Fumaça provocada por queimadas castiga população

Em tempos de seca, a fumaça causada pelos incêndios urbanos prejudica a vida do cidadão

Postado em: 11-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em tempos de seca, a fumaça causada pelos incêndios urbanos prejudica a vida do cidadão

Igor Caldas

Especial para O Hoje

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A fumaça sinaliza a falta de consciência da população que insiste em atear fogo para limpeza de terrenos na Região Metropolitana de Goiânia. De acordo com o Major Eberson Holanda, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, mais de um quarto das ações da corporação têm sido em combates aos incêndios urbanos. Ele reitera que a prática é feita principalmente quando há a diminuição das ocorrências de chuvas, entre abril e outubro. Apesar de ser uma prática equivocada, ainda não está tipificada como crime.

“Hoje, nossa demanda é mais de 25% em trabalhos de combate aos incêndios urbanos. E acontece principalmente nessa época que está mais seco. A vegetação fica bem seca e fácil de ser queimada. Daí o cidadão aproveita para limpar o lote. É uma prática muito prejudicial à saúde e ao meio ambiente”. O bombeiro ainda afirma que o fogo pode colocar em risco estruturas de casas, fios elétricos e se espalhar para áreas de proteção ambiental.

A equipe de reportagem foi até Aparecida de Goiânia e flagrou pelo menos sete focos de incêndio urbano na tarde desta quarta-feira (10). A Rua Araponga do bairro Parque Hayala estava completamente tomada por uma fumaça densa que podia ser vista a vários quilômetros de distância. Vizinha do lote que ardia em chamas, Sandra Ferreira afirma que todo ano é vítima dos problemas causados pela fumaça da queima de terrenos baldios.

“Todo ano é a mesma coisa. Quando não é o lote vizinho a minha casa que pega fogo é o da frente, ou da outra quadra. A gente nunca vê quem coloca fogo, só sente a fumaça”, ela ainda afirma que quando há esse tipo de incêndio, sua casa nunca fica limpa. “Não adianta lavar roupa porque ficam fedendo e a fuligem entra e suja a casa toda. Meus cachorros também ficam muito perturbados quando o fogo começa”.

Décadas de sofrimento

Há pelo menos 20 anos, João da Mota Ferreira lida com a fumaça na época da seca no Parque Hayala. A convivência não é nada amigável. “É só a chuva ir embora que a fumaça começa a aparecer. Eu vivo aqui desde 1984 e sempre foi assim. Antes ainda era pior porque muitas destas casas não existiam. Então os lotes que ficavam vazios eram tomados pelo fogo”, relembra João. Ele ainda afirma que acompanhou o desenvolvimento do bairro com a chegada de asfalto e energia, mas que o problema da fumaça persiste.

O problema fica ainda pior quando acontece em bairros onde existem ruas sem infraestrutura de asfalto. No Setor Buriti Sereno, Neusa Fátima estava assombrada com o incêndio de um terreno vizinho cujas labaredas lambiam o muro da sua casa. “Morro de medo de o fogo entrar para dentro da minha casa. Eu tenho um pé de limão que tem folhas secas e um pé de chuchu que secou também, bem encostado nesse muro”. Enquanto Neusa conversava com a reportagem, seu marido tentava apagar as chamas com um balde d’água.

A moradora ainda afirma que a fuligem misturada com a poeira da rua sem asfalto dificulta a respiração. A situação se complica com as queimadas noturnas, porque além de ser difícil dormir por causa da fumaça há o medo do incêndio. “Quando eles colocam fogo à noite é pior ainda. Ninguém consegue dormir, além de ficar difícil respirar fico com medo do fogo invadir minha casa”, lamenta.

Fiscalização 

O responsável pelos atendimentos do disque denúncia da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Aparecida de Goiânia (SEMMA), Elias Leite, afirma que as queixas sobre incêndios urbanos aumentaram muito no último mês, mas reitera que o papel da Semma é pautado na fiscalização. É mais difícil identificar o causador das queimadas feitas em lotes baldios, mas ele afirma que também recebe denúncias de queima de resíduos dentro de residências.

“Não é só a denúncia de queimadas em lotes baldios que a gente recebe, mas também aquelas que são feitas dentro da própria casa do cidadão. Às vezes, a pessoa junta alguns resíduos no quintal e ateia fogo. Nesse caso, a fumaça continua a prejudicar o próprio incendiário e toda vizinhança, principalmente quando há queima de substâncias tóxicas como o plástico”. Elias ainda diz que quando há esse tipo de denúncia a Semma age para orientar e conscientizar sobre a prática, mas quando há reincidência, pode haver aplicação de multa.

Punição

O major Eberson Holanda alerta que apesar da prática de colocar fogo para limpar vegetação de terrenos baldios não ser crime, o incendiário pode ser penalizado caso haja algum prejuízo na casa vizinha ou na infraestrutura da rua. “Mesmo sendo uma coisa errada e condenável, ainda não é tipificada como crime. Mas estamos trabalhando uma minuta de lei para que isso mude. O Corpo de Bombeiros tem se articulado para que vereadores encabecem projetos de Lei para tornar essa ação criminosa”. Ele afirma que os municípios de Caldas Novas e Santa Helena já estão bem avançados nessa questão.   

Rodovias

O major também alerta sobre os incêndios que acontecem na beira das rodovias. “O cidadão tem que parar de jogar lixo na beira das rodovias. Não é só bituca de cigarro que causa incêndio. Tem acontecido muito fogo na beira das rodovias pelo descaso do cidadão”.

 

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