante. 

Se engana quem pensa que são apenas os pacientes, encantados pelos animais. É como explica a professora da UFG e coordenadora da Terapet, Kellen de Sousa Oliveira. “A gente observa que quando os cães chegam ao hospital, os pacientes mudam a atitude, ficam mais felizes, os próprios colaboradores do hospital ficam mais alegres também. É uma alegria só. E sempre é assim. Tantos os pacientes, os acompanhantes e os colaboradores do hospital acabam se apaixonando nos animais”, explica.

De acordo com a coordenadora, está se tornando cada vez mais comum que os pets colaborem para a recuperação de pacientes dos mais variados casos clínicos. Para ela, a Terapia Assistida por Animais (TAA) consiste em tratamentos na área da saúde, onde um animal é co-terapeuta e auxilia o paciente a atingir os objetivos propostos para o tratamento.

O paciente Adão Mendes é da cidade de Morrinhos e está há 15 dias no hospital por conta de uma cirurgia no braço. Para ele, a presença dos animais melhora o clima na unidade. “Eu gostei demais. A presença deles aqui é bom demais. Assim, em um hospital eu nuca vi. É a primeira vez. Tem que acontecer mais vezes, é muita alegria com eles aqui, a gente até esquece da realidade que é estar aqui dentro”, explica emocionado.

Muitas instituições e ONGs também trabalham levando esses animais até escolas, hospitais e centros de recuperações. Em muitos casos o animal terapeuta não precisa ser disponibilizado por uma organização não governamental, pode ser o próprio bichinho do paciente. Mas nem todo animal nasceu para ser um terapeuta. Segundo Kellen, ele precisa ser tranquilo, ter uma personalidade que as pessoas possam abraçar, beijar e apertar, sem que ele reaja.

Animais que curam

O benefício terapêutico dos bichos já vem sendo observado há algum tempo. Não existe uma recomendação específica de quem pode ser ajudado pela pet terapia. “Qualquer paciente pode ser beneficiado, desde que não haja alguma contraindicação, como por exemplo, medo de animais, alergia ou problemas de respiração, entre outros”, explica o médico infectologista e coordenador do Hugo, Guillermo Socratis.

Fábio Silva é de Itumbiara, e por conta de um acidente de trânsito teve que realizar uma cirurgia na perna. O rapaz está há quatro dias no hospital, e para ele, é uma alegria receber os animais. “É muito bom vê-los. A gente fica aqui o dia todo nessa agonia, sentido dores e quando recebe a visita dos cães, é como se Deus mandasse um anjinho de quatro patas para alegrar o dia da gente. Aproveitei e tirei uma foto com um deles, pude passar a mão e sentir a alegria que esses animais transmitem”, conta o rapaz.

Os cães e as crianças

Segundo Guillermo, diversos problemas infantis podem ser melhorados com o convívio com animais. Um exemplo é a melhora do quadro de portadores de autismo. Estudos mostram que as crianças autistas, apresentam diminuição nos comportamentos negativos, como agressividade, alienação, isolamento, entre outros com a presença de cães nas seções, por exemplo. “Elas têm muita dificuldade no contato social e a simples presença de um animal treinado associada a atividades adequadas para eles auxiliam nesse desenvolvimento”, explica.

Hiperativos também encontram benefícios com essa terapia. “O bicho pode deixar a criança mais calma, eu mesmo trabalho com uma que até diminuiu a dose do remédio”, conclui Guillermo. O pequeno Franchesco Carlos, de apenas um ano e oito meses, sorri ao ver o animal. Para o pai, Fábio Carlos, a emoção contagia ao ver o filho sorrindo. “Ele estava todo sensível, com dores na perna. Foi só ver o cachorros começou a sorrir, deixei ele passar a mão em todos, ele até  brincou com um no chão. É ótimo ver isso, ver que o hospital ajuda a melhorar a autoestima das pessoas. O projeto todo está de parabéns, os donos dos cachorros e os médicos estão de parabéns”, afirma o rapaz. 

Cães, cavalos e até tartarugas podem contribuir na melhora de pacientes 

Quem tem animal de estimação e passa por uma situação de internação hospitalar sabe o quanto é difícil contornar a saudade do bichinho. De acordo pesquisas, a presença do pet pode proporcionar ao paciente, inúmeros benefícios, como uma recuperação mais rápida e força de vontade maior do próprio paciente, em se recuperar.

De acordo psicólogos, os cachorros são excelentes aliados contra problemas cardiovasculares. Um estudo da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, provou que conviver com eles abaixa a pressão arterial. O cardiologista Elias Knobel, confirma. “Seu dono fica mais feliz e assim os hormônios do estresse não ameaçam tanto as artérias” afirma. Ainda segundo o médico, há outro detalhe. “Grande ou pequeno, todo cão precisa passear. E a saúde de quem o segue segurando a coleira sai ganhando”, conclui.

Já os gatos são bem-vindos contra a solidão. “Para os idosos, cuidar de um pequeno animal pode ser um estímulo cognitivo”, opina o geriatra Flávio Chaimowickz. A visão de um aquário cheio de peixes e dos passos lentos da tartaruga são boas pedidas para quem quer relaxar.”Esta última também é aliada em trabalhos com crianças que têm dificuldade de locomoção e concentração”, conta Flávio.

Seguindo regras e orientações específicas, os animais podem visitar os pacientes de hospitais e ajudar na recuperação. As regras para visitar o paciente variam de acordo com cada instituição hospitalar, mas de forma geral, o bichinho tem que ser dócil, possuir um laudo veterinário que ateste suas boas condições de saúde, estar com as vacinações e vermifugações em dia e ter tomado banho no dia da visita. Tudo, claro, com prévia autorização médica.

Visita de peso

Em fevereiro, pacientes do Hospital da Criança, em Brasília, receberam uma visita de peso no hospital. O cavalo Oportuno do Rincão, de 10 anos, foi levado por militares dos Dragões da Independência para dentro da enfermaria onde fica crianças e adolescentes internados para tratamentos de alta complexidade. O animal, de 500 quilos, faz parte do Regimento de Cavalaria da Presidência da República. 

Durante um mês ele foi treinado para entrar no hospital onde encantou profissionais de saúde e arrancou sorrisos de pacientes. O animal recebeu ferraduras de plástico, além de um banho especial para evitar a infecção por carrapatos. Ele também participou de uma simulação para aprender a andar em um piso de porcelanato.

Toda a ação no hospital foi autorizada e acompanhada por uma comissão de controle de infecções. As crianças que tiveram contato com o bicho também foram avaliadas quanto à imunidade. Ações como essa, segundo a diretoria do hospital, ajudam na disposição para o tratamento e resgatam a alegria dos pacientes.

Exemplo de vida

Há alguns anos o canadense Zachary Noble, de 25 anos, pediu para receber a visita de seu cãozinho Chase enquanto estava internado, para tratar de um linfoma de Hodgkin. Após a visita escondida do cão, Zach apresentou uma surpreendente melhora e viveu por um período maior do que o esperado.

Após a morte de Zachary, sua tia fundou a “Zachary’s Paws for Healing” para atender ao último pedido do sobrinho e formar a primeira organização canadense que tornava possível a visita dos pets para seus tutores internados. Antes mesmo do caso de Zach, em 2008, o Centro Médico da Universidade de Maryland, nos EUA, já havia criado o programa “Faithful Friends” (Amigos Fiéis) que permite a visita dos pets às pessoas internadas no hospital.

Cuidados

Nem todo mundo pode ter um pet em casa. “Pessoas mais sensíveis sofrem com alergias respiratórias”, avisa o clínico geral Arnaldo Lichtenstein. E não é só o pêlo o grande vilão. “Ácaros e poeira se depositam na pele do animal”, completa. A dica do médico é não deixá-lo no quarto. Além disso, o especialista ressalta a necessidade de levá-lo regularmente ao veterinário e manter suas vacinas em dia. (Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de cidades Rhudy Crysthian)

 

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