Pipas garantem a diversão nas férias

Brincadeira tradicional de décadas ainda diverte pessoas de todas as idades

Postado em: 27-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Brincadeira tradicional de décadas ainda diverte pessoas de todas as idades

Daniell Alves*

As férias estão chegando ao fim. Entre as inúmeras formas de diversão que as crianças encontram neste período está a de soltar pipas, tradição milenar. É comum, principalmente neste mês, enxergamos várias pipas voando pelo céu.  Os nomes que elas ganharam aqui, no Brasil, derivam da semelhança com a arraia ou raia. Também são conhecidas como papagaio, pelas suas variedades de cores.

Luciano Brasil vende pipas há mais de 30 anos. A sua relação com a brincadeira começou quando ele ainda era uma criança. “Aprendi a soltar [pipa] olhando as outras pessoas. Depois que aprendi a fazer, nunca mais parei. A partir daí tive a ideia de começar a vendê-las”, lembra. As pessoas que passam pelos arredores da Rua 115, no Setor Sul, enxergam de longe as raias grandes e variadas, comercializadas por ele.

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O comércio dele funciona desde os anos 90, momento em que local ainda não era bem povoado. Ele conta que as árvores existentes no local foram plantadas por ele ainda naquela época. Hoje, as plantas servem de sustentação para os varais que exibem as pipas voando de um lado para o outro. Mas, para conseguir arrecadar uma grana não é fácil. O comerciante se prepara para as vendas durante todo o ano fabricando, sozinho, as pipas em sua casa.

São em torno de 500 pipas fabricadas para serem vendidas no período de férias. “Eu chego a fazer umas 20 pipas por dia para chegar nesse resultado”, diz ele. Sempre quando está de folga, ele vai soltar pipa com seu neto.

Ele ainda faz um alerta para o uso correto da brincadeira com crianças, que deve ser com o auxílio de um responsável. “É fundamental que sejam em parques e lugares abertos, longes de fios elétricos ou de automóveis”, destaca.

Assim como Luciano, o pequeno Pedro Lucas, de 12 anos, começou a soltar pipa desde muito novo. Nessa época de férias, todos os dias ele vai soltar pipa com seus amigos.  A mãe dele, Orleandra Santos, diz que o pequeno aprendeu a fazer sozinho. Ela o observa durante à tarde para evitar possíveis acidentes.

Um dos cuidados que ela tem é de sempre verificar os tipos de linhas que ele está utilizando. “Eu converso com ele todos os dias para não usar linha com cerol. É muito importante ficar atento nesses momentos porque acidentes podem acontecer com qualquer um”, destaca ela. Uma vez na semana ela leva o filho e os amigos ao parque mais próximo para que eles possam brincar com mais liberdade.

Brincadeira de gerações

O estudante Lucas Vieira, de 24 anos, continua soltando pipa mesmo depois de mais velho. Ele encontra na brincadeira uma forma de se distrair dos problemas. Ele aprendeu a brincadeira com seu pai. “Não tenho muito tempo no meio de semana, mas sempre que posso estou erguendo uma pipa para relembrar os velhos tempos”, conta ele, que pretende ensinar para seu filho também.

Tecnologia x Tradicional

Embora seja uma brincadeira que nunca perde a graça para as crianças, as vendas de pipas diminuíram muito, diz o vendedor Luciano. Ele atribui este fato ao acelerado desenvolvimento da tecnologia, que oferece milhares de opções de jogos online para as crianças. “Antigamente, eu vendia 50 pipas por dia. Mas, de 10 anos para cá, o movimento só vem caindo”, destaca ele.

 Operação Pipa sem Cerol

A Prefeitura de Goiânia, por meio da Guarda Civil Metropolitana (GCM), promove todos os anos, durante o mês de julho, o projeto Pipa sem Cerol. O objetivo é conscientizar as crianças, adolescentes e adultos sobre o perigo de se usar linhas cortantes ao soltar as raias, tais como o cerol, a linha chilena e a linha indonésia. Além disso, é feito trabalho de orientação com a comunidade escolar, para que as crianças levem a aprendizagem para dentro de casa, e também de esclarecimento sobre a prática ser crime previsto em lei.

Até o momento, de acordo com dados do Observatório da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, já foram recolhidos pela equipe 110 mil metros de linhas com cerol. São 129 ocorrências distribuídas nas sete regiões da Capital. No ano passado, cerca de 600 latas com 700 mil metros do material cortante. Já em 2017, foram 184 latas/carretéis, o equivalente a 300 mil metros de linhas.

A representante da Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SME), professora Maria da Luz Ramos, destaca mais um ano de parceria entre a Guarda. “É com alegria que a SME participa mais um ano desta campanha. A linha com cerol mata, nosso trabalho é de sensibilizar as crianças para que não usem o cerol nesse período de férias, para irem a um local adequado e fazer o uso consciente das linhas”, falou no início deste mês.

Aparecida de Goiânia

Em Aparecida de Goiânia, segundo as últimas informações divulgadas pela Guarda Civil da cidade, foram apreendidas cerca de duas mil pipas, carretéis de cerol e linha chilena. A ação faz parte do projeto “A vida por um fio”, que combate a linha com cerol e chilena.

O Comandante Geral da GCM, Weber Júnior, enfatiza que este trabalho vem de acordo com a lei do município 3.993/2017, que proíbe empinar pipa usando qualquer material cortante. Ele destaca que a campanha ainda ocorrerá até o final deste mês. “Lembro ainda que, até o momento, não tivemos ocorrência de grave acidente por este motivo, e que, quem for pego comercializando este tipo de material pode pagar uma multa de até R$ 3 mil”, informa.

Importância da conscientização

As linhas de cerol são fios de algodão impregnados com cola e vidro moído, com grande poder de corte. Já a linha chilena é ainda pior, pois sua mistura é de cola com limalha de ferro. Uma verdadeira navalha. O objetivo dessa mistura é possibilitar os duelos de pipas onde cada um tenta cortar a linha que sustenta a pipa do adversário. Quando a linha é cortada, ela cai sem controle, ficando muitas vezes atravessada em ruas e estradas onde os motoristas passam.

O motociclista Waldemir Santos reconhece a importância de conscientizar as pessoas sobre o uso da pipa sem cerol.  “O papel mais importante é o dos pais, de estarem sempre atentos no que seu filho está fazendo na rua e dentro de casa. As pessoas que andam de moto estão muito mais sujeitas a estes tipos de acidentes, por isso, a operação contribui de diversas formas”, afirma ele.

Encontro de Pipeiros

Acontece neste domingo (28), em Aparecida de Goiânia, o 2º Encontro de Pipeiros. A programação é uma realização da Associação dos Pipeiros de Aparecida e conta com apoio da Prefeitura por meio da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. Os interessados devem comparecer a partir das 14 horas, no Pipódromo da cidade, que está situado na Avenida Três Américas, no Polo Empresarial Goiás. 

(*Daniell Alves é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)  

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