Poeira a perder de vista

Moradores sofrem com falta de asfalto que atinge 30% dos bairros em Aparecida de Goiânia

Postado em: 20-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Moradores sofrem com falta de asfalto que atinge 30% dos bairros em Aparecida de Goiânia

Igor Caldas

Especial para O Hoje

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Não está fácil respirar em Aparecida de Goiânia. Além da fumaça causada pelas queimadas recorrentes feitas pelos próprios moradores da cidade, nos bairros onde não possuem asfalto, os cidadãos aparecidenses agonizam com agravo de problemas respiratórios causadas pelo aumento da poeira no tempo seco. A reportagem esteve no Bairro Pontal Sul, em Aparecida de Goiânia, que sofre com a ausência de asfalto há mais de 20 anos.

No momento do trabalho da reportagem, René Sérgio Pereira, de 39 anos, estava subindo a única avenida asfaltada do setor. Ele carregava seu filho de cinco anos no bagageiro dianteiro da bicicleta. O homem voltava do Cais do Jardim Nova Era a 9 km de distância do bairro. Seu filho está com muita tosse, dificuldade de respirar e febre, tudo causado pela poeira das ruas sem asfalto do Pontal Sul. Apesar das dificuldades, René diz que não tem alternativa, a não ser ‘se acostumar’ com a situação degradante que o poder público impõe.

“Não tem solução. A gente já está acostumado com essa poeira daqui porque ela não sai de dentro da nossa casa. Meu filho está sofrendo com isso, tadinho. Tive que ir pedalando até o Cais do Jardim Nova Era porque aqui não tem médico para atender a gente”, lamenta René. O relógio já passava das 16h e o homem afirmou que os dois ainda estavam sem almoço. “Tivemos que ir muito longe para ir no médico. Esse bairro está completamente abandonado”.

René diz que a única coisa que pode fazer para melhorar a questão da poeira no bairro é jogar água para que a terra vermelha ‘sossegue’. No entanto, nessa época do ano o tempo é tão seco que a água evapora rapidamente e o poeirão volta a subir. “A gente tenta contornar a situação esparramando um pouco de água no quintal, porque não tem outra solução. Se for esperar o prefeito fazer alguma coisa, a gente vai morrer e não vai ver asfalto por aqui”.

Tempestade de poeira

Toda vez que vai visitar a filha e os netos no tempo da seca, Jeremias Cavalcanti, de 50 anos, tem que enfrentar uma verdadeira tempestade de poeira. Qualquer movimento de tráfego de veículos pelas ruas do Setor Pontal Sul, levanta um véu de pó avermelhado. Jeremias mora em um bairro vizinho que foi asfaltado há três anos. Ele não entende porque o Pontal Sul não foi asfaltado na mesma época. “Acho que faltou dinheiro para asfaltar aqui também. Eles devem ter enfiado o dinheiro no bolso”, denuncia.

Ele também relata problemas no atendimento de saúde do bairro porque assim como a maior parte das crianças do setor, seus netos também sofrem com problemas respiratórios causados pelo pó. “Todos os meus netos estão tossindo muito, com febre e dificuldades para respirar. Aqui perto tem um hospital, na Avenida V-8, mas não está concluído. Faltam médicos, equipamentos para pediatria. É a mesma coisa de não ter”, lamenta Jeremias.

Apesar das dificuldades de atendimento médico, Jeremias diz que a principal melhoria do bairro seria o asfalto. “Médico aqui sempre foi difícil, mas problema de saúde a gente se vira e vai para onde tem atendimento médico. Agora, com a falta de asfalto a gente vai correr para onde?”, indagou o homem que prosseguiu sua caminhada em meio à neblina de poeira.

A Prefeitura de Aparecida de Goiânia afirma, por meio da Secretaria de Infraestrutura, que os trabalhos de pavimentação das ruas do Setor Pontal Sul devem começar ainda neste mês. A Secretaria explica que o bairro receberá, junto com o asfalto, mais de quatro mil metros quadrados de galerias pluviais, 31 mil metros quadrados de calçada e 21 mil metros quadrados de meio fio.

Só nas avenidas principais 

Moradora do bairro há três anos, Déborah Loren, de 26 anos, afirma que o bairro está sendo asfaltado de forma parcial. “Estão asfaltando tudo pela metade. As ruas principais têm asfalto, mas por dentro do bairro continua só a poeira. Todo ano que tem eleição eles prometem que vão asfaltar, mas nunca vi a gente sair dessa situação”. Ela ainda afirma que seus filhos também estão com problemas respiratórios e alega dificuldades de atendimento médico na região.

A Prefeitura de Aparecida ressalta ainda que apenas 30% dos bairros do município não contam com o benefício e que vem trabalhando para levar a pavimentação a todas as ruas habitadas e que possuem rede de água tratada da cidade. Para atingir esse objetivo foram retomadas as obras de pavimentação dos setores Retiro do Bosque, Jardim Miramar, Setor Bandeirantes e Setor Rio Vermelho. Neste ano foram iniciados ainda os trabalhos de implantação do asfalto em mais uma etapa do Setor Buriti Sereno e do setor Solar Central Park.

O município também foi questionado sobre a falta de atendimento médico nas proximidades do bairro, mas não respondeu os questionamentos.

 

Frio traz doenças de inverno 

Com a chegada da temporada mais fria do ano, algumas doenças tornam-se campeãs de reclamações. A estação é marcada não só pelas baixas temperaturas, mas pela baixa umidade do ar. Os dois fatores costumam atacar o sistema respiratório, que fica mais frágil nessa época do ano. Na época do frio, as pessoas se concentram mais em locais fechados, o que facilita a propagação de vírus e bactérias que causam inúmeras doenças como gripe, resfriado, amidalite, asma, otite, bronquite, pneumonia, sinusite e alergias.

Para a farmacêutica e presidente da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias Comunitárias (SBFFC), Sueza Oliveira, prevenir é o melhor remédio. “Entre as dicas estão evitar comer alimentos gelados, que podem tirar o calor do corpo, agasalhar-se bem e beber bastante água. Para os mais idosos, outra recomendação é apostar nos caldos, que ajudam a manter o corpo aquecido”, alerta. De uma maneira geral, alimentação adequada, muita hidratação, prática de atividade física e uma boa noite de sono são recomendadas para fortalecer o corpo e prevenir-se de doenças.

“A alimentação equilibrada e a participação das campanhas de vacinação contra a gripe, que costumam ocorrer durante o período, também são boas formas de se prevenir”, acrescenta Sueza, apontando que muitos estabelecimentos farmacêuticos já oferecem serviços de aplicação de vacinas contra a gripe. Diferente da rede pública, as farmácias podem vacinar todas as pessoas acima de 10 anos de idade. “Para que elas sejam aplicadas, o paciente tem que solicitar o serviço diretamente no balcão e o farmacêutico realizará o procedimento. Caso o cliente não tenha carteirinha, esta será fornecida pelas lojas”, explica.

 

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