Calçadas tomadas por obstáculos

Quem anda por Goiânia encontra de calçadas bloqueadas a rampas de acessibilidade reduzidas.

Postado em: 08-08-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Calçadas tomadas por obstáculos
Quem anda por Goiânia encontra de calçadas bloqueadas a rampas de acessibilidade reduzidas.

Higor Santana

Nesta semana, O Hoje inicia uma série de reportagens sobre o trânsito na Capital. Serão cinco matérias, sempre às quintas-feiras. A primeira publicação aborda os problemas enfrentados pelo pedestre e os desafios de circular entre carros, motos e ônibus nas ruas de Goiânia. 

É comum encontrar pela cidade calçadas ocupadas por carros ou até mesmo porta de estabelecimentos comerciais que atrapalham e prejudicam a locomoção dos pedestres. De acordo com dados do Ministério Público Federal (MPF), um dos grandes problemas enfrentados pela maioria das cidades brasileiras são as calçadas mal cuidadas, quebradas ou irregulares.

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Andando pela cidade, a equipe de reportagem do jornal O Hoje flagrou diversos pontos em que o pedestre teve que se arriscar para simplesmente conseguir caminhar pela calçada. Nesse cenário pouco favorável ao pedestre, algo muito comum é ver carros e motos estacionados sobre as calçadas. Em todas as avaliações foi possível ver a irresponsabilidade de motoristas que não se intimidam e param sobre o passeio. 

Em um dos flagrantes, um carro com um reboque ocupava grande parte de uma calçada na Avenida Independência. O aposentado Divino Alves, encontrou dificuldades para atravessar. “É um risco que a gente corre. A calçada é grande, mas tava bloqueada. Então tive que passar pelo canto da rua. Se um carro passar alí e me atropelar? Ainda fico como culpado por andar na rua. Sem falar da péssima situação da calçada”, explica.

Outro flagrante foi no setor Campinas. Como no bairro as calçadas são mais estreitas, o risco para os pedestres é ainda maior. No local, diversos móveis e objetos bloqueavam quase que por completo a calçada, obrigando os pedestres a desviar. “Para andar aqui tem que ser fazendo zig zag. É calçada bloqueada, rua sem sinalização e em alguns lugares a faixa de pedestre nem existe mais. Semana passada uma senhora foi atropelada aqui próximo porque o motorista não viu que o local onde ela estava atravessando tinha uma faixa de pedestre”, explica o vendedor e motoboy, Alexandre Alves.

Em vários pontos de Goiânia, a prefeitura investiu em sinalização e melhorias para os pedestres, mas embora a cidade tenha calçadas acessíveis, a necessidade de uma manutenção dessa infraestrutura é primordial. Isso afeta principalmente a parcela da população que têm mobilidade reduzida. 

De acordo com um estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG), o descaso na manutenção das calçadas complica muito o trajeto do pedestre. Pisos deteriorados ou com falhas, faixas de travessias apagadas, falta de piso tátil, rampas estreitas ou semidestruídas, tudo isso traz um ar de abandono aos passeios públicos de Goiânia.

Trânsito 

Outro fator que prejudica a vida dos pedestres na cidade é o trânsito. Segundo uma pesquisa de 2018, da Confederação Nacional dos Municípios, Goiânia tem a sexta maior frota do país (com média de um carro para 2,42 habitantes) e a quarta em número de motos. As motos, segundo o estudo, passam velozes e incomodam muito a vida de quem anda na cidade.

Calçadas mal executadas 

Segundo avaliações da Campanha Calçadas do Brasil 2019, foram avaliados os caminhos do pedestre ao longo da Avenida Anhanguera, onde ficam os principais terminais de integração do transporte público (Dergo, Praça A e Praça da Bíblia). 

No percurso, elementos de acessibilidade como rampas e piso tátil, além de não serem fáceis de encontrar, muitas vezes estão mal executados. De acordo com a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), o Eixo Anhanguera é o local onde se tem a maior quantidade de rampas acessíveis, entretanto, ao migrar para o Centro elas desaparecem. 

Faixa especial 

Deixando um pouco dos desafios de lado, pontos positivos para os pedestres também foram encontrados na Capital. Como é o caos do cruzamento da Avenida Araguaia com a Rua 3, no Centro. Em 2015, o local ganhou duas faixas de pedestre na transversal e em formato de um X. Na ocasião, a sinalização tinha o objetivo de facilitar a vida dos pedestres.

De acordo com o então titular da SMT, José Geraldo Freire, o modelo surgiu em Tóquio, no Japão, foi também instalado em São Paulo e chegou a Goiânia. “Antes tinham que fazer a travessia em duas etapas distintas para atingir a esquina oposta e agora podem atravessar com uma etapa apenas, o que também reduz o tempo da travessia”, explicou. 

Projeto determina construção, adaptação e manutenção 

Em 2016, um projeto de lei complementar determinou a construção, modificação, adaptação e manutenção das calçadas no município de Goiânia. De acordo com a prefeitura, a proposta seguia os princípios de determinação da acessibilidade, segurança, desenho adequado e conforto. 

Para o engenheiro agrônomo e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), Francisco Almeida, a importância era tornar o município acessível. “Quando se fala em acessibilidade, a maioria das pessoas pensa em deficientes físicos. Mas eles são apenas uma parte. Todos precisarão de acessibilidade. As pessoas não conseguem andar nas calçadas com as irregularidades”, disse.

Segundo a então superintendente municipal de direitos da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida, Cidinha Siqueira, as mudanças nas calçadas ficariam a cargo do proprietário da residência ou estabelecimento. “Um dos maiores índices de entrada no Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo), são de pessoas que se acidentaram em calçadas. Assim, cada morador é responsável por construir uma calçada com padrão para transitar com segurança”, disse na época. (Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

 

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