Resistência, política e elegância: O empoderamento através do turbante

As maneiras de usar os acessórios variam de país para país, que possuem tradições e culturas distintas

Postado em: 02-08-2019 às 21h00
Por: Sheyla Sousa
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As maneiras de usar os acessórios variam de país para país, que possuem tradições e culturas distintas

Daniell Alves

Os turbantes vêm ganhando espaço no guarda-roupa das brasileiras nos últimos anos. De origem desconhecida, eles são caracterizados por panos volumosos com cores mescladas. Em Goiânia, a estilista Nyna Koxta comercializa lenços africanos e ministra cursos para ensinar outras pessoas a fazerem as diferentes amarrações, que resultam em grandes e belos turbantes.

Nyna Koxta nasceu, praticamente, com um lenço na cabeça. Natural de Guiné-Bissau, na África Ocidental, ela conta que na cidade as mulheres usam os turbantes desde pequenas, devido à cultura.

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Diferente do Brasil, na África, os acessórios são utilizados de maneira cotidiana – para ir ao supermercado ou quando os cabelos estão desarrumados. “Aqui, no Brasil, os turbantes são um símbolo de empoderamento, autoestima e, também, por causa de religiões”, destaca a estilista. Segundo ela, as maneiras de usar os lenços variam de país para país, que possuem tradições e culturas distintas.

Os tecidos, que podem ser de todos os tipos, devem estar alinhados para não soltar das madeixas com facilidade, explica Nyna. Também é ideal que as pontas estejam escondidas. Enquanto contava um pouco de sua história na Capital, a estilista mostrou as diferentes formas de amarrar um lenço para, depois, transformá-lo no acessório. “Fico com o lenço o dia inteiro e ele não sai. Qualquer tipo de amarração que eu fizer com esses panos, vai ficar bonito”, destaca.

Além de avantajados, os turbantes podem ter formas diferentes, como por exemplo, laços ou rosas. De acordo com Nyna, com a criatividade, as pessoas devem usá-los da forma que quiserem. Ela conta que gosta de mesclar diversas cores para ter um contraste. “Dependendo do tecido e do tipo de amarração, sempre são um aliado para qualquer vestimenta”, frisa ela.

Em alguns lugares da África, os turbantes são parte da cultura do povo, onde as roupas e tradições trazem tecidos enrolados no corpo e os acessórios fazem parte desse conjunto. Eles são usados por homens e mulheres e cada amarração possui um significado diferente.

Já no Brasil, o uso dos tecidos foi introduzido pelos negros. Atualmente é muito comum ele ser utilizado na Bahia, cidade que tem uma forte influência da tradição cultura negra, devido à quantidade de escravos africanos trazidos para o país.

Empreendedorismo

A estilista, que também é empreendedora, possui um ateliê há mais de quatro anos em Goiânia. Além de tecidos africanos, ela comercializa outras peças oriundas de seu país, como por exemplo, toucas e roupas. Todos esses itens são caracterizados pela beleza e cores misturadas.

Além de comercializar produtos, Nyna realiza oficinas para mostrar um pouco de suas roupas e ensinar as diferentes formas que os turbantes podem ser usados. Os cursos ministrados por ela são gratuitos e têm como objetivo ajudar instituições, por meio de arrecadação de alimentos. “Quando eu uso, sinto que estou empoderando outras meninas. Muitas dizem que não têm estilo para usar, mas cada um pode criar seu próprio estilo”, conta.

Todos podem usar turbantes, até os homens 

Conforme ressalta a estilista Nyna Koxta, grande parte das pessoas também utiliza os turbantes com o auxílio de maquiagens para sair ou ir a algum lugar importante. “Aqui em Goiânia as mulheres ainda não utilizam com muita frequência por causa da cultura”, afirma. Um dos pontos frisados pela estilista é de que todos podem usar os lenços, independente de cor, raça ou religião. “Eu, pessoalmente, não concordo com esse termo de apropriação cultural. Todos nós usamos coisas que são fabricadas por pessoas de outros lugares, como eu estou vestindo essa blusa agora”, frisa.

Uma das metas dela é destacar o poder da beleza individual de cada mulher, independente dos padrões impostos pela indústria da moda. “Eu pretendo passar minha cultura para cada uma das pessoas que participam destas oficinas. A intenção é de que as pessoas, além de ver, possam aprender como fazer cada uma dessas amarrações”.

Realçam a beleza do rosto

Amandine Vovó, de 23 anos, de Togo (África), conta que um dos principais objetivos de usar o turbante é para realçar a beleza do rosto. “A minha avó e minha mãe usavam como uma touca comum. Nós não éramos obrigados a usar quando pequenos. Outro sentido para usar é quando você não quer arrumar o cabelo”, destaca ela.

Tendência para as cacheadas

A design de moda, Zenóbia Vitória, diz que os turbantes, geralmente, têm como critério agregar em roupas básicas e depende da criatividade de cada pessoa. “Creio que peças com aspectos lisos e simples vêm com um turbante para valorizar, mas da mesma forma, quando a pessoa está com uma peça já estampada, convém utilizá-lo para compor o look”, frisa ela.

No entanto, afirma que o acessório não está sendo tão visionado como antes. “Existe uma tiara chamada “alice band” que lembra o turbante. Está sendo muito usada pelas mulheres. Acredito que este acessório no guarda-roupa só vem para agregar”, afirma ela.

Já o lenço, segundo ela, é um acessório que está muito em alta porque fica legal em qualquer lugar, no cabelo, na calça ou até na bolsa. “As brasileiras usam a tiara como fins de acessório para engrandecer o que ela está usando. Agora, o turbante é uma tendência muito grande para mulheres de cabelos cacheados. Fica um visual bastante bonito e, dependendo da forma que usar, fica elegante também”, comenta.

Acessórios para os homens

Nyna diz que os homens também podem usar os turbantes sem nenhum problema. “Recentemente eu fiz um ensaio com alguns garotos e todos eles ficaram lindos de turbantes”. Com relação a isso, Zenóbia destaca que os turbantes para os homens ainda não é predominante, mas acredita que possa ser nos próximos anos. “A gente percebe que esses tabus estão sendo quebrados. Acredito que, com a evolução da moda, os turbantes possam fazer parte do guarda-roupa masculino também”, finaliza. (Daniell Alves é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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