Rastro de insegurança marca GO-020

Moradores da Região Metropolitana relatam acidentes, problemas de infraestrutura e falta de fiscalização na rodovia estadual.

Postado em: 04-11-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Rastro de insegurança marca GO-020
Moradores da Região Metropolitana relatam acidentes, problemas de infraestrutura e falta de fiscalização na rodovia estadual.

Igor Caldas

A rodovia GO-020, saída para Bela Vista, corta a região Metropolitana de Goiânia e tem apresentado avarias que comprometem a segurança de motoristas. Proteções metálicas danificadas por acidentes não tem sido substituídas e os metais retorcidos escancaram a falta de cuidado com as rodovias no Estado. A rodovia é mais perigosa nas proximidades da Capital. Este ano, mais da metade dos acidentes aconteceram entre o quilômetro 0 e 19 da via.

Moradores da Região Metropolitana relatam que acidentes são regulares. De acordo com dados do Comando de Policiamento Rodoviário da Polícia Militar, este ano houveram 108 acidentes de trânsito com 112 vítimas lesionadas na GO-020. Foram 43 vítimas lesionadas e três mortes em 2019. O número de acidentes sofreu uma redução de 21,2% em relação ao ano anterior, mas ainda assim  preocupa a população. Cinco pessoas perderam suas vidas na estrada em 2018.

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No trajeto entre Goiânia até a rodovia GO-536, que leva ao município de Senador Canedo, pode ser observado várias estruturas danificadas e buracos em alguns  retornos. Moradores da Região Metropolitana da Capital, que viajam pela rodovia para trabalhar diariamente afirmam que  o descaso com a rodovia não é de hoje. Todas as pessoas ouvidas pela reportagem relataram que já viram acidentes na pista. 

A equipe do jornal O Hoje averiguou proteções metálicas e de concreto quebradas na GO-020 entre o quilômetro 0 até a entrada que dá acesso ao município de Bela Vista, próximo ao quilômetro 10 da rodovia. No entanto, de acordo com moradores da Região Metropolitana de Goiânia, os estragos se prolongam pela estrada. Pablo Roniery Barbosa mora no trevo de Roselândia, em Bela Vista e afirma que já viu muitos acidentes na pista. Ele trabalha como funcionário público na Capital.

De acordo com Pablo, existem pontos onde os acidentes acontecem com maior regularidade. Um desses locais, está entre o quilômetro 30 e 35 da GO-020. “São justamente nestes pontos onde as proteções metálicas são quebradas e ficam sem substituições que os acidentes acontecem. Próximo ao quilômetro 30, já vi dois acidentes depois da duplicação. No primeiro, eles recolocaram a proteção. Depois do segundo, eles simplesmente desparafusaram o aparato de segurança que está largado no chão”. 

Pablo cita a falta de radares como um problema grave.“Falta fiscalização. A estrada tem muitas baixadas e possui poucos radares de velocidade. A gente sabe como é o brasileiro, se não doer no bolso, o motorista não tem consciência de diminuir velocidade. Vai pesar o pé no pedal, mas lá na frente pode ficar com o carro descontrolado em alguma curva perigosa”. Ele ainda diz que alguns “pardais” instalados na rodovia permanecem desligados. “muitos motoristas sabem que alguns pardais não funcionam e aceleram”.

Nilva Lemes da Silva pega a estrada todos os dias para trabalhar. Sua família é proprietária de um armazém localizado no quilômetro 27,5 da GO-020. Ela afirma que já presenciou muitos acidentes no caminho para o trabalho. Segundo os moradores de Bela Vista ouvidos pela reportagem, um dos pontos mais críticos está na ponte sobre o Rio Caldas, próximo ao quilômetro 30 da GO-020. 

Pablo afirma que já viu dois acidentes este ano. “Tem uma baixada que acaba na ponte e os carros chegam em alta velocidade. E existe um problema antigo lá: O batente da ponte está desnivelado com o asfalto da rodovia e se o carro estiver muito rápido pode perder o controle. Esse ano eu já vi dois acidentes lá. Em um deles, o carro quebrou.  No outro, capotou”.

O funcionário público lista outros pontos mais críticos, entre Goiânia e Bela Vista, onde motoristas cometem infração de excesso de velocidade por causa das baixadas. A primeira delas acaba em frente ao Cemitério Municipal Vale da Paz, próximo ao quilômetro 10 da rodovia. A outra citada, fica próxima ao quilômetro 17, no Distrito Jardim Barcelona, em Bela Vista. A última baixada perigosa citada por Pablo fica próximo ao quilômetro 56 e acaba na Granja Josedith.

Iluminação

De acordo com Pablo, outro  aparato que permanece desligado são as luzes da rodovia. Ele afirma que à noite, o caminho até o município de Bela Vista é feito na escuridão. “Existem vários povoados que ficam à beira da rodovia, muitas pessoas que pegam o transporte coletivo no período noturno tem que descer no ponto de parada no escuro porque eles não ligam as luzes da estrada. Fica muito perigoso para quem pega ônibus ”, constata.

Nilva Lemes afirma que a única vez em que a iluminação dos postes de luz da GO-020 foram ligadas foi no dia da inauguração da duplicação da rodovia. A duplicação da GO-020, trecho do Autódromo de Goiânia  – Bela Vista até o trevo de acesso a Piracanjuba foi inaugurada em abril de 2017. A obra tem 43,4 quilômetros de extensão e todo o percurso deveria ser iluminado, com ciclovias acessíveis, defensas metálicas e sinalização horizontal e vertical.

Ciclistas 

Outro problema relatado pelo morador de Bela Vista é a questão dos ciclistas preferirem usar o acostamento da pista a ciclovia construída na rodovia. A equipe do jornal O Hoje já havia feito uma reportagem sobre esse fato em fevereiro deste ano. Na época, o motivo alegado pelos ciclistas circularem no acostamento era a falta de manutenção na pista da ciclovia. 

No entanto, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) já fez reparos na ciclovia e realizou a poda adjacente à pista recentemente. Pablo afirma que a relutância dos cilcistas de alta performance – que usam bicicletas com pneus mais finos – em usar a ciclovia está na sujeira da pista. “Eles afirmam que a ciclovia sempre está cheia de pedras e qualquer obstáculo pode representar uma queda para quem usa bicicleta tipo speed”, o funcionário sugere que o Estado use uma máquina conhecida como “vassourão” para limpar a pista regularmente. 

A reportagem tentou falar com a Goinfra sobre os problemas relatados na GO-020, mas não conseguiu resposta até a conclusão da reportagem. 

Excesso de velocidade é infração mais cometida pelos goianos 

De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), entre as multas aplicadas pelo órgão no primeiro semestre de 2019, quase metade das infrações cometidas no Estado foram por excesso de velocidade. Ao todo foram 47% das multas aplicadas foram por transitar em velocidade não permitida na via.

Dirigir nas vias com excesso de até 20% da velocidade permitida foi a infração mais cometida no ranking. A aplicação desta multa representou 40% dos autuados no Estado, correspondendo a mais de 680 mil infrações. Foram quase 118 mil multas aplicadas contra motoristas que dirigiam em velocidade superior a máxima permitida com excesso entre 20% e 50%, representando um total de 7% das multas.

“Indústria de multas”

Nas rodovias federais, o desligamento de radares como promessa do governo Jair Bolsonaro de “acabar com a indústria de multas no país” resultou em aumento de mortes nas estradas. A maior parte dos equipamentos fixos em operação em janeiro nas vias foram desativados desde março deste ano. 

Acidentes graves, onde há registro de mortos ou feridos  aumentaram nos sete primeiros meses deste ano pela primeira vez desde 2011, quando houve o comprometimento do Brasil a adotar metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas(ONU) em prol de tornar o trânsito mais seguro no país. (Especial para O Hoje) 

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