Cai número de devedores em Goiás

Número de negativados teve alta no último mês, mas apresentou queda em relação ao ano passado

Postado em: 12-08-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Número de negativados teve alta no último mês, mas apresentou queda em relação ao ano passado

Igor Caldas

De acordo com a últimos dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia, houve aumento no número de negativações no SPC na Capital, entre os meses de junho e julho deste ano. O último mês fechou com 41.027 negativações. No entanto, em comparação com o mesmo período do ano passado, houve uma redução de 15,75% nesses números. Especialistas acreditam que a queda desses números está relacionada com a redução de compras feitas a prazo e do resultado de campanhas de quitação de débitos.   

Em âmbito nacional, os números são preocupantes. A última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, indica que o percentual de famílias endividadas no Brasil cresceu 64% em junho para 64,1% em julho deste ano. No entanto, o número de negativações não corresponde ao número de pessoas endividadas, como explica a Gerente de Negócios do CDL Goiânia, Dina Marta Correa.

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“O número de negativações no SPC não corresponde ao número de endividados. Um CPF pode ter mais de uma negativação. Isso vai depender de como a empresa computa essa dívida. Se uma pessoa estiver devendo três parcelas de um pagamento, por exemplo, ela pode ser negativada três vezes”, explica a Gerente.

O mecânico industrial Marcos Ferreira, está com o nome negativado no SPC/Serasa. Ele comprou um veículo à prazo no ano passado, mas um primo dele sofreu um acidente de caminhão e Marcos teve que ajudar a família na compra de remédios. Por isso, o mecânico fez uma negociação com a moto comprada a prazo e vendeu para outra pessoa, mas o comprador não honrou o pagamento das parcelas e deixou Marcos com o “nome sujo”. Agora, o mecânico tenta quitar a dívida.

“Na época, eu estava em outro emprego, recebendo menos e estava mais apertado. Eu paguei um curso de mecânica industrial por dois anos e meio e conquistei uma vaga no mercado com um salário melhor. Agora que estou em uma condição melhor, quero limpar meu nome na praça”, o mecânico ainda diz que seu maior incômodo de estar com o CPF negativado é a impossibilidade de conseguir crédito em instituições bancárias.

Para o economista Marcus Antônio Teodoro, a disposição para quitação de dívida, geralmente vem das classes mais baixas. “Se olhar pelo aspecto do crédito. Quem está devendo e está preocupado em resolver são as pessoas de nível social mais baixo. A pessoa que tem uma situação melhor pode usar outras estratégias para negociar a dívida ou até mesmo dar o calote. Eles têm outras fontes de renda e não dependem muito de linhas de crédito. Agora quem é de baixa renda e está com o nome sujo, fica todo travado”.

Consumidores preferem realizar  pagamento à vista 

O economista também diz que a redução dos números no SPC em relação ao mesmo período do último ano refletem a mudança de comportamento do consumidor frente ao momento de crise enfrentado pelo país. É o receio do pagamento à prazo. “O índice de desemprego está alto e as pessoas vêm buscando fontes de renda na informalidade de acordo com suas realidades e expectativas. Isso reflete em como ele vai consumir. Ninguém quer firmar um contrato a longo prazo sem garantias de que vai conseguir pagar”.

Segundo a gerente de negócios do CDL, Dina Marta, outro recurso que acabou diminuindo as compras a prazo foi a estratégia dos comerciantes darem maiores descontos nos pagamentos à vista. “Os lojistas têm conseguido mais descontos nas vendas com pagamento à vista. Essa é uma das formas de burlar a inadimplência. Quando eles utilizam qualquer ferramenta de crédito parcelado, a inadimplência está passível de acontecer. A crise mexeu com o orçamento do consumidor que se tornou mais cauteloso ao efetuar uma compra, priorizando pagar à vista”.

Ela revela que as vendas em períodos sazonais de maior volume de compras também caíram. Isso contribui para a diminuição do número de negativações no SPC. “Se as pessoas compram menos, elas também vão dever menos”. Ela ainda afirma que o aumento de vendas nas datas comemorativas em períodos sem crise econômica fica entre 7% a 12%. Em 2019 o aumento de vendas em datas comemorativas ficou abaixo de 7%.

Medidas do governo podem melhorar quadro 

Dina Marta ainda afirma que a inadimplência segue alta porque é reflexo do alto índice de desemprego no país. “Muitas pessoas que perderam o emprego contraíram dívidas e ainda não recuperaram as vagas. Essas pessoas acabam entrando na informalidade e priorizam os gastos essenciais como aluguel, contas de luz, gás à quitação de dívidas”. No entanto, sugere que com a entrada de dinheiro no mercado, muitos irão em busca de limpar o nome.

O economista Marcus Teodoro concorda com a ligação estreita entre o desemprego e o alto índice de inadimplência no país. “O governo tem ensaiado algumas medidas que podem contribuir com melhorias na economia. A aprovação da Reforma da Previdência não injeta dinheiro no mercado diretamente, mas se for aprovada, vai sinalizar uma melhora na economia. Isso pode atrair o empresário e gerar empregos. O resgate do FGTS teve o valor reduzido, mas injeta dinheiro diretamente no mercado e pode melhorar o quadro de consumo e o pagamento de dívidas”, pontua.

A gerente de negócios destaca que o governo tem a responsabilidade de adotar medidas para melhorar o quadro econômico. “Ele tem que desempenhar um papel mais coerente com o mercado, tomar medidas que visam reduzir a burocracia para contribuir com a melhoria do ambiente de negócios. Se melhora isso, cresce a empregabilidade e outras questões, como as vendas no comércio e o pagamento de dívidas. O fator fundamental para que a gente tenha uma melhoria com relação ao consumo e à inadimplência é o emprego”.

Crédito consciente

De acordo com o economista Marcus Antônio Teodoro, outro motivo para a diminuição das negativações no SPC foram as inúmeras campanhas de conscientização e renegociação de dívidas promovidas por bancos, redes de eletrodomésticos e pela própria CDL. “O consumidor usa as cartas que tem na mão, para pagar suas dívidas. Mas a melhor forma de não ficar endividado é o pagamento à vista. As pessoas acabam vendo que isso é verdade e tomam essa postura para as compras não interferirem tanto no cotidiano”.

Outra forma é adotar a questão do crédito consciente. “Às vezes se o consumidor quiser comprar à prazo, ele dá uma entrada maior para ter uma taxa de juros menor e parcelar menos. Ou tem um dinheiro poupado que garante a quitação da dívida no contrato que vai firmar. Ele tem que ter a consciência de que se perder o emprego, os boletos não vão parar de chegar”, pontua o economista.

Ele acredita que o próprio papel da mídia tem divulgado isso, a maior maneira de pagar é a vista. “Pagando à vista você tem a negociação melhor não carrega divida para sempre. Às vezes da uma entrada maior pegar uma taxa de juros menor. Crédito consciente. Por que credito é credito se a pessoa assumir um contrato de longo prazo que la na frente não dá conta de pagar. Como o emprego está grande as pessoas estão mais conscientes. Se perder o emprego os boletos não param de chegar. Perde o emprego, mas o boleto continua”. 

Dina Marta fala sobre ações promovidas pelo CDL para o consumo consciente. “Temos um site que ajuda o consumidor a trocar uma dívida cara por uma mais barata, dá orientações para gestão do dinheiro. Também tem material de educação financeira para os pequenininhos, com gibis ensinando sobre a gestão da mesada”. O conteúdo pode ser acessado em www.meubolsofeliz.com.br. 

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