Dados do Caged apontam que Goiás é o segundo pior em geração de empregos

A indústria de transformação gerou 11.559 novos postos de trabalho.

Postado em: 29-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A indústria de transformação gerou 11.559 novos postos de trabalho.

Igor Caldas

O último desempenho que o Estado de Goiás teve em relação à geração de empregos foi baixo. O número de vagas de trabalho com carteira assinada geradas no mês de junho é o segundo pior em 15 anos. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na última quinta-feira (25), o saldo de 2.077 postos de trabalho formais (entre admissões e demissões) só superou o de 2015 no mesmo período (1.863).

A indústria de transformação, sozinha, teve 75% do saldo do mês e gerou 11.559 novos postos de trabalho. Os setores de serviços (436 vagas), comércio (436) e construção civil (336) também tiveram saldos positivo. O setor de agropecuária fechou com 836 vagas de emprego. Segundo os dados do Caged, 47.644 pessoas tiveram a carteira de trabalho assinada no Estado no mês de junho. Em contrapartida, 45.567 mil foram demitidas, fechando o mês com a diferença de 2.077 contratações.

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No acúmulo de contratações e demissões de todo ano, o saldo de empregos em Goiás foi de 27.760 postos de trabalho formal. O setor que mais teve contratações no primeiro semestre foi o de serviços, com 9.933 postos de trabalho. No entanto, o comércio demitiu 969 pessoas a mais que contratou neste período.

Maria Clara Rodrigues tem 30 anos e procura um emprego de carteira assinada há pelo menos cinco anos. A trabalhadora complementa a renda de sua família com a venda de bombons no Setor Universitário. “Eu já trabalho com isso desde 2009, então já tenho alguns clientes que sei que a venda é certa. Hoje eu estou em busca de um emprego na área de salão de beleza porque acabei de fazer um curso de cabeleireiro profissional”.

Ela concorda que a situação do mercado de trabalho não está fácil. Muitos de seus amigos estão desempregados e também estão tentando se virar em atividades informais. No entanto, ela vê de forma positiva o empenho de vários trabalhadores em fazer cursos de especialização. “Como está mais difícil de encontrar emprego, as pessoas estão procurando se especializar. A exigência do mercado por qualificações cresceu e os clientes procuram por serviços cada vez melhores”.

Mesmo há cinco anos sem trabalhar de carteira assinada, Maria Clara está otimista em relação a melhorias na geração de empregos. “Acho que vai melhorar sim. As pessoas estão interessadas, estão buscando profissionalização estou vendo interesse da população. O primeiro passo é a atitude das pessoas para a melhorar o futuro”.

Mais desemprego no interior

De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE) feito a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua a taxa de desocupação no Estado é maior nos municípios do interior. Ainda de acordo com a pesquisa, em Goiás, 37,3% da população ocupada está na informalidade e 63,6% dos trabalhadores informais estão no interior. O trabalhador que mora no interior recebe 30,8% a menos que um trabalhador da Capital.

Empresas precisam ter incentivos para virem para Goiás 

O economista Marcus Antônio Teodoro afirma que Estado de Goiás está estagnado nos últimos cinco anos. “Goiás parou no tempo. O maior motor de atração de investimentos é o incentivo fiscal. Ele é propulsor de emprego e renda. Houve redução do incentivo para as empresas, guerra fiscal entre os estados e isso fez com que muitas indústrias preferissem ir para outros lugares onde há mais vantagem competitiva”.

Ele ainda afirma que a logística do Estado também está ultrapassada. “As estradas estão muito esburacadas e mal cuidadas. Se a empresa ganha no incentivo, ela perde no custo de transporte e do frete. O grande empresário avalia tudo isso antes de escolher para onde sua empresa vai”, afirma.

Na opinião de Marcus, se o empresário não está vindo para o Estado, os índices de emprego não melhoram. Ele ainda afirma que os principais geradores de emprego e renda são as micro, pequenas e médias empresas. “Para a economia melhorar, essas empresas também têm que entrar em atividade. Nós temos um problema sério em todo país que é o aumento da economia informal. Esse tipo de economia não gera emprego e não é registrada nos índices”.

O economista cita exemplos de grandes empresas que cooptam profissionais autônomos, antes contratados por CLT. “No setor de serviços, por exemplo, o motoboy que antes poderia ter carteira assinada, está rodando de forma autônoma por empresas de entrega de comida por aplicativo de celular. Muitos deles nem registram CNPJ como Micro Empreendedor Individual (MEI). No setor de serviços o que mais tem é a informalidade”.

Automação 

Com o avanço tecnológico, muitas indústrias estão robotizando parte da produção para contratar menos pessoas. O economista cita como exemplo o serviço dos atendentes de Call Center. “Hoje, grande parte dos Call Centers são robôs. Também existem funcionários que fazem o serviço, mas são os robôs que fazem o primeiro contato com o cliente, a primeira triagem. Quem nunca recebeu a ligação de uma gravação? Esse processo também contribui para a diminuição do emprego”.

O economista também fala sobre o efeito do desemprego no enxugamento dos salários. “Já peguei muito motorista de aplicativo com diploma de engenharia, contabilidade, arquitetura. As contas não param de chegar e não tem emprego. Quando tem o emprego, o salário é baixo. Com a taxa de desemprego alta, as empresas vão reduzir os salários”.

Ele também explica que a crise econômica é péssima, mas há quem ganhe com ela. “O grande empresário pode se beneficiar com a crise porque cai o preço de ações na bolsa, de imóveis e quem tem dinheiro investe nisso. Além disso, os donos de empresas podem demitir funcionários para fazerem novas contratações com salários mais baixos. É o empresário de baixa renda e o trabalhador quem mais sofrem de imediato”.

Contratação irregular

Sob anonimato, uma fonte revelou que a filial de Goiânia do escritório de advocacia Nelson Wilians Advogados Associados, um dos maiores do Brasil, está contratando advogados com um salário nada compatível com a profissão. A contratação é firmada como associado, mas o trabalhador não tem nenhuma participação dos lucros da empresa e não recebe nenhuma parte de honorários. O salário oferecido é de R$ 1.5 mil e uma das exigências da vaga é possuir carro próprio.

“O advogado trabalha o ano inteiro, não tem direito a 13º salário, nem férias e não participa dos lucros que deveria ser obrigatório por ser associado. O escritório que advoga grandes empresas como Petrobrás e Caixa Econômica Federal, já demitiu cerca de 20 pessoas para poder fazer novas contratações com salários mais baixos”, afirma a fonte.

A empresa afirma que todas as relações contratuais com os advogados seguem os termos vigentes da lei e estão de acordo com o estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ela explica ainda que, em tese, a parceria com os associados pode ser feita com base nos termos dos artigos 39 e 40 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia, bem como no Provimento 169/2015 do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que permite que o profissional seja contratado exclusivamente para prestar serviço em determinada ação, ou ações de um cliente específico sendo sua remuneração pré-fixada ou aferida pelo resultado e complexidade do caso, ou carteira, tudo previamente acordado dentro destes parâmetros legais. 

Realidade fiscal 

Para Marcus, a situação está longe de ser otimista. “O caso do Estado de Goiás está bem difícil. O governo está tentando manter um equilíbrio imenso para driblar a crise fiscal, mas está em dificuldades para atrair empresas e gerar empregos. Isso não está acontecendo só com o Estado, mas com o Brasil de forma geral. O  esforço de Goiás para geração de empregos está na penumbra, o governo tem que ser mais ágil. A resposta tem que ser o incentivo fiscal às empresas”.

 

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