Cachaça como fonte de renda

Pequenos produtores apostam na produção de cachaça artesanal como oportunidade de negócio

Postado em: 03-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pequenos produtores apostam na produção de cachaça artesanal como oportunidade de negócio

Isabela Martins*

Foi depois de fazer um curso de cachaça artesanal no Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar/GO) que o engenheiro agrônomo Daniel Silva se tornou um produtor da bebida, em Uruana. Ele é o sogro José Antônio viram a oportunidade nascer depois que levaram as bebidas produzidas no curso e ofereceram para produtores rurais do município que gostaram do que provaram. Desde 2016, Daniel e o sogro começaram a montar a fábrica. Juntos eles entram na estatística divulgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que mostram que em Goiás existem 24 produtores de cachaça artesanal.

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Daniel escolheu Vale do Uru como nome do produto. Segundo ele, a inspiração foi o Rio Uru que passa pela cidade de Uruana, cidade a 157 km de Goiânia.  Quando começou a montar a fábrica, junto com o sogro, teve que comprar a cana fora do Estado. “A gente ainda não tinha canavial, no primeiro ano produzimos dois mil litros. Em 2017 plantamos nossa própria cana, hoje são quase dois alqueires e, ano passado, conseguimos produzir quase 40 mil litros”. Todo trabalho é feito pela família, junto com Daniel estão o sogro e o cunhado Marcelo Pereira, além de três funcionários que ajudam na produção.

O engenheiro agrônomo, desde que fez o curso, afirma que não deixa de se profissionalizar. “Tudo que a gente tem a oportunidade de participar a respeito de cachaça, corremos atrás para aprender. E eu penso em fazer um mestrado e um doutorado futuramente na área de alimentos voltado para cachaça artesanal”. 

Tipos

Na produção de Daniel são feitas quatro tipos de cachaça. A branca que é a tradicional, da forma que sai do alambique. Uma descansada em tonéis de balsamo, uma descansada em tonéis de jatobá e por fim a Premium. “Essa é uma cachaça bi destilada que ficou um ano no barril de carvalho. Ela é 100% madeira, a gente não misturou no carvalho”. Segundo Daniel, as mais vendidas são as cachaças descansadas de balsamo e de jatobá. 

O produtor explica a diferença no processo de destilação da cachaça artesanal para a industrial. O processo começa na fermentação, as bebidas feitas de forma industrial demoram em média de 15 a 18 dias para fermentar. Enquanto isso, as fábricas de bebida industrial utilizam fermento químico na fermentação da cachaça o que faz com que em 12 horas ela esteja pronta para destilar. “No nosso processo, quando está 100%, vai gastar 24 horas para começar a fazer a destilação. Nesse processo, a industrial não faz a separação de partes. No nosso caso, fazemos essa separação”. 

Processos 

Ele explica que essa separação é feita em três partes. A primeira é considerada a mais forte onde são inseridos produtos que causam a famosa ressaca, em torno de 15% do que está no alambique. “A gente separa essa parte. Depois vem o que chamamos de coração, que é a parte nobre da cachaça, a melhor parte da cachaça e o que se aproveita”. O que sobra é o que ele chama de “calda”, ou a água fraca que também é descartada por conter resíduos que podem causar problemas de saúde.

Cachaça e aguardente 

O estudo A Cachaça no Brasil feito traz uma distinção entre cachaça e aguardente. É reconhecido como cachaça o que é feito a partir do mosto, ou seja, o líquido fermentado do caldo de cana-de-açúcar, com composição alcoólica variando entre 38% e 48%. Já a aguardente pode ser também um destilado alcoólico simples, mas com composição alcoólica entre 38% e 54%. Segundo o Ministério da Agricultura, essa definição é necessária para normatizar e registrar os estabelecimentos e os produtos. 

Curso pode ser feito em 48 horas  

Há 10 anos o Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar/ GO) oferece o curso de fabricação de cachaça. De acordo com o instrutor técnico de cachaça, Antônio Vieira, o curso tem duração de 48 horas onde é oferecido aos participantes aulas teóricas sobre a qualidade e maturidade da cana, alambiques e sobre a fermentação que é a parte mais importante na fabricação da cachaça. “A pessoa procura o Sindicato Rural mais próximo da sua cidade, que vai pedir para o Senar. Depois disso a gente vai até o local para ministrar o curso”, explica Antônio.

O instrutor conta que a procura é grande. “Tem bastante demanda, o pessoal tem procurado muito, já tem tido alguns casos quando a pessoa compra um alambique e procura fazer o curso. Não tem uma região especifica de onde as pessoas mais procuram”. Segundo ele, a procura em cada município varia. Alguns vão até o local para aprender a produzir e outros apenas por curiosidade. “Acho bom quando a gente ministra uma coisa que a pessoa interessa que dá continuidade e que isso seja bom para a pessoa”. 

Ganhos

Antônio ministra o curso há oito anos e acredita que um dos motivos da procura é o valor que o produtor pode ganhar depois.  “Fizemos uma pesquisa e vimos que o custo de produção da cachaça gira em torno de R$ 2 a R$ 2,50 e o produto pode ser vendido a R$ 20. Então dá um lucro bom, talvez por isso o pessoal têm procurado bastante”. Ele pontua ainda que nem sempre quem procura o curso é um produtor de cana. (Isabela Martins é estagiária do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

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