Sopro de vidro

Artesão dá vida a peças artísticas feitas de vidro derretido com o ar dos pulmões

Postado em: 08-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Sopro  de vidro
Artesão dá vida a peças artísticas feitas de vidro derretido com o ar dos pulmões

Igor Caldas

O artesão que trabalha com vidro é uma profissão pouquíssima explorada em território nacional. Segundo Samir Gomes Pannus, o único soprador de vidro do Centro-Oeste, existem mais cinco profissionais desta área em todo Brasil. Ele tem aproveitado essa lacuna no mercado de tabacarias para dar vazão às peças produzidas em ateliê que montou em sua própria casa. A produção tem sido intensa. Ele começou a prática há um ano, mas tem recebido encomendas para produção de cerca de 200 peças por dia.

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Ele precisou realizar um curso profissionalizante para aprender a técnica de soprar vidro. “Tem apenas um ano que comecei o artesanato em vidro. Em março do ano passado, fui fazer um curso em São Paulo com um pessoal que trabalha com isso há mais tempo no Brasil. Daí, fiquei mais três ou quatro meses juntando dinheiro para concluir a reforma no cômodo da minha casa para fazer o ateliê”, explica Samir.

Para fundir o material é necessário uso de um maçarico especial fixo sobre uma mesa. Debruçado sobre a labareda, ele manipula os tubos de vidro derretido. Tudo deve ser feito de maneira rápida para que o material não esfrie e solidifique. A estrutura para montar um ateliê de trabalho para sopro de vidro não é barata. Para construí-lo, Samir gastou cerca de RS 10 mil na compra das ferramentas e materiais necessários para reforma que adaptou em um pequeno cômodo nos fundos de sua casa no Jardim América.

Fabricar estas peças é o mesmo que brincar com o fogo. Para moldar o vidro, é preciso que ele esteja a uma temperatura que varia entre 600 e 925 ºC. Neste ponto, o material amolece o suficiente para que possa ser moldado e quando pequenos pedaços de vidro são aquecidos e pressionados juntos, eles podem se fundir em uma única peça. 

Samir utiliza tubos de vidro ocos e maciços de diferentes cores para fabricar suas peças. Ele as molda com o ar de seus pulmões soprado através dos tubos de vidro em estado de fusão e usa ferramentas para unir fragmentos de vidro derretido.

Artigos para tabacaria

A maior parte de sua produção recai sobre a fabricação de piteiras: pequenos tubos de vidro que são colocados na ponta de cigarros enrolados manualmente. Além de serem mais higiênicas para o fumante, elas podem ser reaproveitadas infinitamente. Isso não ocorre com o mesmo acessório feito de algodão ou papelão, usados por quem quer tragar fumaça. Além dessas pequenas peças, Samir produz cachimbos, pingentes, pesos de papel e objetos de decoração, todos feitos de vidro.

Ele afirma que a liberdade criativa do vidro é imensa, mas que as peças que têm mais saída de mercado são as mais simples e funcionais. “Aqui no Brasil a gente começa a olhar as peças mais artísticas, mais bem trabalhadas e vê que são mais difíceis de comercializar. No fundo, são as peças mais simples e funcionais que têm mais saída. No caso, é a piteira de vidro que é o produto principal da loja é o que mais se consome no país”.

O mercado de artesanato em vidro ainda está engatinhando no Brasil. “Para acessórios em vidro voltados à tabacaria, utilizamos o mesmo vidro de materiais para laboratório, o borosilicato. Ele é mais resistente ao calor e a produtos químicos. Temos cerca de cinco marcas nacionais trabalhando de forma artesanal com esse tipo de vidro atualmente. No centro-oeste, eu sou o único”.

 Matéria-prima importada aumenta custo 

A maior dificuldade que o artesão Samir Gomes Pannus encontra para realizar seu trabalho é a de encontrar os materiais usados na fabricação das peças. Ele explica que os tubos de vidro colorido só são adquiridos por meio de importação.“É uma arte que está em desenvolvimento, então você não consegue comprar vidro colorido aqui no Brasil. Dá para achar apenas os transparentes, utilizados na indústria química. Temos tentando trazer essa linha mais artística que vem de fora, mas é necessário fazer importação e isso dificulta demais para trabalhar”.

O artesão foi contemplado no último edital do Fundo de Arte e Cultura de Goiás na categoria de artesanato. O edital selecionou artesãos para patrocínio de cursos ou compra de materiais no valor de R$ 20 mil. Na justificativa para ser beneficiado pelo programa, Samir apontou a dificuldade de encontrar materiais feitos de vidro colorido no Brasil e a necessidade de importação. Ele almeja que mais pessoas se interessem pela arte de soprar vidro para que o mercado evolua.

Samir explica que o pequeno número de artesãos de vidro no Brasil cria oportunidades para que seus produtos saiam do Estado. Além de vender para as principais tabacarias em Goiânia, ele exporta peças para Brasília, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. “É um mercado bem novo, então isso abre muita porta para gente lidar com clientes no Brasil inteiro e fazer envio não só na região do Estado de Goiás”.

Trabalho valorizado no exterior

Esse tipo de trabalho no exterior é bem mais valorizado e uma peça fabricada por um artista pode ser exposta em museus e  avaliada em milhares de dólares. “Nos Estados Unidos, onde esse trabalho é mais desenvolvido, temos museus de vidro, peças gigantescas e artistas renomados. Esses dias eu vi uma peça que foi avaliada em um milhão de dólares”. Ele cita que uma de suas referências mais importantes no trabalho artesanal em vidro é o artista californiano que assina como Elbo Glass.

Um dos maiores museus de vidro do mundo é o Corning Museum of Glass. Ele está localizado na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos e foi fundado em 1951. O museu recebe cerca de 500 mil visitantes por ano e possui acervo de aproximadamente 50 mil peças de vidro representando cerca de 3500 anos de história do material. São exibidas desde esculturas do Egito antigo até objetos de arte contemporânea. O local também abriga uma das melhores escolas de trabalho em vidro do mundo.

  

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