Fogo castiga Horto em Aparecida

De acordo com a Defesa Civil do Município, a causa do fogo foi criminosa. Foto: Wesley Costa

Postado em: 13-09-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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De acordo com a Defesa Civil do Município, a causa do fogo foi criminosa. Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Um incêndio de grandes proporções causou graves prejuízos ambientais ao Horto Florestal de Aparecida de Goiânia. O primeiro foco das chamas teve início por volta do meio dia desta quarta-feira (11) e se espalhou pela mata ao longo do dia. A Defesa Civil do Município e o Corpo de Bombeiros foram acionados para conter o fogo em três ocorrências. As chamas continuaram a arder até o fim da tarde de ontem (12).

Segundo o agente da Defesa Civil, Juliano Cardoso, o incêndio foi criminoso. “A primeira vez que acionaram a Defesa Civil foi ao meio dia, depois, uma segunda vez por volta das 16h. Tivemos uma terceira vez, por volta das 19h. Os moradores da região vivem falando que amam morar perto da mata. Me desculpe, mas quem é que ama essa mata? Pode ter um ou outro que realmente ama. Mas ninguém que coloca fogo na mata ama a natureza. Quiseram queimar tudo mesmo”.

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Ele alerta que a falta de consciência prejudica os próprios moradores. “Se a população não ver que ela mesma é vítima do que está fazendo, eu lamento. Quem é que ficou com o ar poluído durante horas? Eles. Quem está sofrendo com doenças respiratórias na época de baixa umidade? Eles. Então espero que os cidadãos ajudem a cuidar dessas áreas verdes porque elas não são do prefeito. Elas não são da Defesa Civil. Elas são de todos nós”.

Juliano explica que o dano causado na natureza repercute na saúde da população. “Os problemas ambientais causados pelo fogo acabam repercutindo na saúde da população que fica ao redor das matas. “Os animais que fogem do fogo da mata vão parar na casa das pessoas. Se não quiser cobra dentro de casa, vai ter que parar de queimar a mata onde ela vive. Porque lá é casa dela. Se não quiser barata, rato dentro de casa é só deixar a mata preservada que você não vai ter esses bichos aí na sua casa.

Também faz uma crítica de que nunca se pensa na prevenção desse tipo de problema e ações de combate acontecem somente quando ocorre o pior. Isso compromete a capacidade de combater os incêndios porque não há investimento suficiente em estrutura para lutar contra eles. Ainda de acordo com o agente da Defesa Civil, é muito mais barato investir na prevenção, mas o cidadão tem que estar comprometido com o respeito à natureza. Parar de jogar lixo, entulho em áreas verdes e de colocar fogo para limpeza de terrenos baldios é essencial.

“Ontem, na hora da ação, um cidadão criticou porque só havia um caminhão dos bombeiros para combater o incêndio. Eu perguntei a ele se sabia quantos focos de incêndio existiam naquele momento para os bombeiros combaterem. Não tem como mandar vinte caminhões para combater apenas um foco. Não tem estrutura para isso. Os batalhões não estão abarrotados de gente para o combate das chamas. Os bombeiros também têm outras demandas e estamos fazendo tudo dentro do possível”, lembra Juliano.

O agente da Defesa Civil do município usa como exemplo a falta de estrutura do próprio órgão que trabalha. “Há alguns anos, a Defesa Civil já teve 18 agentes, hoje temos apenas cinco. Levando em conta que Aparecida de Goiânia é uma cidade que não para de crescer, esse número deveria aumentar ao invés de diminuir”.

 Descuido com o Horto Florestal prejudica a natureza

De acordo com um relatório da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Aparecida de Goiânia, o Horto Florestal Maria Aquino trata-se de uma área de preservação com aproximadamente 178 quilômetros quadrados. O local possui vegetação arbustiva densa de grande extensão e potencial para atividades de lazer e educação ambiental voltada para a sociedade. O espaço é dividido com bairros do perímetro urbano da cidade, como o Jardim Alto Paraíso e o bairro Parque Ibirapuera.

Ainda segundo o relatório, por conta do abandono e descuido do horto, ele se tornou propício para o descarte irregular de resíduos sólidos de toda natureza. Também se transformou em lugar para prática de ações criminosas como uso de drogas e esconderijo de marginais e bandidos. O texto aponta para a falta de manutenção e cuidados socioambientais do poder público aliado ao descaso da população.

O coordenador de proteções da Defesa Civil de Aparecida de Goiânia, Roneiron Sousa, levou a equipe de reportagem do jornal O Hoje até os focos dos incêndios no Horto Florestal do município, próximo ao bairro Parque Ibirapuera. De acordo com Sousa, os maiores causadores do problema de incêndios é a limpeza de lotes por meio de chamas feitas por moradores da região, os incêndios causados para extração ilegal de madeira e a tentativa de limpar a área verde com fogo para afugentar bandidos. Além disso, a limpeza de lotes e vegetação do horto pelo fogo é uma prática comum dos moradores.

“Infelizmente a prática de atear fogo em lotes é muito comum em toda região da Grande Goiânia, principalmente na época da seca. Existem muitas espécies de árvores daqui que são usadas para extração de madeira e o uso do óleo presente nos troncos. Pau D´óleo, Cedrinho, Angico e Jatobá, são alguns exemplos”. Roneiron é especialista em incêndios florestais. Ele mostrou como exemplo, um galho enorme de jatobá que caiu da árvore por causa das chamas. A planta ainda estava em brasa e o calor próximo ao tronco era forte.

Ele mostrou vários focos de incêndio existentes no Horto Florestal, mas alertou que não havia mais risco das chamas se espalharem porque tudo que podia pegar fogo em volta dos focos já havia virado cinzas. “O problema é que algumas dessas árvores que estão em brasa, estão vivas e são centenárias. Vamos promover ações para tentar salvar essas plantas fazendo o rescaldo”.

De acordo com o agente, rescaldo é a operação de repasse para apagar todos os focos de incêndio remanescentes que possam reacender as chamas. Ele é feito por meio da eliminação de todos os focos ativos e objetos combustíveis dentro da área. Mesmo sem risco do fogo se espalhar pelo horto, a ação é essencial para salvar as árvores que ainda resistem ao incêndio.

  

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