Pecuária de Goiânia: Preços altos afastam público

Expositores e frequentadores afirmam que esta é a pior edição da Festa da Pecuária dos últimos anos

Postado em: 23-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Expositores e frequentadores afirmam que esta é a pior edição da Festa da Pecuária dos últimos anos

Igor Caldas*

O movimento de uma das festas mais tradicionais de agropecuária do país esfriou na edição deste ano. Comerciantes que possuem stands na 74ª Exposição Agropecuária do Estado de Goiás temem levar prejuízo este ano. Segundo eles, o público está muito abaixo do esperado e os altos preços para o aluguel dos stands não retornam o investimento. O evento terá duração de dez dias, mas vai contar com shows de música sertaneja em apenas cinco noites. Comerciantes afirmam que a pouca quantidade de atrações ofuscou o brilho da Pecuária.

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O stand de Eurípedes Reis da Silva vende acessórios direcionados ao público sertanejo. Pulseiras, chapéus, camisetas e fivelas estão entre os produtos expostos para a venda durante o evento. Ele teme ter prejuízo com a empreitada, pois não obteve as vendas que estava esperando e já se passaram seis dias de exposição. Mesmo com medo, Eurípedes ainda tem a expectativa que o movimento melhore com os próximos shows. O próximo espetáculo será na noite de hoje.

“Já passou metade da feira e a gente não vendeu praticamente nada. Na noite de sábado [17], o movimento foi melhor por causa do show, mas mesmo assim não foi o que a gente esperava. Tomara que hoje comece a melhorar o movimento, ou então vamos tomar prejuízo. A gente paga caro para montar a barraca aqui e não tira lucro nenhum”. Eurípedes afirma que pagou R$ 3,750 mil para poder vender seus produtos durante os dez dias do evento.

O comerciante ainda afirma que o movimento da exposição vem piorando ao longo dos anos.  “O movimento está péssimo. Acho que este ano vai ser a pior pecuária dos últimos anos. Antigamente você vinha fazer comércio aqui e era a coisa melhor que tinha. Montava a barraca cedo e vendia bastante por que o povo ia chegando desde a abertura dos portões. Hoje o movimento está muito devagar. Tira como exemplo hoje a tarde para você ver. Consegue ver algum movimento por aqui? Não tem ninguém”, lamenta. A equipe de reportagem esteve no local na tarde de terça-feira (21).

De acordo com o vendedor, a falta de atrações é o principal motivo para a queda de movimento na exposição. “Nunca vi festa de pecuária sem rodeio na minha vida. As únicas atrações interessantes para o público deste ano são os shows de música sertaneja, mas acho que pelo tamanho do evento, deveriam ter mais [shows]. Não teve na segunda-feira, não teve hoje. Só vai ter show de novo na quinta-feira [23]. Sem atração, a feira fica esse vazião. Afinal, a pessoa vai pagar para entrar na Pecuária para ver o que?”.

Rolê para poucos

O artista plástico Pedro Lugh fabrica placas de identificação de fazendas e propriedades rurais. Ele pagou R$ 3 mil para montar seu stand na Pecuária. Para ele, o movimento foi bastante fraco nos últimos dias do evento. No entanto, considera que está tendo sucesso nas vendas, pois recebeu alguns pedidos de encomendas para fabricar os letreiros. O preço das placas de identificação entalhada em madeira varia em torno de R$ 1 mil.

“Eu dei sorte por que meu produto tem o preço mais elevado por ser de fabricação manual. Mas conversando com outros comerciantes, percebi que quem depende da saída de muitos produtos está com medo de ter prejuízo”, afirma o artista. Ele acha que o preço elevado também afastou o público do local. Além disso, afirma que faltaram mais atrações de peso para chamar mais gente para feira de exposições. “Eu achei que faltou mais shows para chamar o povo para cá. E o preço das coisas está salgado. Vir para a Pecuária não fica um passeio barato”.

Reposta

Em nota, A SGPA informou que não impõe tabelamento de preços de comidas e bebidas. Ela apenas aluga espaços. Esclarece, ainda, que a SGPA apenas sugeriu à Ambev o tabelamento da cerveja Brahma no parque, a R$ 6,00 a lata gelada.Quanto a alegação de pouca frequência em dias de não shows, o parque recebe em torno de 5 mil pessoas entre produtores, comunidade em geral, além do corpo operacional.

Ingressos 

O preço do primeiro lote dos ingressos para entrar 74ª Exposição Agropecuária do Estado de Goiás em dias de show é R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Nos dias sem atrações da música sertaneja, o valor do ingresso cai para R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Para quem quiser curtir uma balada em alguma das casas noturnas que montaram boates na feira o valor da entrada varia de R$ 50 a R$ 100.

Saco vazio não para em pé. Mas se precisar comer e beber algo dentro da feira é o bolso do frequentador que vai esvaziar. O pão de queijo é vendido a R$ 5. Em alguns pontos de venda, uma garrafa de água pode chegar a R$ 4. A lata de cerveja está salgada, chegando a R$ 10 e o suco de laranja de 500 ml é vendido a R$ 8.

Segundo Alaene Martins Figueiredo, proprietária de um restaurante instalado na exposição, o preço dos produtos chega elevado ao frequentador da feira por que são tabelados pela organização do evento. Além disso, todos os comerciantes de bebidas são obrigados a comprá-las no mesmo local que vendem uma lata de refrigerante a R$ 3,70. O preço tem que ser repassado ao consumidor.   

Frequentadores sentem falta da antiga Festa da Pecuária 

Na tarde desta terça-feira (21) as ruas que fazem parte do complexo onde é feita a Exposição da Pecuária tinha mais circulação de bovinos do que de pessoas. Havia um julgamento avaliativo de bovinos da raça Nelore na arquibancada que fica próxima ao palco principal do evento, mas as cadeiras estavam completamente vazias.

Os brinquedos do parque de diversão que foram montados ao lado do palco principal do evento estavam vazios mesmo com a presença de crianças de escolas públicas e particulares que estavam visitando o local durante o dia.

Kênia Christina Rodrigues Silva levou seu filho para passear na exposição, mas sente que a Festa da Pecuária em Goiânia não é mais a mesma há anos. Ela acompanhou a decadência do evento de perto, pois mora há muitos anos vizinha ao Parque de Exposições. “Sinto saudades da antiga pecuária. Quando eu era adolescente, vinha todo ano e como fica na porta de casa, eu comparecia todos os dias. Os jovens chegavam cedo, as escolas ficavam vazias nessa região. Era um ponto de encontro onde o pessoal vinha passear, paquerar. Hoje já não é a mesma coisa”.

De acordo com a frequentadora da feira, o evento teve uma piora considerável nos últimos dois anos e aponta os principais pontos que, na opinião dela, fizeram a antiga Festa da Pecuária deixar saudades. “Não tem mais graça. O número de animais em exposição diminuiu; acabou o rodeio; o parque de diversões que também tinha brinquedos para adultos não tem mais. A duração do evento foi reduzida e tinha mais movimento. Nem o mel que eu comprava todo ano aqui na feira eu achei para vender nesta edição”.

Crescimento urbano

O forte crescimento urbano alcançou o Parque de Exposições de Goiânia nos últimos anos e segundo Kênia, também foi responsável pela piora da exposição. “A cidade cresceu muito pra esse lado. É impossível achar estacionamento por aqui em dias de evento e quando você acha uma vaga, é extorquido. Até o porteiro do meu prédio está alugando a vaga dos vizinhos que viajaram para os frequentadores da Pecuária”.

A falta de segurança no espaço externo do Parque de Exposições de Goiânia também foi alvo de críticas da moradora da região. “No dia do show, a segurança lá fora estava muito precária. Aqui dentro tem muita polícia, mas do lado de fora eu achei bagunçado. Acho que se mudassem a Pecuária de lugar, o evento ia melhorar muito. Tinha que ser um lugar mais afastado do centro urbano”, sugere Kênia.

Além disso, como vizinha do Parque de Exposições de Goiânia, Kênia afirma que o local fica subutilizado no restante do ano. “Quando não tem pecuária aqui vira uma área ociosa que podia ser melhor aproveitada. Se tivessem colocado outro empreendimento que gerasse lucro aqui ia ser melhor. No resto do ano a gente até evita passar por aqui por causa da criminalidade. Já ouvi denúncias de crimes e muita gente que mora na rua acaba vindo para cá”. (*Especial para O Hoje) 

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