É possível viver sem carro?

Para alguns, a bicicleta se tornou uma alternativa barata e saudável no deslocamento em Goiânia. Fotos: Wesley Costa

Postado em: 29-08-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Para alguns, a bicicleta se tornou uma alternativa barata e saudável no deslocamento em Goiânia. Fotos: Wesley Costa

Higor Santana

Uma pesquisa realizada por uma empresa de seguros com moradores de seis capitais brasileiras no ano passado mostrou que 82% dos entrevistados declararam que gostariam de morar em uma cidade em que o uso do carro fosse praticamente desnecessário, podendo deslocar-se de bicicleta ou a pé para o trabalho. Ainda segundo o estudo, muita gente tem começado a se conscientizar dos múltiplos benefícios de trocar o carro por pedaladas e caminhadas.

O advogado, professor e pesquisador em direito ambiental e urbanístico, José Antônio, é uma dessas pessoas. Ele conta que é ciclista há mais de dez anos, e há cinco, passou a usar a bike para deslocamentos mais frequentes. “Utilizo a bike, mas em verdade mesclo os meus deslocamentos com o carro, pois tenho duas crianças para levar e buscar na escola. Mas tenho feito bike, marcha a pé, carro e Citybus, inclusive levando a bike no Citybus. Meu sonho é poder abandonar de vez o carro, mas nem sempre é possível”, explica.

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Assim como José Antônio, para muitos, as questões da segurança e da praticidade podem pesar na escolha na hora de trocar o carro pela bike ou pelas caminhadas. Apesar do investimento da prefeitura municipal e Secretaria de Trânsito no número de ciclovias pela Capital, ainda existem muitos casos de acidentes e riscos, constantemente vividos pelos ciclistas nas ruas e avenidas de Goiânia.

Patinete como deslocamento 

Para o publicitário Lucas Amorin, andar nos patinetes compartilhados pela cidade é divertido. “Acho que andar de patinete faz a gente lembrar da infância. A gente se diverte em algo que ajuda no trânsito ne? Quando não vou almoçar de patinete, vou nas bicicletas. Tenho uma moto, mas há uns seis meses sofri um acidente quando estava indo para o trabalho, daí eu comecei a pensar como faria para conseguir me deslocar com facilidade, daí me deparei com os patinetes”, explica o rapaz.

Enquanto a maioria das pessoas está presa em um congestionamento, ou dentro do transporte público lotado (e atrasado), a bicicleta para o trabalho pode realmente transformar os seus trajetos diários em uma forma moderada de terapia. Algumas pesquisas sobre qualidade de vida têm mostrado que as pedaladas podem reduzir o estresse, aliviar os sintomas de depressão, melhorar os padrões de sono de indivíduos com insônia e reduzir a ansiedade.

Corpo saudável e economia

De acordo com o personal e professor de educação física, Alexandre Moreira, enquanto as calorias exatas queimado em um passeio varia entre cada pessoa, andar de bicicleta queima tantas calorias quanto correr, com consideravelmente menos impactos negativos sobre as articulações. “A gente tem com o ciclismo, uma melhora na aptidão cardiovascular e aeróbica, reduz a pressão arterial, aumenta a energia, desenvolve os músculos, e melhora a coordenação. Para se ter uma ideia, pode até te ajudar a economizar dinheiro com a mensalidade na academia, se você usar a bicicleta como transporte todos os dias, sem contar da ganha de tempo que se pode ganhar com os congestionamentos”, afirma Alexandre.

Para o contador Kennedy Vieira, a economia pode ser uma grande aliada na hora de optar pela bike. “Imagina que você tem um carro comum de passeio e o tanque tenha em média 55 litros. Se você pagar R$ 4 pelo litro de gasolina, encher o tanque vai custar R$ 220. Com um consumo aproximado de 12 quilômetros por litro, você conseguirá rodar talvez 660 km até encher o tanque novamente. Até aqui, tudo bem, nem é tão caro assim. Mas você esquece a manutenção do carro, troca de óleo, rodas, limpeza do ar condicionado, eventuais batidas, seguro, IPVA, DPVAT, renovação da carteira. Consegue perceber que os custos de manutenção de um carro vão aumentando consideravelmente?”, explica.

Kennedy ainda conclui. “Para você ter uma ideia, os custos de um carro popular, de R$ 30 mil podem facilmente chegar a mais de 5% do valor do veículo só nos primeiros anos de uso. Cabe lembrar também que o carro vai depreciar em valor e, efetivamente, você perderá dinheiro a cada ano que passar com seu carro”, disse o contador.

Já com a bike, o proprietário de uma oficina de bicicletas Macklean Rodriguez de Almeida, explica. “É possível comprar uma das melhores bikes, tipo para quem usa no dia a dia, por menos de R$ 3 mil ou R$ 2 mil. E os gastos com ela nem se comparam com os de um carro. Se colocar o equipamento de segurança que você vai gastar, vai ser no máximo R$ 4, se tratando de uma bicicleta que vai durar a vida toda. Agora quanto a manutenção, se você gastar R$ 500 por ano, é muito”, dá a dica.

De acordo com um estudo, fora as economias individuais, a bicicleta reduz a poluição e ajuda a melhorar a saúde dos funcionários, o que pode resultar em produtividade, desenvolvimento para empresas, e mais dinheiro no bolso do trabalhador. Para a pesquisa, menos carros nas ruas, menos poluição, menos problemas de saúde, menos gastos com saúde pra todo mundo.

 

Menos carros nas ruas, menos poluição 

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), carros, motos e caminhões são responsáveis por quase 1/5 das emissões de gases de efeito estufa. Segundo o Ministério, um motorista sozinho em um carro popular pode liberar cerca de 170 g de CO2 por km. 2000 km em um carro podem resultar na liberação de 340 quilos de CO2 na atmosfera.

Esse é um dos motivos que faz com que cada vez mais pessoas optem por trocar os carros pelas bicicletas. Conforme o MS, além de respirar um ar mais limpo, andando de bike você também colabora para manter o meio ambiente saudável, evitando emitir mais gases tóxicos.

Para o professor de educação física Alexandre Moreira, o simples exercício de andar de bike melhora o condicionamento cardiorrespiratório, previne a obesidade e todas as doenças crônicas não transmissíveis associadas a ela, como é o caso do colesterol alto e do diabetes.

É como afirma o advogado, professor e pesquisador em direito ambiental e urbanístico, José Antônio. “Já morei uns anos na França e ali me deslocava essencialmente de bicicleta. Na condição de professor e advogado na área, tenho certa sensibilidade para o tema, pois de bike sou menos um carro, menos poluição, menos problema para o trânsito e para o estacionamento. Outra coisa é o desempenho físico. No começo é difícil, pois você não tem o preparo físico adequado, mas com o tempo você passa a sentir uma melhora no corpo”, explica José.

Perca peso pedalando

Um estudo feito na Inglaterra mostrou que optar pela bike como meio de transporte, facilita o emagrecimento. Os pesquisadores analisaram 11 mil adultos, de sete cidades de diferentes países. Os participantes responderam um questionário sobre o modo de transporte preferido e tempo gasto para se locomover. Além disso, passaram informações como peso e altura.

Os resultados apontaram que a turma de ciclistas tinha, em média, quatro quilos a menos em comparação com as pessoas que priorizavam o uso do carro. Apesar de os achados serem iniciais, o time de cientistas reforçou que dar preferência aos meios de transporte mais ativos, como bicicletas, patinetes e até mesmo caminhadas, pode ter um impacto significativo na saúde das pessoas.

 

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