Diferentes religiões enxergam a morte de forma distinta

Feriado dedicado aos mortos é visto de diferentes maneiras por religiões distintas. Prefeitura elabora cronograma de programação em cemitérios municipais da Capital - Foto: Wesley Costa

Postado em: 02-11-2019 às 06h00
Por: Leandro de Castro Oliveira
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Feriado dedicado aos mortos é visto de diferentes maneiras por religiões distintas. Prefeitura elabora cronograma de programação em cemitérios municipais da Capital - Foto: Wesley Costa

Higor Santana*

É como diz o ditado, a única certeza que se pode ter na vida, é a morte. Mas a forma como esse acontecimento é encarado pelas pessoas, se distingue de acordo com a crença e religião de cada um. Alguns acreditam que após a morte, a alma é arrebatada, outros, crêem na ressurreição ou volta à terra em outro corpo. Já para outros, a partida deste mundo significa simplesmente o fim da vida.

Neste fim de semana, precisamente no sábado 2 de novembro, é celebrado o Dia de Finados. Mas, se engana quem acha que o dia dos mortos, como é popularmente conhecido o feriado, é aceito por todos.  A reportagem do jornal O Hoje analisou pontos de vista de diferentes religiões sobre como a morte é encarada por seus respectivos fiéis.

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Para o Dom Leonardo, padre da paróquia de Santa Edwiges, os católicos encaram a morte como o caminhar ao encontro da eternidade. Segundo ele, a vida não é retirada, mas sim transformada. “Os grandes homens e mulheres de fé contemplaram muito essa realidade e por isso, ansiavam pela eternidade. Eles caminhavam ao encontro da morte de maneira tranquila e serena”, explica. 

Ainda segundo o religioso, o céu e o inferno não são lugares geográficos, mas sim, estados. Sendo assim, o céu é a participação plena de Deus, enquanto o inferno é o distanciamento. “É como se o inferno significasse não participar mais do amor de Deus. Até gostaríamos de ser amados, mas agora não há mais essa possibilidade. O dia de finados não se trata de um feriado qualquer, mas de uma oportunidade de rezarmos  pelos entes queridos que buscam a plenitude da vida diante da face de Deus”, afirma o religioso

Já para o pastor cristão evangélico, Warlen Santana, o feriado de dia de finados não é uma data tão especial para os evangélicos quanto para os católicos. Segundo ele, a vida tem que continuar mesmo após perdas dolorosas. “Por nós, nem existiria feriado, pois ali no cemitério, sabemos que não tem mais nada. Nem o corpo não se mantém pois o tempo decompõe tudo. Mas tudo deve ser respeitado. Cada um tem a sua crença e modo de pensar”, disse.

Warlen explica que para o cristianismo, a morte é fenômeno natural  que acontece apenas uma vez. Ao morrer, o corpo é separado do espírito e o que é matéria vira pó, enquanto o espírito volta para Deus. “O corpo é uma matéria e quando a gente morre, essa matéria se desfaz. Já a nossa alma se mantêm em um lugar de repouso em que cristo nos reservou. Ela se mantém ali nesse lugar de descanso. Quando cristo voltar, ele buscará os mortos, assim os mortos ressuscitarão”, afirma.

Embora seja difícil se separar de um ente querido, para os evangélicos a morte não significa perder, mas ganhar. Warlen afirma ainda que esse fenômeno não significa um fim para as pessoas, pois no entendimento cristão, no céu não há mais dor ou lágrimas. Para ele, morrer encerra a participação das pessoas neste mundo de choro e decepção.

Espiritismo

De acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB), todos nós viemos do plano espiritual e, para o plano espiritual, voltaremos. No espiritismo, a morte não existe. Ela é apenas um passaporte para a verdadeira vida. “Como espíritos imortais que somos, a grande surpresa que temos é que, ao atravessar esse frontal, nos deparamos com a própria vida”, explica o presidente da FEB, Geraldo Campetti Sobrinho. 

Ainda nos conceitos da religião, uma das doutrinas espíritas fundamentais é a reencarnação, ou seja, a volta do espírito em outro corpo físico, em um novo contexto, em uma nova família e até mesmo em outro país. Segundo o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, o materializador do espiritismo, a reencarnação é uma necessidade para evoluir. Para passar por provas e seguir em frente no caminho evolutivo. 

“Se não fosse a reencarnação, não haveria justiça de Deus. Como justificar desigualdades? Será que Deus privilegia um e prejudica o outro? As experiências que atravessamos são decorrentes das nossas necessidades espíritas para a evolução. Deus jamais colocaria cargas pesadas em ombros fracos”, completa Campetti.

Para os estudiosos da doutrina espírita, o dia de finados é um dia comum, uma vez que compreendem que as homenagens aos entes queridos podem ser prestadas a qualquer momento ou em qualquer lugar. “Por isso, o dia de finados não é mais importante, para os desencarnados, do que outros dias. A diferença entre o dia de finados e os demais dias é que, naquele, mais pessoas chamam os Espíritos pelos pensamentos”, explica Christiano Torchi, no livro Espiritismo Passo a Passo com Kardec.

Ateísmo

Em entrevista a um jornal local de Brasília, o filósofo e professor da Universidade de Brasília (UNB), Wilton Barroso Filho, afirma que a morte pode ter diversos significados. “A gente morre várias vezes na vida. Morre na infância, quando vira adolescente, e na adolescência, quando vira adulto. Morre para uma fase da vida quando atingimos determinadas idades, e a gente também morre para um tipo de vida quando faz vestibular”, disse.

Ainda que haja a tentativa de buscar significados abstratos, para o professor, que é ateu, a morte em si é simplesmente a vida que acaba. Na visão materialista, a consciência emerge do funcionamento de células, órgãos e tecidos. Quando esse mecanismo cessa, cessa também a consciência. “Pessoalmente, acho que eu não vou pra lugar nenhum. Eu vou virar pó. Aspiro ser cremado e ponto final.” 

No ateísmo, o dia de finados também não é visto como importante, mas  como lucrativo. Ateus alegam que, fiéis gastam seu dinheiro com os mortos, só que, na realidade, quem se beneficia é a Igreja, que enriquece com o comércio religioso dentro e fora da máquina eclesiástica.

Programação para o dia de finados em Goiânia

Na última quarta-feira (30), a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) divulgou a programação para o Dia de Finados que se estende aos quatro cemitérios públicos da capital. Os cemitérios Santana, Parque, Vale da Paz e Jardim da Saudade devem receber cerca de 100 mil visitantes e estarão abertos das 6h às 18h. 

De acordo com o cronograma, no cemitério Santana e Cemitério Vale da Paz, localizado na saída Bela Vista, serão celebrados missas no sábado às 8h, 10h, 14h e 16h. Já no Cemitério Parque, as missas acontecem às 7h, 8h30, 10h, 11h30, 13h, 15h e 17h. Por fim, o Cemitério Jardim da Saudade, localizado na saída para Trindade, as celebrações ocorrem às 8h, 10h e 14h.

Flores mais caras 

Uma pesquisa realizada pelo Procon Goiás na última quinta-feira (31), mostrou que a variação de preço de flores e artigos fúnebres pode chegar à até 316% para o Dia de Finados. De acordo com o órgão, valores de itens como flores e vasos estão entre os que mais oscilam em Goiânia.

No relatório da pesquisa, a maior variação encontrada foi no preço de um vaso, com custo entre R$ 12,00 e R$ 50,00. Ao todo, foram analisadas dez floriculturas localizadas nas proximidades dos cemitérios da capital durante dez dias. A intenção, segundo o Procon, é auxiliar e alertar pessoas que pretendem visitar os cemitérios, a fim de que comparem os preços e economizem na hora compra. 

(Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de cidades Igor Caldas)

 

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