Qualidade de vida na melhor idade

Trabalhos manuais na terceira idade podem trazer benefícios como ocupação da mente e melhorar o raciocínio

Postado em: 01-10-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Trabalhos manuais na terceira idade podem trazer benefícios como ocupação da mente e melhorar o raciocínio

Igor Caldas

O Dia Internacional do Idoso, comemorado hoje, é um momento para se lembrar de que chegar na melhor idade pode ser muito satisfatório. No entanto, para que isso seja possível, a qualidade de vida e integração social é fundamental. De 2012 a 2017, o número de pessoas com mais de 60 anos no país subiu 18%, alcançando 30,2 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só em Goiás a população idosa ultrapassa 8%.

Para prevenir problemas de saúde, os idosos devem fazer prática regular de exercícios físicos e terem uma vida social ativa, essencial para prevenir a depressão, muito comum nessa fase da vida.

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A Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) tem um trabalho voltado exclusivamente para a melhoria da qualidade de vida da terceira idade. O apoio ao idoso, com mais de 60 anos, é oferecido em quatro unidades: Centro de Idosos Sagrada Família, Vila Vida, Espaço Bem Viver I e Espaço Bem Viver II. As unidades atenderam de janeiro a agosto de 2019 mais de 2.300 idosos nas seguintes modalidades: Instituição de Longa Permanência, Centro Dia, Casa Lar e Centro de Convivência.

De forma gratuita, o idoso tem acesso a atendimento odontológico e participam de atividades como palestras, coral, oficina de beleza, hidroginástica, pilates, ginástica laboral, treinamento funcional, aula de dança de salão e coreografia, tardes dançantes e bailes, teatro, roda de conversa e momentos lúdicos, cozinha terapêutica, inclusão digital, sessão de cinema, aulas de inglês, francês e espanhol, grupo psicossocial (trabalho de autoestima). Há ainda um espaço para prática de trabalhos manuais que estimulam a capacidade produtiva e criativa dos idosos.

Uma moradora da Vila Vida que transborda alegria é Isabel Maria de Oliveira, de 79 anos. Há 14 anos morando no espaço, ela brinca que virou artista sem querer pelo número de entrevistas que concedeu neste tempo. Maria virou personagem de um documentário e já participou de muitas entrevistas para a televisão. Ela está feliz por estar passando por mais um Dia Internacional do Idoso. “Aqui, eu virei artista. Sou tratada igual uma rainha”.

Ela explica que mesmo morando sozinha na Vila Vida, se sente livre. “Morava com minhas irmãs, mas não é a mesma liberdade que morar com pai e mãe. Morando aqui eu sou mais livre. Faço minha comida todo dia, estou aprendendo a fazer bordado e do portão para dentro eu ajudo em tudo que precisam”. Maria é muito ativa. Participa da hidroginástica, zumba, pilates, da prática física seca e das atividades de artesanato oferecidas no espaço.

Isabel ainda afirma que não precisa tomar nenhum remédio e sua saúde está ótima, mas apesar de se sentir muito contente vivendo na vila, não esconde a saudades do tempo da juventude. No entanto, não quis detalhar o que faria se tivesse a chance de voltar no tempo. Ela apenas deu gargalhadas ao sonhar com essa possibilidade. “Ai que saudades dos meus 15 anos em Itumbiara. Eu nunca quis casar, mas tinha muitos pretendentes. Eu era muito bonita e sempre tinha muito juízo. Estudava bastante”.

OVG reformula atividades

De acordo com a diretora-geral da OVG, Adryanna Melo Caiado, houve uma reorganização da estrutura das unidades no primeiro semestre deste ano para incrementar os serviços oferecidos. “Implantamos novas atividades como a Zumba e o cultivo de hortaliças. Ampliamos atividades que estavam restritas a uma unidade, como é o caso da cozinha terapêutica. Também temos projeto de revitalização das nossas unidades para proporcionar um ambiente e atividades adequadas à melhoria das condições de vida dos idosos”. 

O único casal que compartilha uma casinha na Vila Viva são os portugueses Ema e João Corrêa Batista. Eles são casados há 48 anos e possuem a maior horta da unidade. O casal vive no local há cerca de um ano e meio. Eles possuíam um sítio no interior onde cultivavam hortaliças para comerciar em feiras na Capital. “A gente planta de um tudo aqui. Alface, Brócolis, Couve, Abóbora, Coentro, Tomate. Não dá para comer tudo. Então a gente compartilha com nossos vizinhos”, afirma João.

Ema diz que os dois acordam às 6h para começar a cuidar das plantas e admite que é muito benéfico para saúde. “O trabalho com a horta é nossa terapia. O cuidado com as plantas acaba fazendo a gente movimentar o corpo e se exercitar também”. Eles vivem no Brasil há 14 anos, mas até hoje sentem saudades de Portugal. No entanto, não conseguem mais voltar porque a viagem para Europa custa caro. “A gente desistiu de voltar. Não temos dinheiro. Mas tudo bem. As pessoas aqui são muito acolhedoras, estamos muito felizes de ter essa oportunidade”.

Segundo a diretora-geral da OVG, os trabalhos manuais na terceira idade podem trazer diversos benefícios, como ocupação da mente, prática do raciocínio e entretenimento. Além disso, a arte estimula a criatividade, faz o idoso expor suas ideias e melhora suas aptidões. Já as atividades físicas, como hidroginástica e pilates, trazem importantes benefícios para saúde dos idosos e também ajudam na socialização, para que eles se sintam integrados e tenham alegria de viver.

 Moradores usam cultivo de plantas como distração

Glória Maria Carneiro, de 69 anos, vive no Espaço de Convivência Viva Vida há cerca de um ano. Ela afirma que a melhor parte de chegar na melhor idade é o acúmulo da experiência adquirido ao longo da vida. Mas nada disso é satisfatório se não vier acompanhado de saúde e qualidade de vida. “O melhor de tudo é chegar aonde eu cheguei com saúde, graças a Deus. Eu nunca precisei tomar remédio na vida. Sempre me tratei com plantas. Hoje, sou uma das poucas aqui que não toma nenhum medicamento. Meu remédio são minhas plantas”.

Em seu pequeno quintal, Glória planta Alfavaca, Hortelã, pimenta e Ora-pro-nóbis. Glória tem um sentimento fraterno com a comunidade onde mora. Ela divide seus remédios com amigos que estão doentes. “Quando eu vejo que tem algum amigo tossindo muito, ou fraquinho eu preparo chás e xaropes com minhas plantas para tratar deles”.  No entanto, ela afirma que a maior parte deles prefere ligar para farmácia e tomar medicamentos convencionais. “Quem nunca tomou remédio na vida, nunca vai precisar tomar”, afirma.

Sebastião Messias Luiz, 76 anos, é veterano na vila. Em 10 anos, ele viu a muda do pé de canela que plantou na porta de sua casa se transformar em uma árvore frondosa. Ele se mudou para a vila, depois de um tratamento que recebeu por epilepsia em um município no interior do Estado. Apesar de morar sozinho, Sebastião visita sua família em Goiânia com frequência. Quando recebeu a reportagem, ele havia acabado de chegar de sua visita familiar.

Para ele, a melhor fase da sua vida é a que está vivendo no momento. “Passei muita dificuldade na minha vida. Com medo de virar morador de rua, eu trabalhava de domingo a domingo. Hoje, Deus me deu essa oportunidade de vir morar aqui. Eu divido essa experiência com os amigos que fiz aqui. Todo mundo aqui me conhece. Os funcionários que ajudam a gente são maravilhosos e fazem parte dessa família”.

Um café da manhã aberto a todos será oferecido as 8h30 da manhã em todas as unidades em comemoração a esse dia especial para quem adquiriu tanta experiência de vida. A Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) reitera que o trabalho de ajuda dos voluntários é fundamental para alguns idosos que vivem e fazem atividades nas unidades. Alguns deles estão sem contato com a família e se tornam muito carentes. Uma simples conversa pode surtir mais efeito que qualquer remédio. 

  

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