Goiânia é a capital de cesarianas

A cada três partos na Capital dois são de cesárea. Ministério da Saúde alerta sobre riscos.

Postado em: 30-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Higor Santana

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Goiânia é a capital brasileira com maior proporção de partos cesáreos no país. Segundo a entidade, para cada bebê nascido num parto normal, nascem dois de cesariana. Em comparação com o total de nascimentos, para cada parto cesáreo feito em Macapá, por exemplo, cidade com menor proporção, há quatro em Goiânia. 

Ainda conforme a OMS, a região Centro-Oeste foi a que concentrou a maior taxa de partos cesáreos por 10 mil habitantes em 2017, com 95. Isso, segundo o Mistério da é quase o dobro da taxa de partos normais registrados naquele ano na região (57). Ainda segundo o MS, desde 2009 o número de cesarianas realizadas no Brasil vem superando o de partos normais. Em 2017, elas representaram 56% do total de partos no país.

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As cesáreas também são maioria entre mulheres casadas. Proporcionalmente, elas fizeram 2,5 vezes mais partos cesáreos do que mulheres solteiras em 2017. Conforme a OMS, no Brasil, quanto mais jovem é a mulher, menor a probabilidade de o parto ser cesáreo. Ainda em 2017, uma mulher na média dos 32 anos fez, proporcionalmente, três vezes mais partos cesáreos que uma na média dos 17 anos. Mulheres com mais de 12 anos de instrução fizeram, proporcionalmente, quase 10 vezes mais cesarianas que mulheres sem nenhuma instrução, no mesmo período. 

Entretanto as cesáreas não ocorrem com frequência igual entre as brasileiras. Proporcionalmente, são 10 vezes mais comuns entre mulheres com mais anos de estudo do que entre aquelas sem instrução. Um estudo mais recente do MS mostrou que em 2017, as cesarianas representaram 56% dos partos realizados no país. A OMS considera aceitável uma taxa de 10 a 15% de cesarianas.

Parto Cesário

Segundo especialistas, a indústria da cesárea começou a se formar há 40 anos. A epidemia de cesarianas começa na década de 70, quando ela começou a ser vendida como solução de cirurgia única para a esterilização definitiva, a laqueadura das trompas.

Conforme informado pelo MS, em uma cesariana feita pelo SUS a mulher tem direito a contar com o anestesista de plantão. No caso do parto normal, o Ministério recomenda que, antes de ofertar uma analgesia de parto, o hospital deve ofertar os métodos não farmacológicos de alívio da dor, que oferecem menos riscos e podem resolver o problema da sensibilidade à dor.

Esses métodos incluem apoio contínuo, liberdade de movimentação e adoção de posições, acesso a água, como chuveiro e banheira, acesso a escada de ling, ao cavalinho e banquinho. Estes, segundo o Ministério, são instrumentos de fisioterapia para adotar outras posições para o parto normal, além do apoio pela doula, a ambiência da maternidade e a privacidade.

O Ministério da Saúde também informou que não recomenda o uso de ocitocina para aceleração do parto e lembrou que o governo vem tentando combater o número crescente de cesáreas, com iniciativas como a criação da Rede Cegonha e das chamadas Casas de Parto, que têm como metas incentivar o parto normal humanizado. Além de programas de incentivo ao parto normal.

Há um ano e três meses a costureira Vilma Maria afirma que não escolheu pelo parto cesáreo, foi um encaminhamento de sua médica. “Ela só me passou o encaminhamento e fui ao SUS para marcar. Mas comecei a passar mal antes da data. Então resolveram fazer o meu parto cesáreo mesmo. Mas se fosse para escolher, eu escolheria o parto normal, até por conta da minha segurança e a do meu filho”. 

Projeto Parto Adequado oferece assistência ao parto 

O projeto Parto Adequado, desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), com o apoio do Ministério da Saúde, tem o objetivo de identificar modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas sem indicação clínica na saúde suplementar. 

Ainda conforme a ANS, essa iniciativa visa ainda a oferecer às mulheres e aos bebês o cuidado certo, na hora certa, ao longo da gestação, durante todo o trabalho de parto e pós-parto, considerando a estrutura e o preparo da equipe multiprofissional, a medicina baseada em evidência e as condições socioculturais e afetivas da gestante e da família.

A gerente médica do Hospital Estadual e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes de Goiânia (HEMNSL), Maria Izabela de Freitas Rios, explicou sobre o Parto Adequado e os benefícios do parto normal. “O parto normal pode diminuir os riscos tanto para a saúde da mãe quanto do bebê em gestações de baixo risco, além de ser recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Não se pode negar que a cesariana é uma medida valiosa para salvar vidas, mas só deve ser usada num quadro crítico e não como opção”, explica. (Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de cidades Rhudy Crysthian)

 

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