Maioria dos presos não tem documentos

Pesquisa mostra que 80% da população carcerária não têm documentos pessoais. DGAP informa que toma providências sobre esse problema em Goiás.

Postado em: 26-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pesquisa mostra que 80% da população carcerária não têm documentos pessoais. DGAP informa que toma providências sobre esse problema em Goiás.

Higor Santana

Um estudo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontou que apenas cinco Estados do País têm o controle da documentação pessoal das suas respectivas populações carcerárias. Segundo o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ, ministro Dias Toffoli, 80% dos presos, calculados em 797 mil pessoas, não têm documentos básicos necessários para o exercício da cidadania.

De acordo com a Gerência de Inteligência e Observatório da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), em Goiás não há um registro específico no sistema de banco de dados da instituição, com detalhamentos acerca de presos sem documentação pessoal. O CNJ considera documentos básicos carteira de trabalho, registro de identidade, certidão de nascimento, título de eleitor e CPF.

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Ainda de acordo com DGAP, a falta desses documentos, pode gerar prejuízos aos presidiários. Sem CPF, por exemplo, mesmo que exista escola dentro da unidade penitenciária, o preso não consegue se matricular. A falta de RG impede a obtenção do cartão do Sistema Único de Saúde. E a carteira de trabalho é essencial para que o detento concilie uma atividade externa, enquanto estiver em regime semiaberto, o que dificulta a reinserção social.

O ministro Dias Toffoli, criticou a falta de conhecimento, por parte do Estado brasileiro, da população carcerária do País. “Pouco ou nada sabemos sobre essas pessoas. Quem são, de onde vêm, perfil e respectivas aptidões. Isso traduz o imenso desafio de levantarmos o véu da invisibilidade de quem está sob a custódia e a proteção do Estado. A maior parte delas não possui acesso a nenhum tipo documento pessoal, o que inviabiliza a fruição de direitos e aumenta a marginalização”, disse.

Providências

Pensando em solucionar esse problema, Toffoli assinou no fim do mês passado, um termo de cooperação técnica entre o CNJ e o TSE para a construção de um banco de cadastramento biométrico e emissão de documentos da população carcerária. “A superlotação do sistema carcerário brasileiro acarreta num contexto permanente de violação de direitos humanos. Trata-se de um contingente superlativo de pessoas já castigadas pela pobreza e pelo déficit de cidadania. Muitas vezes o preso passa anos no sistema prisional sem nem sequer uma documentação segura”, complementou Toffoli.

Em Goiás, a DGAP informou que, quando identificadas tais situações, os familiares dos custodiados são orientados a procurar a Gerência de Educação, Módulo de Respeito e Patronato da instituição, para que seja providenciada uma nova Carteira de Identidade ou Certidão de Nascimento. A diretoria informou ainda que o trabalho é realizado em parceria com o Instituto de Identificação do Estado de Goiás.

O ministro Toffoli ressaltou ainda que, ainda hoje, o número de presos que trabalham ou estudam não chega a 30% da população carcerária. Segundo técnicos do CNJ, 15% estudam, e 17 % trabalham. “E eles têm o direito de exercer esse tipo de atividade, até porque isso faz parte da ressocialização e da reinserção do condenado na sociedade brasileira. Por tanto, o acesso à documentação civil é o caminho que antevemos para a sua cidadania”, disse.

A emissão de documentos dos presos começa em janeiro, com ajuda dos cartórios nos Estados. Paralelamente, o CNJ vai iniciar um mutirão de cadastro biométrico da população carcerária. A previsão é de que tudo seja concluído até setembro.

Biometria

Segundo o juiz coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, Luís Geraldo Lanfredi, é nos Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste onde a população carcerária mais sofre com a falta de documentos. Serão duas formas de coleta biométricas. A primeira, nas varas de execução ou nas audiências de custódia. Para as pessoas que já estão recolhidas, haverá coleta nos estabelecimentos. (Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de cidades Rhudy Crysthian)

 

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