Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Jaboticaba: para comer e para pesquisar

Além de ser um foco de turismo importante para região, fazenda serve como laboratório em estudos de campo para pesquisadores das principais universidades do Estado e do Brasil. Foto: Wesley Costa

Postado em: 25-09-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Jaboticaba: para comer e para pesquisar
Além de ser um foco de turismo importante para região, fazenda serve como laboratório em estudos de campo para pesquisadores das principais universidades do Estado e do Brasil. Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A maior fazenda de jabuticaba do Brasil está a 36 quilômetros
da Capital, no município de Hidrolândia. A Fazenda e Vinícola Jaboticabal
possui mais de 42 mil árvores que produz cerca de 150 toneladas do fruto
anualmente. Ela fica aberta à visitação do público nos meses de setembro e
outubro e recebe cerca de 20 mil turistas de todo país neste período. Além de
ser um foco de turismo importante para região, serve como laboratório a céu
aberto para pesquisadores das principais universidades do Estado.

A professora doutora em agronomia pela Universidade Federal
de Goiás, Leandra Somensato trabalha como professora de agronomia na
Universidade Anhanguera. A pesquisadora realizou vários estudos na fazenda para
compor sua tese de doutorado. “Hoje, ela leva seus alunos com frequência para
coleta de dados para experimentos científicos. “Estarei lá na sexta-feira
com uma das minhas alunas para coletar dados de pesquisas com jabuticabas que
ela está realizando”.

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Ela afirma que não existem muitos estudos da fruta na ciência.
“A jabuticaba tem poucos estudos no Brasil. Não é uma como a laranja e
goiaba que possuem um número expressivo de trabalhos publicados. A jabuticaba é
rica em muitos nutrientes e possui um antioxidante natural, a antocianina que
retarda o envelhecimento”. Ela explica que o fruto oferece mais propriedades benéficas para o consumidor e
pode ser considerada uma super fruta. Porque é rica em muitos nutrientes
. A
antocianina é uma substância que está principalmente na casca.

Leandra fala sobre a importância de pesquisas científicas com
a jabuticaba. “Como a fruta é pouco estudada, os trabalhos acabam sendo
inéditos e muito importantes para a ciência. A Fazenda Jabuticabal é um
excelente laboratório de campo porque tem todas as etapas que a fruta passa até
o consumo. Eles têm mudas, tem plantas jovens e mais velhas e o proprietário
tem um cuidado muito especial lá. Ele não usa produtos químicos no cultivo”.

A prova empírica do efeito rejuvenescedor da substância
púrpura presente na casca da jabuticaba é o fundador da fazenda, Antônio Batista da Silva, de 93 anos.
Seu filho e proprietário do local, Paulo Silva, se impressiona com o vigor do
pai.  “Ele está com mais de noventa anos
e muito forte, graças à Deus. Certamente é de tanto comer jabuticaba. Eu to
tentando fazer o mesmo. Como bastante para ver se quando eu estiver na idade
dele, fico do mesmo jeito”, afirma Paulo, em tom bem humorado.

Desenvolvimento de planta foi estudado

A professora explica que para desenvolver uma tese de
doutorado, é necessário várias publicações científicas no assunto. “Na
verdade a gente fez várias pesquisas de campo na Fazenda Jabuticabal para
compor o doutorado. Uma delas foi o estudo das etapas de desenvolvimento da
planta. Foi um trabalho de caracterização que obtivemos resultados excelentes”.
Fenologia é o estudo que verifica, por exemplo, quanto tempo a árvore demora
desde a época da primeira flor até o primeiro fruto.

Ela ainda afirma que apesar de Paulo não ser cientista, o
assunto é amplamente dominado por ele. “Na prática, o Paulo tem informações
riquíssimas sobre a jabuticaba. Muito mais do que a gente que estuda. Mas, para
esse conhecimento se tornar científico é preciso ter estudos publicados com
base empírica. Essa sinologia, ele sabe exatamente a quantidade de dias das
etapas da planta que são as mesmas que estão no estudo. Mas precisamos realizar
as pesquisas para confirmação”.

“Foi um estudo que a gente aplicava certas
substâncias na árvore para fixar o fruto na planta por mais tempo. A jabuticaba
é extremamente perecível. Após a colheita, ela já vai alterando. Esses
produtos, que já são usados para culturas da tangerina, laranja e uva,
prolongam um pouco mais a vida das frutas na árvore. Isso, a gente está
estudando. Ainda não temos resultados conclusivos sobre o estudo”.

Outra pesquisa conduzida pela doutora foi com o objetivo de
permitir a produção da fruta o ano todo e não somente na safra. O bombeiro Lucas Gouveia Brandão sempre
vai à Fazenda Jabuticabal nos meses em que é aberta ao público. Ele afirma que
se houvesse fruta no pé o ano inteiro, não sairia mais da fazenda. “Se essa
pesquisa der certo vai ser difícil sair daqui. O que mais gosto no local é o
contato que temos com a natureza. É um ambiente familiar onde podemos comer a
fruta do pé”, afirma o turista empolgado.

A doutora em agronomia ainda afirma que a principal
dificuldade para realização das pesquisas é justamente o sabor irresistível do
fruto. “É muito frustrante quando estamos acompanhando o crescimento dos frutos
em uma pesquisa e eles acabam sendo comidos por animais ou pelos próprios
turistas antes da conclusão. Todo o trabalho vai por água abaixo. Identificamos
as árvores que estão sob trabalho de pesquisa com placas, mas às vezes eles não
respeitam”.

O proprietário da fazenda relata que atende pesquisadores,
estudantes e cientistas de todas as universidades do estado e algumas de fora.
“Aqui a gente está sempre de portas abertas para receber esses profissionais.
Ajudamos eles e com certeza a ajuda vai voltar em dobro por causa dos
resultados das pesquisas”. Na tarde desta quinta-feira (25), a Fazenda
Jabuticabal recebeu pesquisadores do Instituto Federal Goiano (IFG).

Ele cita o exemplo da pesquisa de Leandra que pode fazer com
que a jabuticaba fique mais tempo no pé e amplie o tempo que o turista pode
ficar desfrutando das frutinhas nas suas propriedades. “Recebemos pesquisadores
de inúmeras universidades o ano todo. Algumas pesquisas podem impactar
diretamente o trabalho de turismo oferecido pela nossa fazenda”, explica.

Leandra afirma que sempre é muito bem recebida
na fazenda. “Ele brinca comigo que sou sócia dele. Fui professora de um dos
filhos dele e sou professora da filha dele que está fazendo o TCC dela comigo.
O trabalho também é sobre jabuticaba. Esta semana, uma orientanda minha vai à
fazenda pesquisar sobre o período de armazenamento da jabuticaba com diferentes
embalagens em diferentes temperaturas de armazenamento pós-colheita”. 

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